sexta-feira, 22 de março de 2013

EPIDAURO (Sophia de Mello Breyner Andresen)




EPIDAURO

O cardo floresce na claridade do dia. Na doçura do dia se abre o figo. Eis o país do exterior onde cada coisa é:

     trazida à luz
     trazida à liberdade da luz
     trazida ao espanto da luz


Eis-me vestida de sol e de silêncio. Gritei para destruir o Minotauro e o palácio. Gritei para destruir a sombra azul do Minotauro. Porque ele é insaciável. Ele come dia após dia os anos da nossa vida. Bebe o sacrifício sangrento dos nossos dias. Come o sabor do nosso pão a nossa alegria do mar. Pode ser que tome a forma de um polvo como nos vasos de Cnossos. Então dirá que é o abismo do mar e a multiplicidade do real. Então dirá que é duplo. Que pode tornar-se pedra com a pedra alga com a alga. Que pode dobrar-se que pode desdobrar-se. Que os seus braços rodeiam. Que é circular. Mas de súbito verás que é um homem que traz em si próprio a violência do toiro.

Só poderás ser liberta aqui na manhã d’Epidauro. Onde o ar toca o teu rosto para te reconhecer e a doçura da luz te parece imortal. A tua voz subirá sozinha as escadas de pedra pálida. E ao teu encontro regressará a teoria ordenada das sílabas — portadoras limpas da serenidade.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia, 1967

Teatro de Epidauro

Na sua Obra poética, a escritora oferece indícios de que é na declamação, ou na leitura que nos penetra os ouvidos, que reside a “sorte de conhecer o poema”, estando também presente o aprendizado da sílaba e o da poesia de Sophia: “A tua voz subirá sozinha as escadas de pedra pálida. E ao teu encontro regressará a teoria ordenada das sílabas – portadoras limpas da serenidade” (ANDRESEN, 1991b, p. 65). A presença de um princípio teórico em Sophia de Mello Breyner Andresen expressa-se, no poema “Epidauro”, retirado da obra Geografia (1967), através de uma “teoria ordenada das sílabas”, articulada com uma linguagem rica em símbolos da Antiguidade clássica, dado que se estabelece em relação ao título do poema e à presença de certas evocações da cultura grega ao longo do discurso. Segundo Alfredo Bosi (2000), a concepção de som no poema pode ser associada à voz: “a voz abre caminho para que se dê uma nova presença dos seres: a re-presentação do mundo sob as espécies de significados que o espírito descola do objeto. A voz produz, no lugar da coisa, um fantasma sonoro, a palavra” (BOSI, 2000, p. 72). A palavra tem um sentido de voz na poesia de Andresen, conforme a escritora informa aos leitores no trecho final em “Arte Poética V”:

 

Tempos depois, escrevi estes três versos:

 

A voz sobe os últimos degraus

Oiço a palavra alada impessoal

Que reconheço por não ser já minha.

 

Essa palavra, representada na voz desprendida do sujeito lírico, que sobe sozinha as escadas no antigo teatro, chama atenção para os primeiros conceitos de poesia lírica no mundo antigo, para os conceitos de som, de metro e de ritmo, para a concepção de movimento, dos quais a lírica de Sophia pode tomar corpo: “Só poderás ser liberta aqui na manhã d’Epidauro” (ANDRESEN, 1991b, p. 65). Por outro lado, as sílabas “portadoras limpas da serenidade” também fazem alusão à poesia produzida pelos gregos, cuja técnica utilizava um sistema quantitativo para medir os versos pela unidade de tempo, já que, por meio delas, é possível conhecer a alternância entre sons fortes e fracos, podendo-se sentir a cadência do verso e estabelecer um sentido. O ensinamento sobre uso da voz e o recebimento de uma teoria das sílabas aproximam-se da concepção da arte como inspiração das musas, representada na voz alta e livre, destinada a um público, uma arte produzida para uma ocasião de recitação e de performance, de interiorização e de exteriorização, como ressalta Johannes Pfeiffer (1966):

 

[...] o metro é o exterior e o ritmo o interior; o metro é a regra abstrata, o ritmo a vibração que confere vida; o metro é o Sempre, o ritmo o Aqui e o Hoje; o metro é a medida transferível, o ritmo é animação intransferível e incomensurável (PFEIFFER, 1966, p. 18, apud CHOCIAY, 1974, p. 3).

 

Na Obra poética, o metro e o ritmo são analisados e entendidos como a música da poesia, pois se manifestam em um arranjo de sons, em uma melodia de sílabas átonas e de sílabas tônicas, para representar a visão de mundo da escritora, como assinala Sophia Andresen em “Arte poética II”, do livro Geografia (1967), para alertar o leitor acerca da questão: “Se um poeta diz ‘obscuro’, ‘amplo’, ‘barco’, ‘pedra’, é porque estas palavras nomeiam a sua visão de mundo, a ligação com a coisas” (ANDRESEN, 1991b, p. 96).

