Wanda Rossi de Carvalho |
Hoje recebi um poema.
Hoje
falarei sobre a Sra Wanda Rossi de Carvalho. Sei que não posso falar de
pacientes com os nomes reais, mas não comentarei sobre a doença dela. Ela
merece o crédito de sua história.
Dona
Wanda tem 94 anos. É uma poetisa. Fez o hino de Bandeirantes (uma cidade aqui
do lado de Londrina). Presidente da União Brasileira de Trovadores - seção
Bandeirantes.
A cada
6 meses comparece no consultório. Reclama da demora (independente se estou
atrasado ou não). Chama-me de bravo (por mais que me esforce para não ser, pelo
menos não com ela…). Fala que está muito idosa, mas chega andando, a cabeça
ótima. Sempre me entrega um poema novo. Na hora de ir embora digo que o
retorno é em 6 meses, e ela diz que vai estar morta até lá, porque está muito velhinha.
Isso se repete já faz 6 anos.
Desta
vez deu-me um poema sobre o natal, mesmo sendo na época em que estamos. Isso
porque acha que não me verá mais. Igual o que sempre faz desde que a conheço…
Presente de Natal
Sonhei
dar-te um presente,
Mas
não sei o que darei…
Tens
riqueza, tens amigos,
E
até mesmo o que eu não sei.
Lembrei
de dar-te a saudade
Mas
com certeza já a tens,
Pensei
na felicidade
Mas
não mais a encontrei!
À
venda estava a piedade
Mas
esta sei que já tens…
E
se eu te desse a verdade
Presente
de grande poder.
São
todos eles tão belos…
Se
guardados com carinho,
Mesmo
grande ou pequenino
Faz
do teu sonho um menino!…
Um
presente nobre me ocorre:
E
se eu te desse o amor?
Dentro
deles guardarias
Tudo
bem que a vida for!!!
Obrigado
pelo poema, dona Wanda. Até ao próximo semestre.
[Nota: a poetisa Wanda
Rossi de Carvalho faleceu em 04-10-2014]
Aprendendo a Morrer com Mario Quintana
Continuo a insistir: a poesia é um dos poucos redutos onde podemos aprender um pouco da arte de morrer. Não isso que vemos na TV, as mortes cenográficas, dolorosas, dramáticas. Nem a morte que vemos nos hospitais, os abandonos nos quartos, o lidar com o corpo vivo porém morto à vida num leito de UTI.
Falo de preparação, não como uma espera ansiosa mas que tematiza o morrer como algo que expressa também o meu viver para que ele seja mais intenso, porque sabemos agora focar o existente como seu real valor de singularidade e beleza. E quem nos ajuda a (re)encontrar esse valor é a percepção de que a morte faz parte do viver.
Hoje falaremos de Mario Quintana. Para mim este poeta gaucho tem a virtude de tornar pesada uma pena e leve um cofre de banco. Mostra sutilezas e complexidades ocultas naquilo que vemos todos os dias e que aprendemos a não "ver" mais. Mario Quintana extrai ouro daquilo que nos acostumamos a chamar de banalidade.
Quintana falou muito sobre a morte, fez inclusive piada dela ao nos lembrar que “A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos”. Então, não temos mais que nos preocupar com o fato dos lençóis ficarem sujos com a terra do nosso calçado, aliás, talvez a morte seja isso mesmo, a ausência total das preocupações e, por isso, exercício pleno de uma liberdade que não se exercita.
Quintana pode ser um ótimo companheiro de jornada se quisermos discutir a morte. Recomendo essa discussão a todos e, particularmente, aos trabalhadores de saúde, já que eles, muito provavelmente, cuidarão do nosso morrer. A questão é: como estão cuidando hoje em dia? Minha resposta é afirmar que o cuidar não pode estar reduzido a mera monitoração de sinais clínicos, de um corpo reduzido a suas funções biológicas. As pessoas à beira da morte perdem a singularidade, se transformam em massas biológicas à beira da dissolução. Nós somos muito mais do que isso!
