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Photographer: Laura Dark
Headpieces: Miss G Designs
Makeup/Models: Helena Troy, Michael Pottymouth Gray, and Manzin.ver: “Silver Lining” SERIES: http://www.darkbeautymag.com/2014/12/laura-dark-silver-lining/
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SAUDADES PAGÃS
I
Visões! sonhos antigos!
Quando a Terra,
Na inocência primeira de seus anos,
Entre flores dormia... e era seu berço
O seio de mil deuses! Quando a vida
No coração dos homens sem esforço,
Se abria como um lótus, todo cheio
Dos raios do luar e dos segredos
Do vaporoso espírito das noites!
Quando um tronco era peito comovido,
E a montanha um Áugur, e a rocha oráculo:
E não se achava um só bago de areia
Que não estremecesse e não sentisse
Agitar-se-lhe dentro a alma confusa
Quando os Orfeus passavam, silenciosos,
Por entre os arvoredos, meditando!
Saía então da Terra um grande espírito:
Havia em tudo uma expressão profunda:
Nem era muda a vastidão do mundo.
Como um canto que fere as cordas todas
Duma harpa sonora, uma mesma alma
Através do Universo ia acordando,
Em peito, árvore, pedra, e céu e onda,
As mil notas, diversas mas cadentes,
Duma mesma harmonia ‑ o hino da Vida!
Era a cidade ideal da Natureza!
Seu povo, a criação; seu templo, o espaço;
E muralhas em volta, circundando-a,
Dum lado ao outro os livres horizontes!
Era a cidade ideal! a Lei eterna
Banhava-a sempre numa aurora imensa,
Quando um povo de deuses, radiante
De mocidade e brilho, caminhava
Por entre as multidões ‑ e o solo heroico,
Teu solo sacrossanto, ó Grécia antiga,
Como um sublime palco, sob os passos
Dos atores divinos ressoava!
Ela era então formosa, a Vida! e a Terra,
Noiva de heróis, abria o seu regaço,
Por que os filhos de Alcides, ao passarem
Das longínquas conquistas, lhe lançassem
Como dons nupciais os grandes feitos...
Os feitos dos heróis! E a alma dos deuses,
Oculta dentro deles, murmurava
Por alta noite, entre as visões do sonho,
Confusa profecia! o canto vago
Das legendas futuras...
Epopeias!
Impérios do esplendor! O Olimpo eterno,
Mais alto que o Sinai, não se envolvia
No nevoeiro espesso dos mistérios...
Seus flancos sobre a terra se abaixaram...
O riso dos olímpicos banquetes,
Largo rio de brilho e de harmonias,
Corria desde cima ‑ e em suas margens
Via-se às vezes mergulhar a taça,
E sereno beber, um velho... Homero!
Em baixo, contrafeito e triste, o Sátiro
Rodava em volta ao monte. Homem, acaso,
Filho do chão, talvez, a forma escura
Entrevista nas selvas parecia
Um espião dos deuses. ‑ Invejoso,
E amigo entanto, ele era o rude símbolo
Da ânsia humana, a imortal curiosidade
Que às portas d’oiro eternas espreitava
As palavras secretas... E, por vezes,
Em meio dos banquetes sua face
Aparecia ‑ e o olho vago e triste
Desse monstro infeliz lembrava ao Olimpo
A longa dor da geração dos homens!
Diziam que era o peso das palavras
Ao destino roubadas que o curvava;
E era seu confidente o livre vento.
O rochedo o sabia: e nesses montes
Onde passava a turba gloriosa,
A boca das cavernas, ressoando,
Tinha uma voz profunda. ‑ Ela dizia
À alma turva do homem mil segredos,
Mil perdidas ciências ‑ as origens,
Ocultas sob o véu dos vagos símbolos...
As guerras do princípio... os Elementos,
Titãs perante o céu lutando altivos...
Os combates da Terra e suas glórias...
A tradição dos montes e das feras...
O alfabeto dos ramos na floresta...
O voo da ave e o serpear dos rios ‑
E a harmonia das vozes na montanha
Era a letra do hino, enquanto a música
Sob os dedos de Orfeu se cadenciava!