Rosa Maria Martelo (2005, p. 61) considera que é uma característica da poesia de Andresen traçar uma sequência organizada de sons, salientando que essa teoria não implica a assimilação tradicional de um sistema, nem pode ser compreendida como algo imposto ao poema, mas refere-se a uma peregrinação ou um desfile solene. Segundo a pesquisadora, é importante compreender o pensamento da escritora, quando ela procura demonstrar a teoria através da distinção entre declamar e ouvir. Nesse sentido, Sophia Andresen enfatiza o valor atribuído ao som produzido no anfiteatro de Epidauro para sua criação poética, conforme pode ser analisado no trecho final do texto “Arte poética V”: “Um dia em Epidauro – aproveitando o sossego deixado pelo horário de almoço dos turistas – coloquei-me no centro do teatro e disse em voz alta o princípio de um poema. E ouvi, no instante seguinte, lá no alto, a minha própria voz livre, desligada de mim” (ANDRESEN, 1991b, p. 349, apud MARTELO, 2005, p. 61). No Epidauro está “a teoria ordenada das sílabas”, que é revelada não só na audição de sons dos fonemas, mas, principalmente, na relação dos sons entre si, que se ordenam ou se organizam, com o fim de mostrar um sentido ao leitor. Este pode ser percebido verso a verso, na repetição de sílabas e no interior dos versos, sendo preciso ainda comparar suas repetições e suas variações, para melhor compreender os diferentes significados do texto poético: “trazida à luz/ trazida à liberdade da luz/ trazida ao espanto da luz” (ANDRESEN, 1991b, p. 65).

A Poética Musical de Sophia de Mello Breyner Andresen, Karoline Pereira. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021


sporadicq:  Minotaur in Labyrinth, Roman mosaic at Conímbriga, Portugal.:
Minotauro, Conimbriga


“…sob os muros de Cnossos”: o Minotauro e o labirinto 

Como é sabido, o Minotauro era um monstro com cabeça de touro e corpo de homem, fruto da relação entre a mulher do rei Minos, Pasifae, com um touro; a criatura foi encerrada num labirinto construído por Dédalo, e todos os anos sete jovens e sete donzelas eram trazidas de Atenas para que o monstro as devorasse; mais tarde, com a ajuda de Ariadne, o Minotauro seria morto pelo herói Teseu (Grimal, 1999: 314). Este mito interessa particularmente a Sophia e, num poema em prosa de Geografia intitulado “Epidauro”, o sujeito poético, que parece identificar-se com a autora (reparese no feminino “vestida”) assume-se como uma espécie de Teseu (“Gritei para destruir o Minotauro”), procurando vencer o monstro não através da espada, mas da representação:

 

(…) Eis-me vestida de sol e de silêncio. Gritei para destruir o Minotauro e o palácio. Gritei para destruir a sombra azul do Minotauro. Porque ele é insaciável. Ele come dia após dia os anos da nossa vida. Bebe o sacrifício sangrento dos nossos dias. Come o sabor do nosso pão a nossa alegria do mar. Pode ser que tome a forma de um polvo como nos vasos de Cnossos. Então dirá que é o abismo do mar e a multiplicidade do real. Então dirá que é duplo. Que pode tornar-se pedra com a pedra alga com a alga. Que pode dobrar-se que pode desdobrar-se. Que os seus braços rodeiam. Que é circular. Mas de súbito verás que é um homem que traz em si próprio a violência do toiro. (…) (Andresen, 1996: 65).

 

O Minotauro simboliza o medo, que é vencido quando representado; e daí o título do poema, Epidauro, o mais famoso dos teatros gregos. Assim se retoma o tema da origem do género trágico, bem explicada por Friedrich Nietzsche (1844-1900) no seu famoso ensaio O nascimento da tragédia, de 1872. Aí, o autor refere que a Grécia Antiga não era só feita de claridade apolínea, mas também de força dionisíaca, e explica como ambas se conjugaram para dar origem à tragédia. Sophia, no ensaio O Nu na Antiguidade Clássica, torna muito clara essa relação:

 

O espírito apolíneo aparece sempre conjugado com a força dionisíaca. (...) A claridade grega é uma claridade que reconhece a treva e a enfrenta. A claridade daqueles que interrogam a esfinge e que penetram no labirinto para combater a escuridão e a violência do toiro. Os Gregos inventam a tragédia porque sabem que a treva existe e a interrogam e a enfrentam (Andresen, 1992: 23).