O morrer grita pelo exercício de outras necessidades: expressa os quereres especialmente reservados para o fim da vida, pela simples razão que são percebidas como sinais da despedida do mundo e de tudo que amamos. Assim, quando formos falar de morte nos hospitais, por que não pensarmos em Mario Quintana? Vejam por exemplo este soneto:
Minha Morte Nasceu…
(Mário Quintana para Moysés Vellinho)
(Mário Quintana para Moysés Vellinho)
Minha Morte nasceu quando eu nasci
Despertou, balbuciou, cresceu comigo
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi
Despertou, balbuciou, cresceu comigo
E dançamos de roda ao luar amigo
Na pequenina rua em que vivi
Já não tem aquele jeito antigo
De rir que, ai de mim, também perdi
Mas inda agora a estou sentindo aqui
grave e boa a escutar o que lhe digo
De rir que, ai de mim, também perdi
Mas inda agora a estou sentindo aqui
grave e boa a escutar o que lhe digo
Tu que és minha doce prometida
Nem sei quando serão nossas bodas
Se hoje mesmo… ou no fim de longa vida
Nem sei quando serão nossas bodas
Se hoje mesmo… ou no fim de longa vida
E as horas lá se vão loucas ou tristes
Mas é tão bom em meio as horas todas
Pensar em ti, saber que tu existes
Mas é tão bom em meio as horas todas
Pensar em ti, saber que tu existes
(Fonte: QUINTANA, Mario. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; 2005)
Quanta leveza para um tema costumeiramente denso e amedrontador… a morte como um ente que nos acompanha desde o nascimento… como uma namorada de infância com quem um dia, cedo ou tarde, nos casaremos. Já utilizei este poema para estimular trabalhadores de saúde em rodas para tematizarem as suas experiências pessoais com a morte, suas primeiras lembranças. O resultado foi muito bom. As pessoas trouxeram recordações, expressaram lutos mal elaborados, produziram ligações com as experiências de morte vividas no cotidiano.
Como todo tabu, depois que percebemos que não haverá necessariamente punições por quebrá-lo, a porta se escancara e as pessoas meio que perdem o medo, pelo menos de falar, e percebem que o medo da morte e do morrer que as deixa tão vulneráveis, na verdade é o medo de todos. Assim, nos tornamos fortes quando percebemos que o medo é algo que pertence ao mundo, elemento que tipifica a condição humana.
Mas Quintana tem mais a nos dizer:
Este quarto
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto…
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto…
Que me importa este quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! Imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois só o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim…
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim…
(Fonte: QUINTANA, Mario. Poesia Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar; 2005)
Aqui, Mario Quintana apresenta a percepção da morte por quem está morrendo ou, pelo menos, uma idealização do que ela deveria ser. O olhar do moribundo parece expressar esperança nas promessas de um céu que significa descanso, o fim das dores e sofrimento. Compara a morte a este mesmo céu que a semelhança do dia, cede espaço para a noite inexorável, um manto que nos cobre e nos livra da ansiedade de saber que é o fim. Novamente, uma bela metáfora da morte que nos afasta das representações terríveis e dolorosas.
A partir dessa leitura as pessoas podem ser estimuladas a falar das experiências que vivem nos hospitais, no cotidiano do trabalho, podem compartilhar os sentidos que tem dado a morte, as percepções do que seriam a mortes dolorosas (física e psiquicamente) e como poderiam atuar para minimizar a dor e vulnerabilidade de pacientes e familiares.
Vamos terminando por aqui, encerrando da melhor maneira possível, claro, com Mario Quintana:
INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio…
E a luz da estrela no fim!"
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce – uma estrela,
Quando se morre – uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio…
E a luz da estrela no fim!"
http://redehumanizasus.net/6987-aprendendo-a-morrer-com-mario-quintana/#sthash.93dGk4Ga.dpuf
¿Por qué necesitamos poesía en cuidados paliativos?
Objetivo: Practicar la poesía: La necesidad de darle voz a la
experiencia del final de la vida es compartida por pacientes, familias,
cuidadores y profesionales de la salud así como por la comunidad.
Los
paliativistas necesitamos aprender de la poesía el poder de las palabras, los
símbolos y las metáforas para capturar o transformar la experiencia de
enfermedad de los pacientes.
Público
objetivo: Numerosos profesionales
de la salud se han acercado a la poesía, para rescatar de ella el ancestral
contenido curativo e imaginativo que esconde cada una de nuestras palabras.
Relevancia
del tema para el congreso: Es un
tema original y revelador que indaga nuestra esencia en conexión con el
lenguaje. La capacidad sanadora de la poesía nos permite desarrollar la
conexión empática o la presencia compasiva. Sanadora en sí misma, la poesía
actúa también sanando al sanador a causa del viejo rol natural que tiene el
arte. Este género envuelve un mundo de creatividad e imaginación que conlleva
en sí el fruto de nuestro deseo humano por descubrir el sentido del mundo y de
nuestras vidas.
