ORIGENS DA POESIA
TROVADORESCA
A
origem provençal
da cantiga d’amor
foi declarada pelos próprios
trovadores (ver
cantiga: “Quer’eu em maneira de proençal”) e, nas suas
formas e temas
mais elaborados, bem
pode reconhecer-se a influência dos modelos. Causas
da influência provençal
nas cantigas de amor:
as cruzadas (os jograis,
acompanhando os senhores feudais a caminho de Jerusalém, passavam pelo
porto de Lisboa); o casamento
entre nobres
(como os de D. Afonso Henriques, D.
Sancho I e D. Afonso III com princesas ligadas à Provença); a influência
do clero e suas
reformas; a vinda de prelados franceses para bispados na Península
Ibérica; a peregrinação
de portugueses a Santa Maria de
Rocamador, no sul da França, e de trovadores dessa região
a Santiago de Compostela.
Também a cantiga satírica,
em certas
formas e temas,
convida ao confronto com
a poesia satírica
provençal, sobretudo
com o sirventés moral ou político.
Há,
porém, um
género, a cantiga de amigo,
que não
se explica a partir dos modelos
do sul de França. Para as
suas características
é necessário encontrar outra fonte. As cantigas de amigo
constituem uma poesia autóctone, de origem
popular e carácter tradicional. Esse ponto de partida foi identificado com
uma tradição autóctone,
uma forma ibérica
de canção de mulher,
anterior à influência
provençal. A descoberta
das "kharja", em 1948, veio confirmar essa hipótese.
Temática e
metricamente próximas das cantigas de amigo galego-portuguesas, evidenciando, desse modo, a existência
de um fundo
comum de lírica
românica de que
derivariam ambas as formas, a
"kharja", cultivada pelos poetas andaluzes
entre os séculos
XI e XIII, constitui a primeira manifestação
literária documentada em língua vulgar.
A
"kharja" é uma pequena composição poética que surge no final
de uma composição mais
extensa e culta,
escrita em
árabe ou hebreu, a "muwashshah".
O professor André Simões informa-nos que as «"kharja" apenas em língua moçárabe
são uma pequena minoria no corpus
total conhecido. Geralmente são textos em árabe dialetal com palavras ou frases
em língua romance. Para termos uma ideia, num dos estudos de referência sobre
este tema, com edição e comentário de todas as "kharja" conhecidas (Poesía dialectal árabe y romance en
Alandalús, Gredos, 1997, Federico Corriente), as "kharja" de
"muwashshah" apenas em árabe ocupam 110 páginas, enquanto as
bilingues (árabe ou hebraico + frases moçárabes) ocupam menos de 50 páginas» (<asimoes@campus.ul.pt>, 2011-11-27).
Para
além desta tese
para explicar a origem
das cantigas de amigo,
há também outras teorias,
a saber: a tese
folclórica (fruto
da poesia criada
pelo povo com um carácter
espontâneo, anónimo, primitivo,
popular, afastado da cultura dominante);
tese etnográfica (adequada ao ritmo do trabalho); tese latino-medieval (influência
da literatura latina
produzida na Idade Média)
e a tese litúrgica
(originada da poesia religiosa, em estreita ligação
com a cultura
dominante).
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Nobre, bailadeira com castanholas, jogral com saltério trapezoidal
Cancioneiro da Ajuda |
INTÉRPRETES DA POESIA
TROVADORESCA GALEGO-PORTUGUESA
Jogral
|
A atividade
do jogral desdobrava-se em
múltiplas funções que,
com o objetivo de recrear
um público,
combinavam os jogos histriónicos, o
acompanhamento musical, a interpretação
de composições alheias ou próprias, a declamação de narrativas
épicas, etc. A importância do jogral enquanto meio de transmissão
cultural, entre comunidades
e entre gerações,
deve ser enfatizada tendo em
conta o peso
da oralidade sobre
a escrita no ocidente
medieval.
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Menestrel
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Era, no século
XIII, um músico-poeta (por vezes
confundia-se com o jogral,
só que
vivia sob a proteção de um nobre e
andava de corte em
corte).