 

No poema acima transcrito, o medo constante (“come dia após dia os anos da nossa vida”), que também pode ser simbolizado por um “polvo” rodeando o homem por todos os lados, é infundido, conclui Sophia, não tanto pelos monstros exteriores ao homem mas pelos seus próprios labirintos interiores e pela violência com que trata o seu semelhante – “é um homem que traz em si próprio a violência do toiro”. Assim, a representação do medo, através da tragédia, foi um excelente método para o exorcizar, como constatamos num outro poema de Dual, intitulado “O poeta trágico”:

No princípio era o labirinto

O secreto palácio do terror calado

Ele trouxe para o exterior o medo

Disse-o na lisura dos pátios no quadrado

De sol de nudez e de confronto

Expôs o medo como um toiro debelado

                               (Andresen 2004: 60)

 


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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Poema destinado a haver domingo (Natália Correia)


Helena Oliveira: Voz
Natália Correia: Poema 
Aníbal Raposo: Música
Carlos Frazão: Arranjo e Piano
Joaquim Teles (Quiné): Bateria
Manuel Rocha: Violinos
Mike Ross: Contrabaixo (2007)
            
            
          
          
            
          
POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento.
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio do cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha 
Onde o Amor por fim tenha recreio.
         
Natália CorreiaPassaporte. Lisboa, Ed. Gráf. Portuguesa, 1958
         


       
LINHAS DE LEITURA
        
“E que o mar dê o fruto duma ilha 
Onde o Amor por fim tenha recreio.”
Na Ilha de Natália, assim como numa certa Ilha referenciada em Os Lusíadas,habita o Amor.
“De longe a Ilha viram fresca e bela,
Que Vénus pelas ondas lha levava
(Bem como o vento leva branca vela)
Para onde a forte armada se enxergava;
[…]” (IX, 52, 1-4)
Repare-se em certos sentidos que ambos os poemas comungam:
‑ No poema de Natália, o campo lexical de “navegação” comunica com o de Camões: “estrela”, “navio em movimento”, “ave”, “vê-la” (parónimo de vela de uma embarcação), “vento”, “céu”, “mar”, “ilha”.
‑ O ponto de ancoragem é comum: uma ilha onde se recreia o Amor: a formosa ilha alegre e deleitosa” (IX, 54, 4), onde “Vénus com prazeres inflamava” (IX, 83, 6).
A Ilha de Natália, “Onde o Amor por fim tenha recreio”, é vista como um “fruto”, uma compensação (“por fim”) desejada.
Num domingo, normalmente destinado a relaxar (v.13), a poetisa mostra-se confiante no devir (“Baste o que o tempo traz na sua anilha”, v. 17), de modo que assim “Como uma rosa traz Abril no seio” (v.18) também ela antevê o seu fruto merecido: a ilha (mitificada no ideário de Natália Correia).
O eu poético está consciente do aqui e agora do poema: “Na discreta ambição do meu novelo // Só há espigas a crescer comigo” (vv. 8-9). Repare-se no estado de introspeção e ensimesmamento (“meu novelo”, “crescer comigo”) que leva a poetisa a desejar evadir-se com o mínimo de estímulos externos: “Bastam-me as cinco pontas de uma estrela /E a cor dum navio em movimento” (vv. 1-2), “Basta-me a lua ter aqui deixado / Um luminoso fio do cabelo” (vv. 5-6); “Baste o que o tempo traz na sua anilha” (v.17): “o fruto duma ilha” (v. 19).
Para enriquecer esta leitura, proponho ao leitor que proceda à interpretação de marcas espiritualistas no poema de Natália Correia. (Sugiro também como leitura extensiva os estudos sobre os valores espiritualistas portugueses e a sua tradução na cultura portuguesa com incidência no culto do Espírito Santo.)

José Carreiro, “Poema destinado a haver domingo (Natália Correia)” in Folha de Poesia, 2013-02-04, <https://folhadepoesia.blogspot.com/2013/02/poema-destinado-haver-domingo-natalia.html>

         
NATÁLIA CORREIA (Furnas, 1975)
in Retratos de Família, Ana Isabel Serpa, Ângela Furtado Brum, Eduarda Silva Melo,
José Maria de Aguiar Carreiro, Mário Félix do Couto,
Ponta Delgada, Escola Secundária Domingos Rebelo, 2008
   

PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE:
        

           
 O panteísmo pentecostal de Natália Correia e o culto do Espírito Santo nos Açores: análise de um inédito, Ângela Almeida, 2005. (Tese de doutoramento apresentada no Departamento de Línguas e Literaturas Modernas da Universidade de Lisboa) 





[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2013/02/04/PoemaDestinadoAHaverDomingo.aspx]

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

ILHA, Pedro da Silveira

         
        
ILHA
            
Só isto:
                 O céu fechado, uma ganhoa
pairando. Mar. E um barco na distância:
olhos de fome a adivinhar-lhe, à proa,
Califórnias perdidas de abundância.
          