Ó sopro livre e puro dos desertos!
Ó murmúrios das fontes! que segredos
Ensinava essa voz aos solitários?
O pastor, sacerdote das florestas,
Áugur sagrado pela luz da aurora,
Podia sobre o monte, erguendo a face,
Decifrar os arcanos do Destino
Nos voos da ave de oiro mitológica!
Feriram-te, ave augusta! Seta escura
Varou-te o coração! e aterra ingrata
Pôde beber teu sangue! No teu ninho
Vejo os ovos do abutre! tuas penas
O vento as dispersou! És como um sonho
De que mal há memória ‑ como a nuvem
Que a rajada partiu ‑ e como a lágrima
Dos olhos do cativo, sobre as ondas!
Ergo a face entre os montes e olho ao longe:
É ainda um mar de brilho esse horizonte...
Mas nas vagas serenas já não vejo
Teu seio, como barca de harmonias,
Entre o astros vogando compassado!
Alma virgem do mundo! Vestal santa!
Que sopro te apagou o lume puro
Em tuas aras d’oiro? Claro espírito!
Consciência universal! que sonho estranho
Te enlouqueceu de dor? Entre as florestas,
Quando o vento do inverno bate os ramos,
Há, pelo horror da noite, um choro escuro,
E uma voz dolorosa ao longe ulula...
É Diana, a formosa, a casta, a ingénua,
Ferida, e os pés em sangue pelas urzes,
Que vaga douda e corre pelas selvas
Chamando em vão os deuses foragidos!
IV
Secou-se o ramo d’oiro em mãos de Eneias!
Despovoou-se a terra! Os seus espíritos
Voaram não sei onde! A fonte chora
A viuvez das Náiades! O tronco
Agita no ar os braços descarnados,
A ver se apanha a túnica ligeira
Das perdidas Napeias! Longe, ao longe,
Nos ruídos dos bosques, nos suspiros
Do vento pelos vales, nos murmúrios
Dos rios tortuosos, nas cascatas,
Nas grutas, no rochedo ‑ em tudo, em eco
De saudade indizível se levanta!
Sai do seio da terra uma voz triste,
Longa, profunda... é ela, que lamenta
A orfandade misérrima do mundo,
A morte da alma antiga, essa alma imensa,
Esse brilho extensíssimo!
Inocências!
Puros sonhos da infância do Universo!
Ah! não mais voltareis! um sopro frio
Varreu de sobre a terra as suas flores!
Entre os lábios de Orfeu o canto augusto
Gelou-se e a extrema nota dissipou-se!
A profecia antiga do Destino
Veio a cumprir-se ‑ e os deuses vagabundos
Dum horizonte ao outro, como sombras,
Arrastam os retalhos desse manto
Da velha divindade! A lira eterna
Ainda brilha no céu, mas não tem cantos,
Nem há já quem lhe entenda os santos hinos!
O banquete do Olimpo está deserto...
E a Terra está viúva dos seus deuses!
Viúva? não! um duro cativeiro
Os tem presos na abóbada sombria
Dum cárcere bem frio. Outros, fugidos,
Nas montanhas aéreas do horizonte,
Nas nuvens do sol-posto, passam tristes,
Lançando à terra um longo olhar de mágoa...
Seus corações heroicos estremecem
Quando a voz do leão encadeado
Se ergue e comove o abismo ‑ é digna deles
Essa queixa do forte! Então alongam
Pela face do mar os olhos vagos...
Outro mar de lembranças tumultua
Nos grandes peitos que dilata o orgulho...
E ao reflexo das ondas, toda a noite,
Veem passar os pálidos fantasmas
Da glória antiga e dos antigos feitos!
A alguns o coração ficou-lhes preso
Às duras pedras da cidade ingrata.
Em despeito da afronta, amam os homens...
Uma íntima saudade os traz à noite
Em volta aos muros... vagam como sombras...
E no confuso coro misterioso
Dos rumores noturnos, se escutares,
Hás de ouvir os soluços e o partido
Longo choro dos deuses exilados...