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Segrel
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Cavaleiro-trovador
que andava de corte
em corte (era da baixa estirpe e fazia-se acompanhar
de um jogral
ou substituía-o). Na poesia trovadoresca
galego-portuguesa, a função do segrel
aproxima-se da do jogral, visto
que, além
de executante e de cantor, sabia compor cantigas.
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Soldadeira
ou jogralesca
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Cantadeira
ou dançarina,
a soldo, que
acompanhava o jogral (era,
muitas vezes, de moral
duvidosa).
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Trovador
|
Compositor (quase
sempre fidalgo)
da poesia e da música.
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Cancioneiro da Ajuda |
PROCESSOS FORMAIS
DE VERSIFICAÇÃO
DA POESIA TROVADORESCA
GALEGO-PORTUGUESA
Atafinda
ou atá-finda
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Processo poético que consiste em
levar o pensamento,
ininterruptamente, até ao fim da
cantiga, usando para
isso o processo
de encavalgamento na articulação das estrofes.
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Cobla,
copla, cobra
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Estrofe
|
Coblas
alternas
|
O esquema rimático alterna, segundo
o modelo I-III, II-IV.
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Coblas
capcaudadas
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O primeiro verso de
uma estrofe retoma a rima do último verso da estrofe
anterior.
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Coblas
capdenals
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Repetição da mesma
palavra ou
grupo de palavras
no início do mesmo
verso em
estrofes sucessivas (pode incluir a finda).
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Coblas
capfinidas
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O primeiro verso de
uma estrofe retoma uma palavra do último verso da estrofe
antecedente (se a cantiga for de refrão, estará no refrão).
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Coblas
doblas ou pareadas
|
O mesmo esquema rimático se
repete de duas em duas, segundo o modelo I-II,
III-IV.
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Coblas
singulares
|
As rimas mudam de estrofe
para estrofe.
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Coblas
uníssonas
|
A mesma série
de rimas em
todas as estrofes.
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Dobre
|
Prova de virtuosismo formal
que consistia na repetição
vocabular simétrica em que a palavra
repetida poderia estar
no início, no interior
ou no final
do verso, mas
que a disposição
escolhida para a primeira
estrofe tinha
de ser a mesma
em todas as estrofes;
e a palavra repetida podia ser diferente de estrofe para estrofe.
|
Encavalgamento
ou transporte
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Processo poético que consiste em
completar a ideia de um
verso no verso
seguinte, não
coincidindo, portanto, a pausa métrica
com a pausa
sintática.
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Finda
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Estrofe curta (geralmente constituída por
três versos)
que serve de remate
e em que
o poeta sintetiza o assunto
da composição.
|
Leixa-prém
|
Traduzido
à letra: deixa-toma. É o procedimento formal necessário para a cantiga
paralelística perfeita. Consiste no seguinte: o 2º verso
da 1ª estrofe repete-se no 1º verso da estrofe
alternada ao longo de toda a cantiga.
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Mozdobre
ou mordobre
|
A definição é feita a partir do dobre: a
única distinção
é que, no mozdobre, a palavra
repetida aparece em formas diversas (coincide às vezes
com a rima derivada).
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Palavra
perduda ou verso
perdudo
|
Verso inserido no corpo
da estrofe que
não rimava com
nenhum dos outros
da mesma estrofe
(prova de mestria).
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Palavra-rima
|
Utilização da mesma palavra
em posição
de rima (confunde-se às vezes com o dobre).
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Paralelismo
|
O paralelismo constitui uma das características
estruturais da lírica
galego-portuguesa, consistindo na repetição
simétrica de palavras, estruturas rítmico-métricas ou
conteúdos semânticos.
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Paralelismo
imperfeito
|
Acontece quando o esquema do leixa-prém não
se repete rigorosamente.
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Paralelismo
perfeito ou
puro
|
Uso do leixa-prém.
|
Paralelismo
semântico ou
conceptual
|
Repetição de figuras
de retórica; repetição,
por outras palavras,
daquilo que se disse na primeira estrofe.
