DANÇA DO VENTO
Cruel vento, cruel vento,
ah!, roubador maioral!
Romanceiro
O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e rodopia
e tudo baila em redor!
E diz às flores, bailando:
— Bailai comigo, bailai!
E elas, curvadas, arfando,
começam, débeis, bailando,
e suas folhas, tombando,
uma se esfolha, outra cai,
e o vento as deixa, abalando,
— e lá vai!...
O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e rodopia
e tudo baila em redor!
E diz às altas ramadas:
— Bailai comigo, bailai!
E elas sentem-se agarradas,
bailam no ar desgrenhadas,
bailam com ele assustadas,
já cansadas, suspirando,
e o vento as deixa, abalando,
— e lá vai!...
O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e rodopia
e tudo baila em redor!
E diz às folhas caídas:
— Bailai comigo, bailai!
No quieto chão remexidas,
as folhas, por ele erguidas,
pobres velhas ressequidas
e pendidas como um ai,
bailam, doidas e chorando,
e o vento as deixa abalando,
— e lá vai!...
O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e rodopia
e tudo baila em redor!
E diz às ondas que rolam:
— Bailai comigo, bailai!
E as ondas no ar se empolam,
em seus braços nus o enrolam,
e batalham,
e seus cabelos se espalham
nas mãos do vento, flutuando,
e o vento as deixa, abalando,
— e lá vai!...
O vento é bom bailador,
baila, baila e assobia,
baila, baila e rodopia
e tudo baila em redor!
E diz à chuva caindo:
— Bailai comigo, bailai!
E ao de ela seu corpo unindo,
beija-a na boca, sentindo
que ela o abraça sorrindo
e desmaia, volteando,
e já verga ao beijo, e cai,
e o vento a deixa, abalando,
— e lá vai!...
Afonso
Lopes Vieira, Canções do Vento e do Sol. Lisboa, Typ. «A Editora», [1911].
Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/7894
Typ. «A Editora», [1911] |
De acordo com a leitura do poema “Dança do Vento”, de Afonso Lopes Vieira (1878-1946), classifica cada afirmação que se segue como verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.
1. O poema "Dança do
Vento" retrata o vento como um elemento estático da natureza.
2. O vento é descrito como
uma força destrutiva e violenta sem qualquer beleza ou graça.
3. O vento é personificado
como um bailarino incansável.
4. No poema, as flores,
ramadas, folhas, ondas e chuva são personificadas.
5. A repetição de frases e
estruturas no poema cria um efeito de monotonia e estagnação.
6. A palavra “baila” é
repetida várias vezes no poema, criando um ritmo dançante.
7. O poema sugere que o vento
apenas causa destruição e não possui qualquer aspeto positivo.
8. As folhas caídas são
descritas como envelhecidas, secas e inclinadas como um suspiro.
9. A personificação do vento
cria uma ligação emocional entre o leitor e os elementos naturais descritos.
10. O poema termina cada
estrofe com a imagem do vento a afastar-se, sugerindo um ciclo contínuo.
11. Cada estrofe termina com a
frase "— e lá vai!...", sugerindo um ciclo contínuo de movimento.
12. O poema inclui um diálogo
direto do vento com os elementos da natureza.
13. A dualidade entre a beleza
e a crueldade do vento é uma temática presente no poema, ecoando a epígrafe que
menciona o vento como "cruel" e "roubador maioral".
14. O vento simboliza a
estabilidade e permanência da vida.
Respostas:
1. Falso. O poema retrata o vento como um elemento
dinâmico - O título “Dança do Vento” sugere movimento e ritmo.
2. Falso. O vento é descrito como um "bom
bailador" que se move com graça e leveza.
3. Verdadeiro.
4. Verdadeiro.
5. Falso. A repetição cria um efeito cumulativo que
enfatiza a persistência e a presença constante do vento.
6. Verdadeiro.
7. Falso. Embora o vento cause algum impacto
negativo, ele é também retratado de forma encantadora e graciosa.
8. Verdadeiro (As folhas caídas são descritas como
“pobres velhas ressequidas e pendidas como um ai.”)
9. Verdadeiro.
10. Verdadeiro.
12. Verdadeiro.
12. Verdadeiro.
13. Verdadeiro
14. Falso. O vento simboliza a mudança constante e a
efemeridade da vida.