O Nascimento de Vénus (pormenor), Botticelli, 1483 |
Quando o Sol encoberto vai mostrando |
Luís de Camões, Rimas,
edição de Álvaro J. da Costa Pimpão, Coimbra, Almedina, 1994
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1 cuidosa
(verso 7) – meditativa; pensativa.
2
isentos (verso 10) – puros.
3 vã
(verso 14) – vazia.
Apresente, de forma bem estruturada, as
suas respostas aos itens que se seguem.
1. Explicite a relação que se pode
estabelecer entre o sujeito poético e o cenário físico.
2. Refira um dos valores expressivos da
repetição de «aqui», «ali» e «agora» (versos 5-9 e 11-12).
3. Apresente quatro traços do retrato da
figura feminina.
4. Comente o sentido que a conclusão do
soneto produz (versos 13-14).
Explicitação
de cenários de resposta:
1.
É importante a relação entre o sujeito poético e o cenário físico na construção
do sentido do soneto. Assim, o «Sol encoberto» (v. 1) e a «luz quieta e
duvidosa» (v. 2) criam um ambiente propício ao devaneio e à rememoração,
naquela «praia» (v. 3) que se torna «deleitosa» (v. 3) por ser o espaço em que
o «eu» se move, «imaginando» a sua «inimiga» (v. 4).
2.
A repetição de «aqui», «ali» e «agora» (vv. 5-9 e 11-12) tem, entre outros, os
seguintes valores expressivos:
− criar uma atmosfera de grande tensão
subjetiva, uma vez que está associada ao processo de rememoração, de
reconstrução mental das imagens da sua «inimiga» (v. 4) por parte do sujeito
poético;
− acentuar a diversidade das imagens que
representam a figura feminina;
− realçar o modo de composição do retrato
por traços contrastados par a par (vv. 5 e 6; vv. 6 e7; v. 8; vv. 9 e 11; v.
12);
− imprimir aos versos um ritmo cadenciado.
3.
Traços do retrato que no poema é feito da «minha inimiga» (v. 4): a beleza
(«face tão fermosa», v. 6); a alegria («alegre», v. 7); a melancolia
(«cuidosa», v. 7); a candura («olhos tão isentos», v. 10); a instabilidade (quer
«movida», ou inquieta, quer «segura», ou calma, v. 11; ora triste, ora risonha,
v. 12). De notar também os gestos graciosos, vivos e espontâneos («os cabelos
concertando» – v. 5; «a mão na face» – v. 6).
4.
Os dois versos finais constituem uma meditação sobre a distância intransponível
entre a ilusão que a memória é capaz de criar e a realidade da vida presente –
sem perspetiva de mudança, porque «sempre dura» (v. 14) – do sujeito solitário,
reduzido às suas imagens ou «pensamentos» (v. 13).
Fonte: Exame Nacional do Ensino Secundário n.º 734 - Prova Escrita de
Literatura Portuguesa 10.º e 11.º Anos de Escolaridade (Decreto-Lei n.º
74/2004, de 26 de março). Lisboa, Governo de Portugal – Ministério da Educação e Ciência /GAVE-Gabinete de
Avaliação Educacional, 2012, 1.ª Fase
CARREIRO, José. “Quando o Sol encoberto vai mostrando, Camões”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 28-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/quando-o-sol-encoberto-vai-mostrando.html
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