O paralelismo conceptual
recusa a repetição do leixa-prém ou
a simples variação sinonímica.
|
Paralelismo
sintático ou estrutural
|
Repetição de uma determinada
construção sintática e rítmica. O poeta
podia obter a variação mediante
três processos:
- substituição da palavra
rimante por um
sinónimo;
-
transposição das palavras (alteração
da ordem);
- repetição do conceito
mediante a negação
do conceito oposto.
|
Paralelismo
verbal, literal ou
de palavra
|
Repetição (no mesmo
lugar) de palavras,
expressões ou
versos inteiros,
na cantiga, quer
siga ou não
o leixa-prém.
Pode ocorrer também o paralelismo verbal
com substituição
sinonímica (embora formalmente diferente,
é semanticamente igual).
O paralelismo verbal
arrasta consigo uma certa monotonia
evitada se recorrerem à variação (que
pressupõe uma certa progressão no pensamento).
|
Rima
derivada
|
Emprego de formas
diversas da mesma palavra
em posição
de rima (confunde-se, às vezes, com o mozdobre).
|
Rima
equívoca
|
Repetir a mesma palavra
dando-lhe significações diferentes
(confunde-se às vezes com o dobre).
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SUBGÉNEROS DA CANTIGA DE AMIGO QUANTO AO
TEMA
Alba,
alva ou
alvorada
|
A alva ou alba, terminologia
tirada à lírica
provençal, é a designação que os estudiosos,
à falta de outra
melhor, dão às cantigas
de amigo em
que aparece o tema
da alvorada. Focaliza o amanhecer
depois de uma noite
de amor. Devemos salientar,
no entanto, que
há apreciável diferença
entre a alba
galego-portuguesa e a occitânica, o que
tem levado alguns
a negar a existência
do género no Ocidente peninsular. Parece-nos apressado
esse modo
de ver radical,
pois, no caso,
poderia ter
havido a confluência de um motivo autóctone relacionado com
a alvorada com
o da alba provençal.
Se esta, durante certo
tempo, se restringiu ao motivo da separação,
ao romper do dia,
de dois amantes,
acordados pelo grito do
vigia dos castelos,
não faltam exemplos
posteriores em
que a inoportuna
intervenção do gaita
é substituída pelo canto
dos pássaros.
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Bailada
ou bailia
|
Subgénero
das cantigas de amigo,
composta para
ser cantada e dançada,
caracterizada pelo grande
investimento formal
no seu carácter musical, para o qual
concorrem sobretudo o paralelismo
e o refrão.
|
Barcarola
ou marinha
|
É uma variedade de cantiga
de amigo Em
que o mar,
e por extensão
um rio
(frequente sinónimo combinatório de mar),
constituem o elemento essencial, pois são a causa da separação e o meio
para o reencontro
dos apaixonados: a presença de ondas, ou de barcos que
chegam, é só mais
uma achega ao conjunto.
A fúria do mar
ou a maré
inesperada funcionam em certas ocasiões como
símbolos de isolamento
da mulher.
Todas as cantigas de amigo
que se podem adscrever
a este género apresentam estribilho e têm carácter paralelístico: em geral são de temática
simples: a mulher
lamenta-se, diante das suas irmãs ou
da mãe, da ausência
do amado. O carácter arcaizante ou popular
deste tipo de cantigas
não deixa
lugar a dúvidas.
Para compreender plenamente
o conteúdo das barcarolas,
é necessário recordar que Gonzalo Correas inclui no seu
Vocabulário
um refrão
«La que del baño viene, bien sabe lo que quiere», que
é explicado com toda
a brevidade: «juntarse com el varón». O simbolismo
oculto sob
o motivo da água
(seja ela fonte,
rio, mar ou lago) não é senão o
da fecundidade, ligado portanto
de forma inseparável
à figura da mulher.
A frequente presença de ermidas,
ou as alusões
a romarias, neste tipo
de cantigas, serve para
reforçar esta mesma
ideia, em que
o mar se transforma em paixão amorosa e as margens
não são
mais do que
o lugar do encontro.