Pedro da Silveira
A Ilha e o Mundo, 1952
                   
ilha de São Jorge, por Diografic, agosto de 2017


Pedro Laureano Mendonça da Silveira, natural da Ilha das Flores, nos Açores, foi um poeta e investigador de avantajada cultura, com colaboração dispersa em numerosas revistas, açoreanas e continentais. Pertenceu ao conselho de redacção daSeara Nova até 1974. É autor de vários livros de poesia, estreando-se com A Ilha e o Mundo, editada em 1953, e de duas antologias de poetas açoreanos, a primeira das quais com um prefácio em que autonomiza a literatura deste arquipélago em relação a todas as outras literaturas de expressão portuguesa. Foi, depois do 25 de Abril, membro da comissão de gestão BN, tendo-se reformado como director de serviços desta instituição.
O espólio (34 cx.) engloba manuscritos do autor, (com destaque para a organização de antologias e outros projectos de edição), correspondência, documentos biográficos, recortes de imprensa e alguns manuscritos de terceiros.
Doação faseada do autor iniciada em 1981 com incorporações em 1995, 1997 e 1998. Em Abril de 2003 o acervo foi completado com a doação do remanescente por parte da viúva do escritor, Sra. D. Athiná Mendonça de Oliveira Dáskalos da Silveira.
      
                               




Cartão de identidade de Pedro da Silveira como membro da Casa dos Açores, 1958
BNP Esp. E39/cx. 6
        
          
        
SILVEIRA, PEDRO DA
         
N. Fajã Grande, ilha das Flores, 5.9.1922 – m. Lisboa, 13.4.2003]
Fica-lhe bem o epíteto de o mais ocidental poeta europeu, por ter nascido no ponto em que a Europa e a América mais se aproximam uma da outra. Talvez esse facto e a existência de uma forte tradição migratória na família (ele próprio possuía passaporte americano) ajudem a explicar a inquietação e a errância intelectual deste homem, poeta, investigador histórico e literário, tradutor, etnógrafo.
Nos anos 40 do século XX, na cidade de Ponta Delgada, transformou o jornal A Ilhanum pólo aglutinador de jovens intelectuais; neste jornal divulgou a moderna literatura cabo-verdiana (revista Claridade, de 1936), cujos autores também nele colaboraram.
O seu primeiro livro de poemas atestaria de forma irrecusável esse contacto com os poetas cabo-verdianos e também com um poeta brasileiro como Manuel Bandeira. De resto, a poesia de Pedro da Silveira soube sempre assinalar uma forte vinculação ao chão açoriano, ao mesmo tempo que se desdobrava num constante e profícuo diálogo com «as ilhas todas do mundo», em termos culturais e poéticos.
Em 1951, Pedro da Silveira fixou residência em Lisboa, tendo exercido aí várias actividades e reformando-se em 1992 como director de serviços da Biblioteca Nacional. Redactor da revista Seara Nova até 1974, deixou colaboração dispersa pela imprensa nacional e estrangeira, do Brasil ao México, de Cabo Verde a Moçambique.
A sua Antologia de Poesia Açoriana – do século XVII a 1975 (Lisboa, Sá da Costa, 1977) reúne um precioso manancial de informação histórica e biobibliográfica; o extenso verbete «Açores» no Grande Dicionário de Literatura Portuguesa e de Teoria Literária, de João José Cochofel, constitui uma excelente amostra do que viria a ser a História da Literatura Açoriana, que andava a preparar quando faleceu.
Pedro da Silveira foi ainda um atento pesquisador literário e etnográfico, como o reconhece o investigador Gerald Moser e o atestam as numerosas recolhas de exemplares da oratura que efectuou e de que deu conta em publicações avulsas.
Deve-se a Pedro da Silveira a reedição de Almas Cativas (Lisboa, Ática, 1973), de outro grande poeta açoriano, o simbolista Roberto de Mesquita, cuja lição de enraizamento poético não deixa de repercutir em Silveira, embora já em diferentes modulações expressivas e estéticas, que passam, entre outras coisas, pela utilização de processos discursivos da oralidade: a transposição da fala popular, o tom narrativizante de alguns poemas e de algumas sequências poéticas que muito devem à tradição narrativa popular.
           
