Lisboa
com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores,
Lisboa com suas casas
De várias cores...
À força de diferente, isto é monótono,
Como à força de sentir, fico só a pensar.
Se, de noite, deitado mas desperto
Na lucidez inútil de não poder dormir,
Quero imaginar qualquer coisa
E surge sempre outra (porque há sono,
E, porque há sono, um bocado de sonho),
Quero alongar a vista com que imagino
Por grandes palmares fantásticos,
Mas não vejo mais,
Contra uma espécie de lado de dentro de pálpebras,
Que Lisboa com suas casas
De várias cores.
Sorrio, porque, aqui, deitado, é outra coisa.
À força de monótono, é diferente.
E, à força de ser eu, durmo e esqueço que existo.
Fica só, sem mim, que esqueci porque durmo,
Lisboa com suas casas
De várias cores.
11/5/1934
Álvaro de
Campos, Poesia, edição de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Assírio &
Alvim, 2002, pp. 491-492.
Questionário sobre o
poema “Lisboa com suas casas”, de Álvaro de Campos
1. Relacione o conteúdo do verso
7 com o dos primeiros seis versos do poema.
2. Na segunda estrofe, o
sujeito poético manifesta o desejo de sonhar algo diferente da realidade.
Explicite o contexto em que ocorre a manifestação
desse desejo, bem como a razão pela qual o sujeito poético não o consegue
concretizar.
3. Tanto no verso 8 como no
verso 22, são enunciados processos de transformação no sujeito poético, ambos
associados a uma ideia de intensificação.
Explicite esses processos de transformação.
4. Selecione a opção de
resposta adequada para completar a afirmação.
De entre os vários processos que contribuem para
imprimir ritmo ao poema, destaca-se a presença, em simultâneo,
(A) de um esquema rimático
fixo em todas as estrofes e da repetição de palavras em final de verso.
(B) da alternância entre
versos longos e versos curtos e de anástrofes frequentes.
(C) de um esquema rimático
fixo em todas as estrofes e de anástrofes frequentes.
(D) da alternância entre
versos longos e versos curtos e da repetição de palavras em final de verso.
Critérios específicos de classificação
1. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou
outros igualmente relevantes:
−
a repetição, quase obsessiva, da representação de Lisboa com as suas casas de
várias cores (vv. 1 a 6) leva o sujeito poético a associar o adjetivo
«diferente» (v. 7) à paisagem que perceciona;
−
a constância/persistência dessa regularidade conduz, todavia, à ideia expressa
pelo adjetivo «monótono» (v. 7), evidenciando um sentimento de tédio.
2. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou
outros igualmente relevantes:
−
o desejo do sujeito poético ocorre na solidão insone da noite, momento de
lucidez propício ao pensamento e ao devaneio/sonho;
−
o sujeito poético não consegue concretizar o seu desejo, pois a realidade
prevalece sobre o sonho, como se a imagem de «Lisboa com suas casas/De várias
cores» estivesse gravada no seu íntimo («Contra uma espécie de lado de dentro
de pálpebras» ‒ v. 17).
3. Devem ser abordados os tópicos seguintes, ou
outros igualmente relevantes:
−
no verso 8, a intensificação das emoções («À força de sentir») conduz ao
pensamento / à intelectualização das emoções / à racionalização;
−
no verso 22, a intensificação da consciência («à força de ser eu») conduz à
inconsciência / à não consciência de si / à anulação do «eu».
4. Chave: (D)
Fonte: Exame Final
Nacional de Português n.º 639 – 12.º Ano de Escolaridade (Decreto-Lei n.º
55/2018, de 6 de julho | Decreto-Lei n.º 27-B/2022, de 23 de março). Portugal, IAVE– Instituto de Avaliação Educativa, I.P.,
2022, Época Especial
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- In: Lusofonia, https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/PT/literatura-portuguesa/fernando_pessoa, 2021 (3.ª edição)
- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
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