Do mesmo modo,
é frequente que o motivo
deslize para
outras variedades, em que se
recorre a símbolos não menos claros, como
o cervo e a lavagem
das roupas.
|
De
romaria
|
Subgénero
das cantigas de amigo
que se distingue pela
referência a romarias
ou santuários.
Não se trata,
contudo, de composições
de temática religiosa,
já que,
frequentemente, a peregrinação ou a capela são pretexto ou cenário do
desenvolvimento da temática amorosa
e profana.
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Pastorela
|
Cantiga de origem
provençal, geralmente
iniciada pela
fala do cavaleiro
que declara o seu
amor a uma pastora.
Este género, entre
nós, adquiriu algumas características das cantigas
de amigo – ambiente
rústico, simplicidade
da donzela –, pelo que
se integram, habitualmente, neste
género de composições trovadorescas.
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TIPOLOGIA DA CANTIGA DE AMIGO QUANTO À ESTRUTURA
Cantiga
de mestria
|
Cantiga de influência provençal, sem
refrão, que
evita repetições e com frequência tem três
coblas ou estrofes
regulares.
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Cantiga
de refrão
|
Cantiga que tem
refrão, independentemente
do género praticado.
|
Cantiga
dialogada ou tenção
|
Com diálogo
da donzela com
a mãe, amigas, irmã, natureza personificada.
|
Cantiga
paralelística imperfeita
|
Acontece quando o esquema do leixa-prém não
se repete rigorosamente.
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Cantiga
paralelística perfeita ou pura
|
Estruturada
em dísticos
monórrimos seguidos de refrão de um verso com rima diferente. O paralelismo
associa-se ao processo de encadeamento
das estrofes chamado leixa-prem. Esta técnica
poética concretizava-se do seguinte modo:
o 1º dístico (estrofe-base)
emparelhava com o 2º (estrofe responsória), que
reproduzia o primeiro com
variação apenas da palavra rimante; o 3º dístico
retomava o segundo verso do 1º dístico
(leixa-prem), acrescentando-lhe um verso novo que
desenvolvia a ideia contida no verso
repetido; o 4º dístico retomava o segundo verso
do 3° dístico com
variação; a progressão do pensamento verificava-se, deste modo,
sempre no segundo
verso das estrofes
ímpares, culminando na penúltima estrofe.
(in A Lírica
Galego-Portuguesa, Elsa Gonçalves, Col.
Textos Literários,
Ed. Comunicação, 1983)
|
CARATERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMIGO
- A cantiga é posta
na boca de uma donzela;
- a donzela exprime a sua
situação amorosa
ou os seus
dramas na relação
com o amigo;
- a donzela é uma moça
solteira, simples,
enamorada e, por vezes,
ingénua;
- apresentam um carácter feminino
traduzido na sedução do «corpo
velido», nas saudades, na confiança
amorosa, no sofrimento e nos queixumes;
- o amor é natural
e espontâneo, mas
pode provocar os ciúmes,
a angústia ou
o arrebatamento apaixonado;
- o ambiente rural,
marinho e familiar,
mostra que
há sempre um
contacto com a Natureza
que reflete o estado
de espírito da donzela
e, muitas vezes, é confidente;
- possui
carácter autóctone, pois
é da região galaico-portuguesa;
- a sua arquitetura é simples,
com um
fundo de frases
feitas, tendo o refrão
e o paralelismo como
marcas distintivas.
A TRADIÇÃO
LÍRICA NO NOROESTE
DA PENÍNSULA
(ainda
anterior à nacionalidade
portuguesa)
- O povo da região
galaico-portuguesa sempre demonstrou um profundo sentimentalismo;
- os temas mostram que
as donzelas cantavam no campo, na fonte, junto ao mar, nos bailes, no caminho para as romarias... ;
- as tradições das festas
primaveris, as danças, as peregrinações ou
as romarias estavam enraizadas na alma popular;
- a demora na faina
marítima, a ausência
dos namorados ao serviço
do Rei ou
na guerra contra
Muçulmanos, provocavam saudades nas donzelas;
- o amor puro ou a paixão
arrebatadora, as traições ou os ciúmes,
deram origem a uma poesia
marcadamente afectiva.