Obras. Poesia: (1952), A Ilha e o Mundo. Lisboa, Centro Bibliográfico. (1962), Sinais de Oeste. Lisboa, Ed. do autor. (1985), Corografias. Lisboa, Perspectivas & Realidades. (1999), Poemas Ausentes. Santarém, O Mirante. A sua obra completa começou a ser publicada pela Direcção Regional da Cultura, sob o título deFui ao mar buscar laranjas, de que saiu apenas o 1.º volume (Angra do Heroísmo, 1999).
Diversos: (1986), Mesa de Amigos, Angra do Heroísmo, Direcção Regional dos Assuntos Culturais. (2.ª ed., Lisboa, 2002), traduções de poesia feitas ao longo de mais de trinta anos; (s.d.), 43 Médicos Poetas(antologia). Porto, Laboratório Normal. (1999); Antologia Poética, de Joaquim Fortunato de Valadares Gamboa. Santarém, Ed. O Mirante.
        
Bibl. Fagundes, F. C. (1999), A Visão da Outra Margem: A emigração em A Ilha e o Mundo de Pedro da Silveira, in Gávea-Brown, Providence, Department of Portuguese and Brazilian Studies, Brown University, Dec., XIX-XX. Sousa, J. R. (2000), Pedro da Silveira: um viajar no tempo e nas palavras, in Atlântida, Angra do Heroísmo, XLV. Bettencourt, U. (2003), Pedro da Silveira- a escrita e o mundo, in Ilhas conforme as circunstâncias. Lisboa, Edições Salamandra.
           
Silveira, Pedro da”, verbete da Enciclopédia Açoriana, Urbano Bettencourt
© 2011 Direção Regional da Cultura, Centro de Conhecimento dos Açores
            
        
Pedro da Silveira
          
     
Pedro da Silveira. Quando ser poeta era outra coisa

Apagado desde a sua morte, em 2003, o poeta açoriano vê finalmente reunida a sua obra, numa edição que traz à luz um livro inédito e vários dispersos, mas que, antes de tudo, nos obriga a reconhecer a inquieta grandeza da sua voz. 

“Ilhéu da casca até ao cerne”, descreveu-se Pedro da Silveira. E quanto ao feitio lixado, mesmo os admiradores e amigos não o escondem, e ele também não se desculpa. No seu “Soneto de Identidade”, explica como lhe está na natureza – o que é que se há-de fazer? –, e até no nome, pois “Pedro é pedra; picante agudo assomo/ de silva dos silvedos – não me dou!” E se lhe dava tão facilmente para se arreliar, se até agradece a destemperança de feitio – “os meus desdéns soberbos/ e sarcasmos ferozes” –, essa outra forma de errância, de exumar “lendas e sepultas verdades” não cai bem entre as repartições do ego. As meninas do guichet não carimbam, não se vai a lado nenhum. Mas no que toca à poesia, quem não se dá nem pede licença, e também não engole sapos, paga o preço que se sabe. E, contudo, a vingança na poesia é uma constante, e basta que resistam umas poucas páginas para acabar dando razão a esse que não negou à língua a maldade, essa que tanta justiça faz ao modo como a vida entre nós se arranja. De resto, o que podia esperar-se de um poeta que deve a nobreza das suas impressões a um feroz sentido crítico. Traindo este, seria natural que a musa se enfadasse. De resto, ninguém leva a mal se se disser o pior desde que a culpa se dilua entre todos, e todos, assim, se sintam ilibados. A tendência é até para concordar com os arrasadores diagnósticos gerais. No particular é que a coisa fia mais fino. Ora, sendo natural da Fajã Grande, uma freguesia rural da ilha das Flores, Pedro da Silveira sentiu a fundo essa espécie de agonia de sentir como “as horas vão, morosas como lesmas,/ rastejando por sobre o nosso tédio” (Roberto de Mesquita), em que, a ânsia de ver quebrar-se a monotonia, chega ao ponto de se desejar que haja um naufrágio, sem mortos, só para que o fio do tempo se tensione. Um espírito são não chega a implorar por uma tragédia, com mortos e assim, mas só a ignição para a mínima intriga, e é natural, por isso, que a modorra da vida numa ilha pequena entre a Europa e a América cultive esses espíritos chagados por não acontecer nada (“fora de nós, pelo menos”). É por dentro que tudo se contorce, e sem sinal de baleia lá fora, recria-se ou genial ou mesquinhamente alguma agitação. Isso justifica a imunda fauna do tédio que é tão comum em meios pequenos. Esses carácteres absurdos, terríveis, essas figuras insuportáveis de tontas, esse beatério com a sua insidiosa perseguição: “Todos os dias a pesar pecados/ na balança velha do céu”. Silveira, que cedo foi cirandando entre as ilhas, antes de, em 1951, ter ancorado em Lisboa, não chegou nunca a libertar- do sonho antigo de evadir-se, e tinha na carne as marcas dessa lenta dilaceração do que, de tanto esperar, nos torna íntimos da ausência. “Que vida monótona a vida da vila!.../ Sem cinema nem teatro/ nem luz eléctrica/ nem automóveis,/ nada do que dizem que têm as terras grandes...” As reticências abundam nestes poemas, e percebe-se como foge a desfazer-se nelas, a ceder àquele registo moribundo de quem escreve, não para a gaveta, mas para a garrafa que há-de ser entregue à maré, na esperança de que leve os versos mais longe do que merecem. Por outro lado, há um evidente apego à matéria, à exterioridade mais comum e que dá por quotidiano. “Não; não cultivo a poesia/ intemporal e profunda:/ a minha é quotidiana,/ imediata, o que abranjo/ vivo, visível, real;/ ou que, lembrado, me sobe/ pelos degraus da memória.” Mas se insiste nos “nomes próprios das coisas”, o poeta não se serve delas para se rebaixar comprazido. Não faz dos versos um bicho que no colo ronrona satisfeito nesse ir e vir da “cadeira-de-balanço/ como tantas que há/ nas terras pequenas das ilhas pequenas/ guardando sonhos e desenganos/ de várias gerações...” De resto, não é difícil encontrar traços em comum com Raul Brandão, esse que a propósito da ilha das Flores, escreveu: “A vida não me interessa. Algumas florentinas esbeltas, de xale escuro pela cabeça, alguns tipos de homens fortes – e mais nada. De ilha a ilha – Corvo e Flores – vão quinze milhas – mas que distância as separa!... (…) Compreendo o Corvo, não compreendo os interesses mesquinhos, moídos e remoídos numa pequena vila isolada a cem léguas do mundo. Vejo às janelas, por dentro das vidraças, fisionomias tristes de velhos que estão desde que se conhecem à espera de quem passa – e não passa ninguém. É aqui que o hábito deita raízes de ferro. Oh, meu Deus! descubro que a gente enterrada há cinquenta anos se encontra outra vez nas Flores, viva e aferrada às mesmas palavras e às mesmas manias do passado, numa meia-sombra em que se cria bolor. Estou talvez no Purgatório – o Inferno é mais ao norte... Certos seres mortos na minha mocidade, e que eu não sabia onde se tinham metido, foram desterrados para as Flores. Até personagens de romance! (…) Visitei uma senhora de idade que nunca saiu de casa e até a paisagem da ilha desconhece. Quem não trabalha só pode fazer uma coisa: sentar-se nos bancos de pedra da Misericórdia e esperar a morte. E na verdade aqui tanto faz estar vivo como morto e sepultado num jazigo de família.”