Relevancia
del tema para la región: El
acercamiento al género literario nos dará herramientas para nuestra propia
sanación, para volvernos en el instante preciso a la requerida humanidad y al
íntimo acercamiento hacia el que sufre.
Resumen: ¿Por qué necesitamos poetas en Cuidados Paliativos?
Porque existen dos tipos de poetas: los que publican y los inéditos. Los que
publican cantan el canto del espíritu humano. Los inéditos son el canto que
cantan los primeros. Ambos son necesarios en Cuidados paliativos.
Se
trabajará durante la sesión el tema de la práctica de la poesía con la premisa
de que “la poesía no es de quien la escribe sino de quien la necesita”.
Se intentará generar un ambiente de alto contenido espiritual: leyendo, escribiendo, discutiendo e
internalizando poesía se puede encontrar un medio de autoconocimiento, en
especial cuando es usado en el trabajo en equipo.
Los
paliativistas necesitamos aprender de la poesía el poder de las palabras, los
símbolos y las metáforas para capturar o transformar la experiencia de
enfermedad de los pacientes.
Se
explorará con lecturas de fragmentos de poetas latinoamericanos -Olga Orozco,
Jaime Sabines, Luis Cardoza y Aragón, Pablo Neruda, Jorge Boccanera, Hugo
Padeletti, etc.- acompañados de imágenes, la aptitud del hombre para permanecer
en medio de la incertidumbre, del misterio y de las dudas, sin irritarse y sin
un ansia exacerbada por llegar al hecho y la razón. Es decir, la sabiduría de
tolerar no saber. Renuncia que por cierto no es abandono sino, por el
contrario, perseverancia en la búsqueda. Pero también implica humildad, entrega
al otro y desprendimiento material e intelectual. En otros términos, es esta
capacidad la que da genera la empatía, el colocarse en el lugar del otro, el
considerar la función decodificadora del receptor de acuerdo a sus propios
médios.
Vilma Tripodoro, "¿Por qué necesitamos poesía en cuidados paliativos?" IX Congreso Latinoamericano de Cuidados Paliativos, Santiago,
Chile, 2018-04-12, http://cuidadospaliativos.org/ix-congreso/encuentros-con-expertos/
Why we need more poetry in palliative care
Abstract
Objectives: Although
many well-known poems consider illness, loss and bereavement, medicine tends to
view poetry more as an extracurricular than as a mainstream pursuit. Within
palliative care, however, there has been a long-standing interest in how poetry
may help patients and health professionals find meaning, solace and enjoyment.
The objective of this paper is to identify the different ways in which poetry
has been used in palliative care and reflect on their further potential for
education, practice and research.
Methods: A
narrative review approach was used, drawing on searches of the academic
literature through Medline and on professional, policy and poetry websites to
identify themes for using poetry in palliative care.
Results: I
identified four themes for using poetry in palliative care. These concerned (1)
leadership, (2) developing organisational culture, (3) the training of health
professionals and (4) the support of people with serious illness or nearing the
end of life. The academic literature was mostly made up of practitioner
perspectives, case examples or conceptual pieces on poetry therapy. Patients’
accounts were rare but suggested poetry can help some people express powerful
thoughts and emotions, create something new and feel part of a community.
Conclusion: Poetry
is one way in which many people, including patients and palliative care
professionals, may seek meaning from and make sense of serious illnesses and
losses towards the end of life. It may have untapped potential for developing
person-centred organisations, training health professionals, supporting
patients and for promoting public engagement in palliative care.
Elizabeth A. Davies, "Why we need more poetry in palliative care".
“Inscrição”, José M. A. Carreiro, Chuva de Época, Ponta Delgada, 2005
“Viagem na Família”, José M. A. Carreiro, Folha de Poesia, 21-02-2007
“A médica que prescreve poesia na lida diária com a morte”, Publicado
em Ex-alunos, Gente da USP, Perfil, USP
Online Destaque, por Redação em 9 de maio de 2012
Prescrição de
Poesia, blogue de Claudia Quintana
“Unos poemas Paliativos, simples y algo educativos”, Eduardo
Bruera. V Congreso Latinoamericano de
Cuidados Paliativos 15-18 de Marzo Buenos Aires, Argentina