INFLUÊNCIAS
E VALOR DOCUMENTAL DAS CANTIGAS DE AMIGO
- Poesia autóctone, de carácter popular
e de tradição oral;
- marcas da romanização;
- elementos árabes do al-Andalus: a dança,
as bailias, as motivações bucólicas;
- o paralelismo com
origem no ritmo
natural do trabalho
e da dança ou
nos cânticos
dialogados litúrgicos;
- interesse
linguístico, artístico e estilístico;
- interesse social e histórico:
expressão de sentimentos,
usos e costumes
(as prendas de noivado,
peças de vestuário...
).
«As cantigas
de amigo revelam belos
quadros sentimentais
da donzela, frequentemente emoldurados pela Natureza.»
- Cantigas de amigo: amor natural e espontâneo, obsessão amorosa,
ternura, saudade,
sofrimento, angústia;...
- Natureza:
personificada, confidente ou tradutora do estado
de espírito: alegre,
alterosa; a Natureza
anímica que
possibilita uma intimidade espontânea com
a donzela: as "ondas
do mar de Vigo", as
"avelaneiras", as "flores
do verde pino";
- manifestação do sentimentalismo e da psicologia
feminina;
- expressão do amor natural e espontâneo, da obsessão
amorosa ou
da ternura., da saudade,
do sofrimento da angústia;
- sedução e indício do erotismo
feminino;
- personificação da Natureza,
confidente ou
tradutora do estado de espírito da donzela.
«Nas
cantigas de amigo
as representações emocionais
adquirem encanto e magia
graças às modulações
fónicas, à carga simbólica e à arte paralelística.»
- São diversos os sentimentos
e reações psicológicas da donzela: o amor tranquilo e capaz
de provocar a alegria
de um sorriso;
a agitação perante
uma verdadeira paixão; a ansiedade e a angústia porque o amigo não dá notícias;
as saudades e a tristeza
pela ausência
do amado; os ciúmes
ou as promessas
de vingança pela
infidelidade do amigo...
- Os fonemas e os signos
linguísticos, em geral,
oferecem-nos interpretações da realidade. A modulação
dos timbres vocálicos
e dos restantes fonemas podem sugerir estados de alma: o sofrimento, a tristeza
e a melancolia podem ser expressos pelos
fonemas fechados e nasais;
as ondas do mar
ou as «ondas»
(emoções e instabilidade)
do coração da donzela
podem ser traduzidos pelas labiais...
- Os recursos paralelísticos oferecem não
só ritmo
e musicalidade mas também
uma progressão de sentido
e do estado emotivo.
Ao jogo paralelístico submete-se toda a versificação e a retórica.
- Os símbolos são constantes na poesia
trovadoresca.
OS SÍMBOLOS
NAS CANTIGAS DE AMIGO
Água
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Harmonia amorosa
entre os dois
namorados.
|
Alva
|
Símbolo da inocência,
da pureza e da virgindade.
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Aves
|
|
Cabelos
|
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Cervo
|
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Flores
|
|
Fonte
|
É origem da vida,
da maternidade e da graça, mas as
suas águas
límpidas podem indicar a pureza
da donzela.
|
Luz
|
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Noite
|
A
noite (longa,
escura, silenciosa
e misteriosa) representa as incertezas
do amor...
