GRUPO I
PARTE A
D.
Sebastião
‘Sperai! Caí
no areal e na hora adversa
Que Deus
concede aos seus
Para o intervalo
em que esteja a alma imersa
Em sonhos que
são Deus.
Que importa o
areal e a morte e a desventura
Se com Deus me
guardei?
É O que eu me
sonhei que eterno dura,
É Esse que
regressarei.
Fernando
Pessoa, Mensagem e Outros Poemas sobre Portugal,
edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, Lisboa, Assírio &
Alvim, 2014, p. 102.
1. No poema, está
presente um «eu», D. Sebastião, que se dirige a um «vós», os Portugueses.
Explicite o
apelo feito na primeira estrofe e, com base nesse apelo, infira os sentimentos
desse «eu» e desse «vós».
2. Evidencie a
presença do herói histórico e a presença do herói mítico na segunda estrofe do
poema, fundamentando a resposta com a referência a um elemento textual para
cada um dos tipos de herói.
3. Selecione a
opção de resposta adequada para completar a afirmação.
Na primeira
estrofe, o uso do vocábulo «intervalo» remete para um antes e um depois,
correspondendo a um tempo
(A) de desistência
durante o qual a essência do sujeito poético perdura.
(B) de transição
durante o qual a essência do sujeito poético esmorece.
(C) de desistência durante o qual a essência do sujeito poético esmorece.
(D) de transição durante o qual a essência do sujeito poético perdura.
PARTE B
Leia o texto seguinte, constituído pelas
estâncias 15 a 18 do Canto I de Os Lusíadas,
e as notas.
Est. 15
E, enquanto eu
estes canto – e a vós não posso,
Sublime Rei,
que não me atrevo a tanto –,
Tomai as
rédeas vós do Reino vosso:
Dareis matéria
a nunca ouvido canto.
Comecem a
sentir o peso grosso
(Que polo
mundo todo faça espanto)
De exércitos e
feitos singulares,
De África as
terras e do Oriente os mares.
Est. 16
Em vós os
olhos tem o Mouro frio,
Em quem vê seu
exício1 afigurado;
Só com vos
ver, o bárbaro Gentio
Mostra o
pescoço ao jugo2 já inclinado;
Tétis todo o
cerúleo senhorio3
Tem pera vós
por dote aparelhado4,
Que, afeiçoada
ao gesto5 belo e tenro,
Deseja de
comprar-vos pera genro.
Est. 17
Em vós se vêm6,
da Olímpica morada,
Dos dous avós7
as almas cá famosas;
Ũa, na paz
angélica dourada,
Outra, pelas
batalhas sanguinosas.
Em vós esperam
ver-se renovada
Sua memória e
obras valerosas;
E lá vos têm
lugar, no fim da idade,
No templo da
suprema Eternidade.
Est. 18
Mas, enquanto
este tempo passa lento
De regerdes os
povos, que o desejam,
Dai vós favor
ao novo atrevimento,
Pera que estes
meus versos vossos sejam,
E vereis ir
cortando o salso argento8
Os vossos
Argonautas9, por que vejam
Que são vistos
de vós no mar irado,
E costumai-vos
já a ser invocado.
Luís de Camões, Os Lusíadas,
edição de A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed., Lisboa, MNE/IC, 2003, pp. 4-5.
NOTAS
1
exício – destruição; ruína; mortandade.
2
jugo – peça de madeira que une os bois de uma junta;
domínio; força repressiva; sujeição.
3
cerúleo senhorio – domínio do mar de
cor azul-celeste.
4
aparelhado – preparado.
5
gesto – aspeto; aparência; rosto.
6
vêm – veem.
7
dous avós – D. João III, pai do príncipe D.
João, e Carlos V, pai da princesa D. Joana.
8
salso argento – mar da cor da
prata.
9 Os vossos Argonautas – referência aos navegadores portugueses.
4. Releia a
estância 15.
Explicite
o modo como se desenvolve a estratégia argumentativa usada pelo poeta nessa
estância para incitar o rei D. Sebastião à ação gloriosa.
5. Nas estâncias
16 e 17, o poeta confere ao rei D. Sebastião uma dimensão excecional.
Comprove
esta afirmação, recorrendo a dois exemplos pertinentes mencionados nessas
estâncias.
6. Selecione a
opção de resposta adequada para completar a afirmação.
A
par do louvor aos feitos dos navegadores cantados n’Os
Lusíadas, na estância 18, está subjacente
(A) a crítica à ambição
desmesurada que o rei manifesta.
(B) a alusão à demora na
ação heroica que se espera do rei.
(C) o reconhecimento pelo
rei da força guerreira dos povos que há de dominar.
(D) o elogio que o rei
tece ao valor artístico dos versos escritos pelo poeta.
PARTE C
7. Baseando-se na
sua experiência de leitura de Mensagem,
de Fernando Pessoa, e de Frei Luís de Sousa,
de Almeida Garrett, escreva uma breve exposição sobre o modo como o
sebastianismo emerge em cada uma das obras.
A
sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual compare as duas obras, referindo uma manifestação significativa do sebastianismo em cada uma delas;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
GRUPO III
Para muitas pessoas, o heroísmo exige percorrer
um caminho árduo, que implica renúncia e sofrimento.
Num texto de opinião bem estruturado, com um
mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta palavras, defenda uma
perspetiva pessoal sobre a conceção de heroísmo apresentada.