Como os filhos dum povo, que a conquista
Com mão de ferro sacudiu ao longe,
Todos vagam no mundo. A sombra, agora,
A esses corpos de luz é quem os veste!
Seus pés divinos ferem-se nas rochas!
Seus banquetes as feras lhes disputam!
E, em vez de muros de ouro de alto Olimpo,
Suas nobres palavras inspiradas
Mal despertam o eco das pedreiras!
Fundas minas da terra! escuros antros
Das longínquas montanhas solitárias!
Em vosso duro seio houve piedade...
Vossa boca se abriu para saudá-los...
Para saudar os fortes, na desgraça...
E, enquanto os homens surdos recusavam
À miséria dos deuses um asilo,
(Estreito que ele fosse) um lar amigo,
Vós, ó sombrias rochas, vós formastes
Sobre os montes uma ala de gigantes;
E, através das fileiras de granito,
Os príncipes do mundo, os reis caídos,
Passaram no caminho do desterro!
No deserto assentaram seu concílio
Esses que o céu, há pouco, mal continha...
Graves, sua atitude é ainda altiva,
E a majestade antiga está com eles.
Não choram sobre si ‑ em qualquer parte
Aonde habite um Deus é ai um templo ‑
Porém a ingratidão dos homens falsos
Punge-os, que a não concebem: não concebem
Esses filhos do Bem o Mal escuro.
Dir-se-á que expiam o alheio crime;
Tanto os perturba a injustiça humana,
E da afronta, que sofrem, têm piedade...
Seus nobres corações choram: mas, fortes,
Os olhos não o dizem ‑ como auroras,
Alegram o horizonte dos desertos!
Ah! nós, nossas moradas tristes, nossas
Habitações escuras, não, não podem
Por mais tempo ficar em trevas, quando
Essa aurora imortal doura as montanhas!
Quando uma chuva de ouro luminosa,
Trazida pelo vento, vem correndo
Desde os montes sublimes, nossos vales,
Cá em baixo, não podem, tristes, frios,
Ficar estéreis como um seio inerte
De mulher na hora santa dos ardores!
Falam deuses nos ermos... e as cidades
Não hão de ter oráculos? As rochas
Têm génio tutelar... e o lar dos homens,
Como ara ao abandono, há de esfriar-se?
E da memória dos antigos sonhos
Restar apenas sobre as duras lajes
Um punhado de cinzas?
A Alma eterna
Há de voltar ao seio dos ingratos!
Alma jovem de amor e luz! O mundo
Arranca as velhas cãs! rejuvenesce!
Seu gasto coração pasma, sentindo
Um novo sangue que o anima e agita!
Sorri... tenta sorrir... não sei que oráculos
Lhe ensinam a esperança! Anseia a vida...
E nos sinais do céu lê com espanto
Um poema de prósperos destinos!
A memória dos tempos venturosos
De inocência e de amor comove-o, enchendo-lhe
O peito de saudades! cisma e em sonhos
Evoca mil lembranças ‑ céus e fontes,
E os jardins doutros climas, e as legendas
Dos tempos esquecidos, e os sorrisos
Dos amigos da infância...
Eles! são eles,
Cujas imagens, pela vaga noite,
Lhe enchem o sono de visões fantásticas...
Estende os braços para ver se apanha
As impalpáveis formas! pára... escuta...
E as sombras da alvorada nas montanhas,
Já lhe parecem vultos misteriosos
Que o chamam e saúdam... Eram sombras!
Mas o que diz o coração, à noite,
Quando o comove a dor e o isolamento,
Não são sonhos apenas... são presságios!
Sai das cinzas do altar uma luz frouxa...
E os lírios esquecidos dão seu cheiro...
A chama sobre o lar, às vezes, como
Se os génios, invisíveis, assistissem
Ao serão, brilha e agita-se contente,
Enchendo a casa dum clarão fantástico...
São presságios!... Também se escuta à noite
Correr nos ares um cantar suave,
Vago, longínquo, como se os espíritos
Agitassem, passando, a lira antiga...
São vozes precursoras! Quando os deuses
Vêm visitar a habitação dos homens,
Mandam sempre adiante estes oráculos...