|
Ondas
|
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Vento
|
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Camisa
|
|
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|
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Nobre, jogral com cítola, executante de pandeiro redondo com soalhas exteriores
Cancioneiro da Ajuda |
CARATERÍSTICAS DAS CANTIGAS
DE AMOR
- A cantiga é posta
na boca de um
enamorado (trovador), que exprime os sentimentos
amorosos pela
dama (destacando a sua
coita de amor
que o faz "ensandecer"
ou morrer);
- o amador implora ou
queixa-se à dama, mas
também ao próprio
Amor;
- a
«senhor» surge como
suserana a quem
o amador «serve», prestando-lhe
vassalagem amorosa;
- a dama é urna mulher formosa
e ideal, frequentemente comprometida ou até casada, inacessível, quase sobrenatural;
- o ambiente é, raramente,
sugerido, mas percebe-se que a cantiga
de amor é uma poesia
da corte ou
de inspiração palaciana;
- a sua arquitetura de mestria,
o ideal do amor
cortês, certo
vocabulário, o convencionalismo
na descrição paisagística
revelam a origem provençal;
- as
canções de mestria
são as que
melhor caracterizam a estética dos cantares
de amor.
O AMOR
CORTÊS E AS SUAS
REGRAS
- «Festa e jogo, o
amor cortês
realiza a evasão para
fora da ordem
estabelecida e a inversão das relações naturais.
[…] No real
da vida, o senhor
domina inteiramente a esposa. No jogo
amoroso, serve a dama,
inclina-se perante os seus caprichos,
submete-se às provas que ela decide
impor-lhe.» (Georges Duby)
- amor vassalagem: o trovador
serve a dama; submete-se à sua vontade e seus caprichos;
ela é a suserana
que domina o coração
do homem que
a ama;
- a dama, muitas vezes
mulher casada,
é cortejada, e definida como o ser mais perfeito;
- para conseguir os favores
da dama, o amador
tem de passar provações
(à semelhança dos ritos
de iniciação nos
graus de cavalaria),
havendo, por isso,
graus de aproximação
amorosa: fenhedor (que
apenas suspira),
precador (que suplica), entendedor (que
tem correspondência) e drudo ou amante (quando a relação
é completa);
- ao
exprimir o seu
amor, o trovador
deve usar de mesura
(autodomínio) para não
ferir a reputação
da dama.
A RELAÇÃO
AMOROSA NAS CANTIGAS DE AMOR
- Nas
cantigas de amor
a beleza e a sensualidade
da mulher são
sublimadas, mas a relação
amorosa não
se apresenta como experiência,
mas um
estado de tensão
e contemplação;
- a
«senhor» é cheia
de formosura, tipo
ideal de mulher,
com bondade,
lealdade e perfeição; possuidora de honra («prez»), tem sabedoria,
grande valor
e boas maneiras; é capaz
de «falar mui
bem» e rir melhor...
- o amor cortês
apresenta-se como ideal,
como aspiração
que não
tende à relação sexual,
mas surge como
estado de espírito
que deve ser
alimentado...; pode-se definir, de acordo com a teoria platónica, como
ideia pura;
- aspiração e estado
de tensão por
um ideal
de mulher ou
ideal de amor;
- amor fingimento;
enquanto o amor
provençal se apresenta mais fingido, de convenção
e produto da imaginação
e inteligência, nos
trovadores portugueses, aparece, supostamente, mais
sincero, como
súplica apaixonada e triste.
TIPOLOGIA DAS CANTIGAS DE AMOR QUANTO À ESTRUTURA
Cantiga
de mestria
|
Segue a canso provençal
e pode terminar com
uma finda ou
tornada. Admite dobre, mozdobre, ata-finda e verso perdudo.
|
Cantiga
de refrão
|
Com refrão ou estribilho.
|
Descordo
|
Cantiga de amor,
de imitação provençal,
em que
o trovador, através
de uma composição estrófica e
metricamente irregular, evoca os sentimentos contraditórios
que o assolam.
É um género caracterizado
pelo desacordo
na isometria que era
regra geral
na lírica medieval.
É, pois, uma forma de fazer.
|
Lais
|
Canção narrativa
de carácter lírico, não pertence exatamente
às cantigas de amor.
|
Pranto
|
Com lamentações,
imita o planh provençal.
|
Tenção
|
Com discussão de uma questão de amor.
Cantiga em que se confrontam dois trovadores, sendo por
isso ambos
os autores da composição.
A tenção não é propriamente um
género, mas uma forma,
podendo, assim, identificar-se com outros
géneros.