No seu texto:
− explicite, de forma
clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos,
cada um deles ilustrado com um exemplo significativo;
− formule uma conclusão
adequada à argumentação desenvolvida;
− utilize
um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
CENÁRIOS
DE RESPOSTAS
Nota
prévia sobre o Grupo I: Nos tópicos de resposta de cada item, as expressões
separadas por barras oblíquas ‒
à
exceção
das utilizadas no interior de cada uma das citações ‒
correspondem a exemplos de formulações possíveis,
apresentadas em alternativa. As ideias apresentadas entre parênteses não têm de ser
obrigatoriamente mobilizadas para que as respostas sejam consideradas
adequadas.
1. Explicitação do apelo que D.
Sebastião dirige aos portugueses: incita-os a aguardar o seu regresso
messiânico (no pressuposto de que a morte física é um momento transitório em
que os sonhos «são Deus» – v. 4).
Identificação
dos sentimentos do «eu» e do «vós»: D. Sebastião revela confiança na
concretização dos seus sonhos (apesar da sua morte); o apelo de D. Sebastião
permite inferir que os portugueses manifestam desânimo/descrença, o que leva o
rei a incutir-lhes um sentimento de esperança no seu regresso/naquilo de que ele
é o símbolo.
2. Relativamente a cada uma das
dimensões do herói, deve ser abordado um dos tópicos seguintes, ou outros
igualmente relevantes:
Herói histórico
referência ao «areal» para identificar o local da batalha em
Alcácer Quibir/no Norte de África;
referência à «morte» física de D. Sebastião no decurso da
batalha;
referência à «desventura» que
conduziu à morte do rei (e à desgraça do país).
Herói mítico
referência ao carácter transcendente de D. Sebastião, enquanto
figura guardada por Deus/enquanto figura identificada através do uso de
maiúsculas em «O» e «Esse»;
referência à permanência do sonho do rei, que é aquilo que
«eterno dura» (v. 7);
referência à certeza do regresso do
rei enquanto sonho criador.
3. (D)
4.Primeiramente, o poeta tece o elogio do rei –
«Sublime Rei» –, dando a entender que ele está predestinado a cometer tão
grandes feitos que o poeta afirma não ousar cantá-los.
Seguidamente, o poeta aconselha o rei D. Sebastião:
· a assumir o controlo e a
responsabilidade da governação (o que dará assunto para um novo e singular
canto épico);
· a dominar as terras de África e os
mares do Oriente (vitórias que serão exaltadas e admiradas por todos).
5. Devem ser abordados dois dos
tópicos seguintes, ou outros igualmente relevantes:
· D. Sebastião assusta de tal modo os
Mouros e os Gentios que os primeiros o veem como a causa da sua ruína futura e
os segundos se mostram já predispostos a submeter-se-lhe;
· a própria Tétis deseja oferecer a
filha em casamento a D. Sebastião e, como dote, o controlo dos mares;
· os feitos de D. Sebastião serão
motivo de orgulho para os seus antepassados, que esperam dele a realização de
feitos tão grandiosos como os do passado/de feitos que mereçam ser para sempre
recordados.
6. (B)
7. Relativamente a cada obra, deve ser abordado um dos
tópicos seguintes, ou outro igualmente relevante.
Mensagem
· Séculos após a Batalha de Alcácer
Quibir, não é mais a crença no regresso do rei vivo que está em causa, mas o
que ele representa – o mito, fecundador da realidade/o Desejado, que surge como
o Salvador.
· D. Sebastião surge na obra como o
mito que exprime o drama nacional de um país decadente que precisa de acreditar
nas suas capacidades para superar o presente de «nevoeiro» (recusa do presente
e crença no futuro).
· O sebastianismo evidencia-se na
crença no regresso messiânico do Salvador que conduzirá Portugal a nova
conquista – o império espiritual e civilizacional («Senhor, falta cumprir-se
Portugal!»).
· D. Sebastião é o símbolo da loucura
positiva, da sede de infinito que caracteriza o ser humano que pretende
ultrapassar a sua própria natureza («Louco, sim, louco, porque quis grandeza»).
Frei Luís de Sousa
· Num contexto em que Portugal está sob
o domínio filipino, o sebastianismo evidencia-se na crença nacional de que D.
Sebastião não morreu na batalha de Alcácer Quibir.
· O sebastianismo evidencia-se na
convicção de que o regresso de D. Sebastião devolverá a Portugal a independência
e a liberdade perdidas.
· Existem na obra personagens
fortemente sebastianistas: Telmo, vinte e um anos passados sobre a fatídica
batalha, mantém a esperança de que o seu antigo amo esteja vivo e regresse, o
que significaria que D. Sebastião poderia também regressar / Maria, porta-voz
da ilusão popular de que D. Sebastião está vivo, acredita que o rei regressará
a qualquer momento para salvar o seu povo do jugo castelhano.
· A mensagem sebastianista não é
absolutamente linear: se com a chegada do Romeiro, ou seja, de D. João, se
verifica a destruição de quem ele ama (o seu regresso, em vez de ser uma graça,
é uma des – graça), o hipotético regresso de D. Sebastião também poderia não
ser a melhor solução para Portugal.
Prova – versão 1: https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/06/EX-Port639-F1-2022-V1_net.pdf
Critérios de correção: https://iave.pt/wp-content/uploads/2022/06/EX-Port639-F1-2022-CC-VT_net.pdf
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Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
CARREIRO, José. “O tema
do sebastianismo no exame nacional de Português (Os Lusíadas, Frei Luís de
Sousa e Mensagem)”. Portugal, Folha de Poesia, 19-06-2022. Disponível
em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/06/o-mito-do-sebastianismo-em-os-lusiadas.html