Sim, um dia, do meio das florestas,
Há de se erguer a grande voz profética!
Há de soar! e o vento dos desertos,
Das livres solidões filho indomável,
Há de abater o cárcere sombrio!
Eles hão de surgir! Compondo o manto
Da realeza antiga, havemos de vê-los
Na majestade olímpica dos fortes
Descendo os grandes montes! Turba heroica!
E, vestidos de luz, a terra inteira,
Vendo o drama divino, há de saúda-los
Em alta aclamação ‑ teatro imenso
Co’a grande voz dos deuses ecoando!
Antero de Quental, 1864.
Primaveras Românticas, 1872.
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ANTERO E A POESIA DE IDEIAS
Em «Saudades Pagãs» celebra-se, passando do tom nostálgico ao profético, a morte dos deuses, personificada em heróis e criadores antigos (Homero, Orfeu, Diana, Eneias), numa clara mas abreviada inspiração da Légende des Siècles; a visão idílica inicial («Quando a Terra / Na inocência primeira de seus anos, / Entre flores dormia... e era seu berço / o seio de mil deuses!») e já povoada por um anseio cósmico indefinível («Quando um tronco era peito comovido / [...] / E não se achava um só bago de areia / Que não estremecesse e não sentisse / Agitar-se-Ihe dentro a alma confusa») e a voz dos abismos é a possível expressão do mundo («Havia em tudo uma expressão profunda / Nem era muda a vastidão do mundo»), onde o «templo» é o próprio e total «espaço». Mas os deuses desaparecem, tornam-se «sombras», cativas entidades que deixam a terra desprotegida, e sentados à beira da água «então alongam / pela face do mar os olhos vagos...», ou, saudosos, «todos vagam no mundo». De sombras prisioneiras, essas entidades divinas transmudam-se em sonhos, mitos atuantes, forças obscuras mas determinadas, porém ineficazes na sua inoperância forçada pelo tempo na relação com um espaço agora vazio, o espaço da terra. A premonição do futuro é, no entanto, a de uma «luz frouxa» que surge como embrião da força profética que é ainda, neste texto, o retorno dos deuses. A linguagem é já, no entanto, a de uma perda e a de uma busca; a de um espaço desocupado mas onde ecoam as vozes da inquietação e da procura; esse espaço é já a natureza animizada, de vozes cruzadas com cânticos, num entrecruzar baudelairiano de manifestações sensíveis e psíquicas com a noção de um transcendente, mais poético que ético, a dominar a fábula pela força do retorno que as vozes e os coros acentuam.
in Congresso Anteriano Internacional – Actas [14-18 outubro 1991].
Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1993.
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“The Gargoyle And His Quarry, Notre Dame”
John Taylor Arms, 1920
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GÉNESE E TRADIÇÃO DA SAUDADE NO DISCURSO LÍRICO
Maria Manuela Gouveia Delille, no seu estudo “A Recepção Literária de H. Heine no Romantismo Português (De 1844 a 1871)”, relata a presença e a influência de Heine na obra de Antero de Quental, chegando a analisar na lírica de Antero do último período de Coimbra, a forma de tratamento dado ao motivo heiniano dos deuses exilados (Delille, 1984: 197).
A autora no subcapítulo ‘O exílio dos deuses‘ relata o surgimento deste poema em cinco partes, inicialmente intitulado o desterro dos deuses e publicado pela primeira vez no número 92, de 14 de Janeiro de 1865, de o Século XIX, com dedicatória a Anselmo de Andrade. Em 1866, na revista o Instituto (vol. XIII, nº 3, pp. 64-67), surge o poema com o mesmo título, com ligeiras variantes e acrescentamentos.
Mais tarde em 1872, Antero insere na coletânea Primaveras Românticas, com algumas variantes e o novo título de Saudades pagãs, a versão publicada em O Instituto.
Ainda sobre esta longa composição Feliciano Ramos refere “a poesia Saudades pagãs, cheia de movimento, de vida, de amor à terra, e amplamente vivificada pela alegria luminosa e pela cor, contém uma bela profissão de helenismo, e nisto reflete uma atitude renovadora e sadia, diametralmente oposta à feição lúgubre da poesia ultrarromântica” (Ramos, 1933: 133).
