CARREIRO, José. “Ova Ortegrafia, Maria Velho da Costa”. Portugal, Folha de Poesia, 24-05-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/ova-ortegrafia-maria-velho-da-costa.html
domingo, 24 de maio de 2020
OVA ORTEGRAFIA, Maria Velho da Costa
quinta-feira, 21 de maio de 2020
Morrer de Brasil
e aos sem ração ou conforto
sem-terra
sem-teto
aos movimentos de mulheres
LGBTI
às centrais sindicais
às organizações de favelas
de olhos aparelhados em campo de pregos
- tantos houvesse
jamais votei em facho,
esse que da vida é porcino.
Menino de perdidos cantos,
dai engenho a uma vida inteira
pois de sorte boa do planalto nem votos
apenas sangue e língua viperina.
Análise textual
O poema
"Morrer de Brasil", de José Maria de Aguiar Carreiro, é uma espécie
de manifesto contra a opressão e a injustiça social que afetam os mais
vulneráveis da sociedade brasileira. O título é uma frase forte que sugere a
situação desesperante de muitos brasileiros, especialmente os mais pobres e
marginalizados. A homenagem ao ator Flávio Migliaccio, que na sua carta de
despedida lamenta a situação do país e a desilusão com a humanidade, dá uma
dimensão ainda mais trágica ao poema.
O poema
começa com uma referência direta aos mais pobres da sociedade e aos grupos que
lutam por uma vida digna: "sem-terra/sem-teto/aos movimentos de
mulheres/LGBTI/às centrais sindicais/às organizações de favelas". Trata-se,
pois, de uma homenagem aos "sem ração ou conforto" que são vítimas de
opressão e exclusão social. O sujeito poético reconhece a importância dos
movimentos de mulheres e LGBTI, bem como das organizações de favelas e das
centrais sindicais, que lutam pela igualdade e justiça social.
Ele mostra
solidariedade para com essas pessoas e afirma que nunca votou em
"facho", um termo pejorativo para designar os políticos de extrema
direita que promovem a intolerância e apoiam medidas autoritárias e
repressivas. A escolha da palavra "porcino" para caracterizar o facho
é significativa, pois o porco é um animal que muitas vezes é associado à sujidade.
Deste modo, o sujeito poético critica os políticos fascistas e sua falta de
humanidade, comparando-os a porcos.
O sujeito
poético utiliza ainda a imagem de um menino que canta canções perdidas e que
precisa encontrar engenho para enfrentar as dificuldades da vida. É como se
este menino representasse as comunidades marginalizadas que lutam pela
sobrevivência num país que as marginaliza. A sorte boa do planalto, que o sujeito
poético menciona, não é compartilhada por estas comunidades, que só conhecem a
viperina língua dos opressores. Diante das dificuldades do país, não se pode
contar com a sorte ou com a benevolência do poder político. É necessário lutar,
com todas as armas à disposição, para se fazer ouvir e transformar a realidade:
"dai engenho a uma vida inteira/pois de sorte boa do planalto nem
votos/apenas sangue e língua viperina".
O poema
"Morrer de Brasil" é um grito de dor e de esperança, um apelo à
consciência de todos os que se preocupam com a justiça social e com o futuro da
sociedade brasileira. É também uma homenagem àqueles que, como Flávio
Migliaccio, lutaram e sofreram por um país mais justo e mais humano.
Análise textual solicitada em 19-02-2023 a ChatGPT (Feb 13 Version), disponível em https://chat.openai.com/chat (texto
revisto e adaptado)
CARREIRO, José. “Morrer de Brasil”. Portugal, Folha de Poesia, 21-05-2020 (última atualização: 19-02-2023). Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/morrer-de-brasil.html
domingo, 10 de maio de 2020
A poética pandémica
sexta-feira, 8 de maio de 2020
Barcas novas - variações de uma cantiga de Joan Zorro
- Estrutura formal do poema e sua relação com o conteúdo;
- Poema de intervenção;
- Relações intratextuais com a lírica trovadoresca;
- Atualidade do tema.
Cantiga à maneira de Joan Zorro
Em Lisboa, sobre o mar,
A cantiga é, na verdade, uma forma medieva "equivalente à cansó provençal ou à chanson francesa", uma estrutura poética tradicionalmente destinada ao canto e à instrumentação. À maneira de Joan Zorro — trovador que viveu entre o final do século XIII e o início do século XIV —, José Rodrigues de Paiva utiliza a quintilha com o esquema rimático ABAAB e o verso heptassilábico, a redondilha maior, medida que, como leciona Amorim de Carvalho (1904-1976) em Teoria geral da versificação, é o verso "[...] por excelência das canções populares e dos nossos romanceiros. De grande maleabilidade, pela sua acentuação incerta, presta-se a todas as expressões emocionais e a todos os temas." A composição evoca o mar lisboeta com as suas barcas. Enquanto trovador, o sujeito lírico louva a beleza da senhora. Mas exalta, também, como num metapoema moderno, o seu próprio canto.
Partindo da cantiga medieva de João Zorro, organizada em dois pares de dísticos de paralelismo semântico — anafóricos e intercomunicantes (o 2º v. do 1º é o 1º do 3º e o 2º do 2º é o 1º v. do 3º), unificados pelo refrão, José Rodrigues de Paiva cria o seu poema — Em Lisboa sobre o mar.
Mantém um verso tradicional, a redondilha maior, mas amplia a estrofe e o seu número. Opta, assim, pela quintilha, elaborando quatro, e funda a intertextualidade, prendendo-se de imediato ao 1.9 verso e disseminando vocábulos que configuram uma ordem lexemática de marinha ou barcarola: barcas novas.
O sujeito poético entra num discurso dialógico mitigado: distribui pelo poema uma série de apóstrofes que, recorrentemente, constroem uma cantiga de amor: minha senhora tão linda, Senhora, senhora minha, minha senhora tão linda. De notar que é na circularidade da 1.ª, na força expressiva da sua função emotiva, que o texto se conclui. O movimento de adoração é verdadeiramente em anábase, uma vez que ao ritmo contínuo dos três versos finais se soma a declaração do trovador moderno:
Apenas por te louvar
Meu coração pulsa ainda
CARREIRO, José. “Barcas novas - variações de uma cantiga de Joan Zorro”. Portugal, Folha de Poesia, 08-05-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/05/barcas-novas-variacoes-de-uma-cantiga.html