Curiosamente, Silveira termina o poema “Outra vez no Corvo” com a mesma impressão: “Ermo com gente:/ vivos e mortos confundidos.” Mas é no poema “Toada dos Jornais Velhos” que melhor nos explica os constrangimentos de estar isolado do mundo, dando-nos, assim, o mais tocante retrato do intelectual no exílio, esse que não se resigna e, ao invés de sentir a distância como um empecilho, faz-se valer dela para recriar na sua cela as notícias que lhe chegam desse mais vasto teatro: “Maços de jornais já velhos/ de Lisboa e mais d’América,/ do Faial e da Terceira:/ têm dez dias, quinze, trinta/ as novas que me eles contam: novas de nada de novo/ para mim de novidade desses mundos lá de fora:/ sempre-vivas flores secas/ para mim como de quando.// Abro-os, ordeno-os por datas,/ e leio-os de ponta a ponta,/ releio-os, torno-os a ler,/ já de cor tudo lhes sei/ e o que foi, quanto me dizem/ não foi outrora, é agora,/ nem longe, nos longes que/ longes são a mais de longe:/ tão perto como se aqui/ nesta sala em onde os leio.” O poeta fala do que é ter trinta dias para contar entre cada remessa, trinta dias de intervalo até que chegue novo maço de jornais, então já velhos, mas: “Que me importa já ter sido?/ Que me importa quando foi?/ Ausente, vivo em presença;/ participo, mesmo ausente.”