Existe, também, um breve comentário de António Sérgio (Sérgio, 1984:249) sobre este poema, a quem os versos de Antero trazem à ideia, por um lado, Leconte de Lisle “no luminoso elogio das divindades gregas” por outro, Victor Hugo e Michelet “na parte profética e na exaltação da vida”. António Sérgio refere o sentimento de hostilidade ao Cristianismo em Leconte de Lisle e Antero, considerando no primeiro como saliente e intensíssimo enquanto que em Antero mal se vislumbra.
Maria Manuela Gouveia Delille, refere o poema Saudades pagãs ser um dos marcos importantes na receção da poesia de Heine em Antero. O motivo dos deuses exilados é um motivo recorrente na lírica e na prosa de Heinrich Heine.
Tal como o título original – O desterro dos deuses ‑ indica, também o longo poema de Antero trata o motivo do exílio dos deuses (Delille, 1984: 200). Apesar de várias analogias com Heine, existem também diferenças muito significativas, nomeadamente o tom declamatório, enfático e profético que Antero deixou representado nos seus versos.
Como exemplos das analogias com Heine poderemos mencionar logo na primeira estrofe a referência à flor de lótus, apaixonada pelos raios de luar, para exprimir o estado ideal de comunhão entre o homem e a natureza nesse mundo antigo.
«(…) Quando a vida
No coração dos homens, sem esforço,
Se abria como um lótus, todo cheio
Dos raios do luar e dos segredos
Do vaporoso espírito das noites!»
A terceira, quarta e quinta partes do poema referem o tempo presente, caracterizado como um tempo onde predomina a tristeza, a escuridão, a solidão e o exílio, predominando nelas o tom elegíaco.
Encontramos ainda outra analogia com Heine na referência à deusa Diana ‑ Die Göttin Diana, que incarna a dor pelo exílio dos deuses pagãos:
«(…) Entre as florestas,
Quando o vento do Inverno bate os ramos,
Há, pelo horror da noite, um choro escuro,
E uma voz dolorosa ao longe ulula…
É Diana, a formosa, a casta, a ingénua,
Ferida, e os pés em sangue das urzes,
Que vaga douda e corre pelas selvas
Chamando em vão os deuses foragidos»
Na quinta parte o poeta faz a descrição da sorte vária dos deuses durante o longo exílio ou cativeiro.
«(…) Outros, fugidos,
Nas montanhas aéreas do horizonte
Nas nuvens do sol posto, passam tristes,
Lançando à terra um olhar de mágoa…»
Estes poemas fazem recordar o poema de Heine Die Götter Griechenlands, em que os deuses se apresentam ao poeta sob a configuração de nuvens brancas e fugidias.
A sexta parte é dirigida para o futuro. Num processo discursivo dialético ‑ depois de ter contraposto ao esplendor luminoso do antigo mundo pagão (primeira e segunda parte) a tristeza e escuridão desértica do presente, onde apesar de tudo os deuses expulsos e refugiados no seio da natureza conservam a sua grandeza e dignidade ‑, o poeta-vate, intérprete dos presságios que se vão avolumando, afirma triunfante o regresso iminente dos deuses e prevê a apoteose imensa que os espera (Cf. Delille, 1984: 203).
No poema de Antero a temática do exílio e regresso dos deuses pagãos parece ser um meio de anunciar a ressurreição das crenças panteístas, o despertar de uma nova vida mítico-religiosa, em que se restabelece a antiga e plena comunhão do ser humano com a natureza.
Este poema, Saudades pagãs, inicialmente intitulado o desterro dos deuses, é um poema onde predomina o tom elegíaco, referindo o tempo presente abundante de tristeza, de solidão e exílio ao mesmo tempo simbolizando um ideal de vida em plena comunhão com a natureza.
Universidade do Minho - Instituto de Letras e Ciências Humanas, dezembro 2008.
A angústia existencial. Figurações do poeta. Diferentes configurações do Ideal.
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