Regras definidas para a tenção:
- cada trovador
tem uma estrofe alternadamente em que há uma
disputa entre
os dois;
- cada qual tem
o mesmo número
de estrofes;
- as extensões são
sempre de mestria;
- se
houver finda na canção, então
serão duas, uma para
cada trovador.
|
VOCABULÁRIO DAS CANTIGAS DE AMOR
Coita
|
Sofrimento
amoroso (“pesar”,
“doo”, “afan”, “penar”, “penado”,
“dano”,“sofrer”,“lazerar”, “tromentar”, “padecer”,
“mal aver”, “mal
pesar”…).
Consequência
da coita é a condição
em que
acaba por se encontrar
o amante: “desconortado” (desanimado,
desconsolado), “desaconselhado” ou “mal conselhado”, “desaventurado” ou “ mal
desaventurado”, “desasperado”, “despagado”, “cativo”,
“mal dia
nado”, “en forte
ponto nado”,
“pecador”, “mal
meu pecado”,
etc.
|
Galardom
|
Galardão, recompensa.
|
Genta
|
Gentil, fermosa.
|
Mesura
|
Medida, cortesia,
moderação, generosidade.
Qualidade suprema
do amador à maneira
provençal que
tinha de conter-se em certos limites de razoável
moderação; equilíbrio entre a razão
e o amor.
|
Perfia
|
O que define a perseverança do amante.
Porfia, discussão, teimosia.
|
Preço
|
Honra, reputação,
mérito, valor.
|
Prez
|
Tem os mesmos valores
que preço.
|
Prol
|
Proveito, interesse.
|
Razon
|
Alusivo ao direito
e à justiça que
regulam a própria relação.
Razão, discussão, causa, motivo, assunto.
|
Ren
|
Coisa. A palavra era
utilizada para fazer alusão à “senhor”, sem a conotação
negativa que
hoje teria.
|
Reserva
|
Realiza-se,
por vezes,
na proibição imposta
pela senhora
ao poeta, mas
sobretudo no obrigar
o amante a afastar-se do lugar onde
reside (“alongar”, “alongado”, “mandar
ir”, “fazer partir”, “a ver pesar”
[da presença dele]. A “senhor”
não só
não concede recompensas
ao amante pela
sua fidelidade,
como atua em
relação a ele
com uma espécie
de despotismo repressivo,
negando-lhe qualquer direito de a amar e de exteriorizar o seu sentimento, ou
mesmo de lhe
dirigir a palavra,
de a olhar nem
que seja de longe,
e até de coexistir
com ela
na mesma dimensão
espacial.
Nesta situação, o poeta só poderá “amar” (ou “querer bem”,
ou “querer amor”) e “servir”, se
se ocultar não
só, nem
principalmente, dos “cousidores” como essencialmente
daquela que ele
quer amar e
servir; e viverá no contínuo
temor (“recear”,
“temer”, “pavor”,
“medo”) de que
uma imprudência verbal
sua ou
um excesso
de curiosidade alheia
possa desvendar à senhora
que é ela
a destinatária do canto,
ateando com isso
a sua ira
e a sua vingança.
(TAVANI: 1990, 124-125)
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Sabedoria
e sabedor
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Indicador da prudência
e do discernimento que devem presidir à relação do amor.
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Sén,
sém
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Entendimento, juízo,
razão, senso.
Integra
semanticamente a mesura, a sabedoria, a razon e a perfia.
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Senhor
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A «senhor» surge como suserana a quem
o amador «serve», prestando-lhe
vassalagem amorosa. A «senhor»
é cheia de formosura,
tipo ideal
de mulher, com
bondade, lealdade e perfeição;
possuidora de honra («prez»), tem sabedoria, grande
valor e boas maneiras;
é capaz de «falar
mui bem» e rir melhor...
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MODALIDADES DA POESIA
SATÍRICA E BURLESCA
GALEGO PORTUGUESA
Cantiga
de escárnio
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Sátira com palavras dissimuladas e ironia.