Pedro da Silveira morreu em Lisboa, em 2003, aos 80 anos. Não parecia acreditar ou deixar-se seduzir pela ideia de posteridade (“Sempre soube que devemos morrer/ e penso que é melhor/ não se saber quando nem como./ E quanto ao que deixámos,/ não se recorde de quem foi./ Que só assim somos eternos.”). Além do mais, sempre se mostrou insatisfeito com os poucos livros que chegou a editar. Publicou quatro livros – A Ilha e o Mundo (1953), Sinais de Oeste (1962), Corografias (1985) e Poemas Ausentes (1999) –, além do primeiro volume do que teria sido a reedição integral desta obra poética – “Fui ao mar buscar laranjas” (1999). Raramente, um ou outro lá surge como destroço de alguma biblioteca que perdeu o seu leitor, mas nem estão devidamente valorizados, e vendem-se a um preço igual ao de tantos livros da “maioria dos mesmos da vida literária portuguesa, tão satisfeitos de si mesmos que escrevem sempre um livro pior do que o anterior” (Jorge de Sena). Para que se diga que Pedro da Silveira é, hoje, um poeta esquecido, era preciso que alguma vez tivesse sido outra coisa que não um poeta absurdamente desvalorizado. A boa notícia é que o Instituto Açoriano de Cultura inaugurou uma colecção de poesia, sob a direcção do poeta e crítico Carlos Bessa, com a reunião da obra de Silveira. Urbano Bettencourt preparou esta edição de pouco mais de 400 páginas e que, no essencial, retoma o projecto de reedição. Trata-se de um desses acontecimentos editoriais  de primeira grandeza e que, se são ignorados, isso deve-se simplesmente ao facto de, neste país, do ponto de vista cultural, não restar um número suficiente de intelectuais e críticos minimamente responsáveis, e capazes de, numa ou noutra circunstância, fazer coro exaltando o que quer que seja.

Não sendo possível nem desejável falar para toda essa terra onde a poesia vem triunfando como outra forma de populismo, em que, na falta de um destino mais alto, considerar-se poeta é uma forma de orgulho, uma “obstinação maníaca do ressentimento”, pelo menos, ainda vai sendo possível “dizer um segredo a um só ouvido”. E assim, como se se tratasse de uma indecência absoluta, diga-se que Pedro da Silveira é um grandessíssimo poeta. A coisa deve ser dita soando a uma divinal injúria, reforçando o quanto isso revela um alto grau de danação entre os homens. E o resgate de um poeta destes traria um sentido de regeneração quando da poesia querem fazer um último palco, uma espécie de tábua de salvação para a canalha. De tão íntegra, tão fiel aos seus conflitos, a voz que aqui nos fala das coisas como elas podem entender-se de forma clara, contadas com essa urgência da “curiosidade deslumbrada do mundo”. 

“Poema feito de esperas e de longe,/ cheirando a sal”, mesmo se o poeta abandonou as nove ilhas e cada um dos seus lugares, a canção que não se cansa do mundo diz-lhe, como a epígrafe de Severo Sarduy a “Ossos na Areia” – caderno de inéditos que Silveira ainda deixou preparado –, no fim, “regressarás à tua terra, mas por outro caminho”. A ilha como que vaga com ele, o mar ainda o cerca de todos os lados, fazendo-se sentir, como esse silência que lhe pesa nos ombros e na cabeça: “E desce-me, como um líquido peganhento, ao longo do corpo. É um silêncio que se fixa, e ao mesmo tempo móvel – mas tão lento, tão lento!, dir-se-ia que vagarosamente engrossa, um corpo disforme de silêncio. (...) E no entanto, não sei porquê, não me mortifica: integra-me na paz vazia de estar vivo dentro desta morte azul e prata.”

É evidente o muito que a poesia tem a ganhar com esse talento para expandir coisas de nada, essa habituação dos sentidos ao ínfimo, a esses lugares da terra tão desertos de passos, em que, para fugir “de habitar a Morte”, habituando-se, o poeta vive em permanente estado de vigília, cultivando uma atenção salva-vidas. Assim, evita essa forma de desespero de quem toma o próprio pensamento por “uma inútil recordação de sobrevivente”. Inútil porque se está “num mundo-além-morte”. “No cimo do morro alto”. Silveira permanece “no pólo meridional deste Mundo-por-dentro, na sua Antártida-às-avessas.” A sua voz é uma longa, bela e triste história, contada e enriquecida ao longo de gerações, como “sangue de sombras que a memória avança”.

No prefácio a esta edição, Urbano Bettencourt assinala esta função da história que de si a si mesmo conta o poeta, como para não se deixar perder na corrente nem diluir naquela “paz de espelho velho”: “A evocação e a ordenação levadas a cabo pela memória serão, assim, um último exercício de auto-sobrevivência.” No desafio ao "íntimo oco" que formam o céu e o mar, o poeta dá-nos, mais que nomes, coordenadas, como a dessa "Praia do Fim", e dá-nos notícias das "sete barcas que o mar aqui tragou". São lugares que, ao longo dos séculos, quietamente, renovam o seu perigo, a sua virgindade alimentando-se de destroços, e que, assim, têm como um cadastro, onde estão inscritos os nomes de embarcações mais ou menos célebres a que deu um fim: "Da Nova Caledónia rumo a França,/ foi aqui que a Bidarte naufragou.// Pedregulhos, da carga, por lembrança,/ amarelos e verdes n'onde estou.../ – Lá fora, dela, mais o olhar alcança/ o ferro que um arrecife cativou." Assinando um dos nossos mais belos sonetos, Silveira está com Pessanha naquela caliginosa fluência, acrescentando algo mais ao seu assombro. Serviu-lhe bem a dura aprendizagem do ilhéu, fazendo da memória e do próprio eco um avanço: "Praia do Fim da Europa escura e baça/ onde ao redor só cresce a vil margaça,/ a perrejil, o cubre, a usaidela...// aqui – oh caos de rolos e salvados! –/nestes baixios negros desolados,/ desde Velasco e Teive a morte vela!"