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Cantiga
de maldizer
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Sátira direta, mordaz
e, por vezes,
obscena.
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Cantiga
de seguir
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Tipo de composição
poética cultivada pelos
trovadores galego-portugueses e definida, no capítulo
IX da "Arte de Trovar"
incluída no Cancioneiro da Biblioteca Nacional.
De acordo com
o autor anónimo, a cantiga de seguir
consistia numa espécie de imitação ou paródia de uma cantiga
alheia, efetuada de três modos distintos: por
apropriação da música;
por reprodução
de versos, rimas
e estrutura métrica
do texto preexistente; ou por utilização das mesmas palavras
da composição imitada, mas com outro significado.
São três
os exemplos de cantigas
de seguir especificamente classificadas como tal nos cancioneiros:
as duas cantigas de Johan de Gaia, Vosso
pay na rua e Eu
convidey hun prelado a jantar,
se ben me venha e a cantiga de Lopo Liáns Quen oj'ouvesse. (In
Infopédia [Em linha].
Porto: Porto Editora, 2003-2008)
A Cantiga de seguir não é propriamente um
género, pois nada
a distingue dos outros géneros, pelo que se trata de uma forma de fazer. O público
destas cantigas de seguir
teria de ser conhecedor
das originais que
foram parodiadas, caso contrário não
entenderia a intertextualidade entre
ambas.
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Serventês
ou sirventês
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Composição que
reflecte a influência provençal
(sirventés ou
serventois provençal)
e que serve para
exprimir ideias morais
ou a sátira
pessoal, literária,
política ou
social.
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Tenção
de briga
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Disputa entre dois trovadores que, em verso, confrontam as suas
opiniões sobre
determinado assunto.
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POESIA SATÍRICA
E BURLESCA GALEGO
PORTUGUESA
TEMAS E MOTIVOS
- Entrega dos castelos ao conde
de Bolonha (D. Afonso III).
- Traição dos cavaleiros de Afonso X, na batalha
de Granada.
- A cruzada da Balteira (sátiras
a Maria Peres).
- Crítica dos trovadores e jograis:
- da vida que levam;
- da falta de arte.
- Sátira à
soldadeira.
- Polémica social.
- Censura de vícios e costumes
da época: a avareza, a vaidade, a crença
em agoiros; o casamento
por rapto;
a homossexualidade, etc.
- Paródias a temas e formas
da poesia lírica
amorosa.
Composições,
em suma,
jocosas e/ou satíricas que vão da
polémica social, em
sentido mais
vasto, ao ultraje
personalizado; da sátira literária à política
e de costumes, com
incursões no campo
obsceno.
BIBLIOGRAFIA DIDATIZADA
COELHO, Jacinto
do Prado, Dicionário de literatura, Porto, Figueirinhas,
1989 (4.ª ed.)
GONÇALVES,
Elsa, A lírica
galego-portuguesa, Lisboa, Editorial
Comunicação, 1983.
Infopédia [Em linha]. Porto, Porto Editora,
2003-2008
LANCIANI,
Giulia e TAVANI, Giuseppe, Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa, Lisboa, Ed. Caminho, 1993.
LAPA. Rodrigues, Lições de literatura
portuguesa, época medieval,
Coimbra Ed., 1981 (10.ª ed. revista pelo autor).
MOREIRA, Vasco e Hilário
Pimenta, Dimensão literária
10.º ano. Português
A, Porto, Porto Editora, 1997.
TAVANI,
Giuseppe. A poesia lírica
galego-portuguesa. Trad. de Isabel Tomé e Emídio Ferreira. Lisboa, Editorial Comunicação, 1990.
VERÍSSIMO,
Artur, Ser em Português 10A/B, Porto, Areal Editores,
1997.
“Poesia Trovadoresca Galego-Portuguesa”, José
Carreiro. In: Folha de Poesia, 2018-05-18 <https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/poesia-trovadoresca-galego-portuguesa.html>
(1.ª edição: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua
portuguesa no mundo, José Carreiro <http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/poesia_trovadoresca.pdf>,
2011-11-30).