Bettencourt recorda-nos ainda o leitor extraordinário que Silveira foi, desde o largo convívio que manteve com a literatura popular, o que se pressente na buliçosa entoação dos versos, nas suas modulações, como, a par dessa investigação, o diálogo que manteve com tantos nomes maiores da literatura, oferecendo-nos uma das mais exigentes e admiráveis antologias pessoais entre nós publicadas. No volume de traduções “Mesa de Amigos”, não há um poema a mais. Mas com a confiança que é natural num leitor que não precisava que outros lhe dissessem o que é a grande poesia, mesmo servida em prosa, na sua obra, Silveira recolhe sobressaltos maravilhosos que recebeu de outros, nessa indefinição de quem não distingue as vozes que se ouvem das que se lêem com maior fervor, e tal como nos diz que vasculhos de todas as raças lhe sifilizaram o sangue, também essa forma de memória cheia de futuro que é a poesia guarda laços de sangue improváveis com autores cujo rasto não se firmou entre nós. Há uma epígrafe fabulosa recolhida de um livro de versos do poeta brasileiro Afonso Félix de Sousa, em que além da “praia espessa do espanto”, que serve como uma das melhores noções desse retiro daquele que tira do mundo o bastante para se defender dele nas horas piores, nos diz que “força é acordares no estrangeiro que, pálido, acorda no teu íntimo.” Os envios de Silveira nunca são meramente decorativos, não funcionam como adereços ou enfeites. Nem muito menos são desses sinais de fumo entre os membros de uma dispersa tribo que se servem da erudição em elaborados cumprimentos que não querem, afinal, dizer nada de mais profundo. Como nota Steiner, citando o crítico francês Roger Caillois, “numa época cada vez mais incapaz de ler, quando até os espíritos instruídos não dispõem de conhecimentos clássicos ou teológicos mais do que rudimentares, a erudição torna-se em si própria um tipo de fantasia, uma construção surralista”. Isto explica porque, ao lermos os poemas e os ensaios pejados da quinquilharia de certas referências que estão ali como “flores de plástico na montra de um talho”, a sensação que temos é que a nossa época não faz mais que produzir um longo cadáver esquisito, perfumando-o de erudição para disfarçar o fedor.

Pelo contrário, nesta poesia tudo participa de um moto-contínuo, e cada eco é consumido na invenção de um novo hálito. Há, de resto, aqui um ímpeto que faz, nalguns poemas, um aceno à épica. No segundo dos “Sete romances imperfeitos” Silveira dedica em recordação de alguns familiares, e das experiências que foram decisivas para a construção do seu próprio mito biográfico, temos um corte com esse ânimo frio e que, mesmo se fero, parece um tanto recatado, como se não houvesse margem na nossa lírica para algo mais aventuroso. Tomando balanço no desabrido registo de Blaise Cendrars, de quem traduziu vários poemas, traça de si mesmo um estrondoso retrato: “Remotos sangues confluindo desde a Ásia à Europa no meu sangue./ Remotos, velhos, remoçados sangues/ do longe aos longes feitos./ - Mancha mongólica enigmática/ na minha pele de descendente,/ um pouco claro,/ de Gomes Dias Rodovalho/ e de Willem van der Haague… (…) babilónia de sangues/ noutros sangues inventando/ um novo sangue!/ Povos que se copulam, exterminam/ – e, sobre o amor e a morte, vivos! (…) Nómadas, oh força, sangue bruto, oh cruel/ e amorável sangue meu/ de esforçados! (…) Sangue indomado, indomável até onde/ é a razão indomável// – qual o vento do largo, cuja fúria desata/ as cadeias da água (…) Sangue de achar o retido no sono/ dos confins da água/ e dos cerros da terra! (…) Na minha voz as vozes/ amargosas de todos,/ sobre o lume do tempo/ e seus passos queimados!”


Diogo Vaz Pinto, Jornal i, 02/09/2019



        
   Sugestões de leitura
   
           
OBRA DE PEDRO DA SILVEIRA. ENSAIOS. ESTUDOS
BOLETIM DO NCH Nº 15, 2006    
   
    

    
     

   

[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2013/01/30/PedroDaSilveira.aspx]
[Última atualização: 2019-09-02]