sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Endechas a Bárbara



Endechas a uma cativa com quem andava de amores na Índia,
chamada Bárbara

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

Ũa graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

             Luís de Camões


TÓPICOS DE ANÁLISE

• Retrato feminino singular, diferente do retrato ideal renascentista, imagem mais diretamente ligada ao real.
• Retrato valorativo apreciativo, hiperbolizado e realizado do geral para o particular.
• Figura bela, formosa, graciosa, serena, mais humana que divina.
• Sentimentos despertados no sujeito poético: a paixão (cf. primeira e última estrofes, por exemplo); esta figura feminina que desperta a paixão do poeta permite-lhe, igualmente, descansar a sua dor – nela enfim descansa / toda a minha pena.
• Referências cromáticas: permitem acentuar a beleza feminina, bem como o seu exotismo.
• Poesia lírica tradicional (medida velha – redondilha menor, versos de cinco sílabas métricas).
• Poema composto por cinco oitavas (estrofes de oito versos).
• Esquema rimático: abbacddc (rimas interpoladas e emparelhadas).
• Principais recursos expressivos utilizados: jogos antitéticos e trocadilhos (cativa / cativo– em que se joga com os sentidos literal e metafórico do termo – porque nela vivo / já não quer que viva, pera ser senhora/de quem é cativa, bem parece estranha / mas bárbara não – em que se joga com o sentido duplo de «estranha» (não usual, diferente, estrangeira) e com o nome «Bárbara» e o adjetivo «bárbara» –, e pois nela vivo, / é força que viva.



INTERTEXTUALIDADE


Paul Gauguin, "Arearea" ou "O cão vermelho", 1892
Paul Gauguin, "Arearea", 1892


Bárbora não   
                    
Cantando o poeta em sua escora
levara na fadiga antiga rima.
Ó moço que no leito discorres, cuida,
arde para que sinal torne tua amiga.
Contando que a viu em face distinta,
sua companheira sorriu somente.
Vai com ele na doce peia que mais não
pode viver se sabe. Amor, disse, e apôs
seu nome, sua ventura.
Então a doce morena mordeu o lábio,
mais rica, mais leve na canela.
Porte esguio que a alma aquece.
Com vagar sorriu, deitou olhar e
co’as mãos já humedecidas as escondeu.
"Fico grato, concretamente, de seu fastio
ou de seu intento." E ela calou. Sorriu.
Sorriu somente.
                    
José Maria de Aguiar Carreiro, Folha de Poesia, 2007-06-10

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CARREIRO, José. “Endechas a Bárbara”. Portugal, Folha de Poesia, 14-02-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/02/endechas-barbara.html


quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Manifesto Anti-Leitura, de José Fanha


José Fanha nasceu em Lisboa e licenciou-se em arquitetura. Porém, é muito mais conhecido como inspirado poeta e declamador, animador cultural por excelência, criativo por vocação, interventivo até dizer basta. É autor de contos e de poesias para crianças, dramaturgo e ator. Foi professor do ensino secundário, é mestre em Educação e Leitura e doutorando na área da História da Educação e da Cultura Escrita.
Tendo como modelo e inspiração o Manifesto Anti-Dantas, célebre texto de Almada Negreiros onde, pela mordaz ironia, este zurze o academismo e o tradicionalismo instalados, sobretudo na pessoa e na obra do escritor Júlio Dantas, José Fanha construiu o Manifesto Anti-Leitura, igualmente corrosivo e irreverente, sobretudo nestes tempos em que a crise serve de desculpa para oficialmente a cultura ser posta em causa.
Este texto foi publicamente apresentado sob o patrocínio da Rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa, durante a II Arruada da Leitura, que teve lugar no dia 21 de abril de 2012. Na tarde desse dia, ao fundo da Rua do Carmo, em Lisboa, o ator Manuel Coelho, do Teatro Nacional D. Maria II, declamou o Manifesto Anti-Leitura.
Pelo seu óbvio interesse e oportunidade, e com a justa e devida vénia para com o seu autor, aqui se partilha esta magnífica criação de José Fanha.





ABAIXO A LEITURA, PIM!
Andam por aí elementos suspeitos que se escondem nas sombras das bibliotecas e chegam a ir às escolas para espalhar um vício terrível e abominável especialmente junto dos mais novos! Dos mais tenros! Dos mais ingénuos! Um vício que se chama
LEITURA!
Os passadores dessa droga dura, os dealers da leitura transformam simples cidadãos em leitores! Em mortos vivos! Em gente que entrega a sua vida aos livros, às histórias, aos romances, aos poemas, gente que se esquece de tudo o mais!
Abaixo a leitura, pim! Abaixo os leitores, pum!
O leitor é um doente!
O leitor é um viciado!
O leitor se esquece de tudo mais só para ler!
Cuidado com eles! Porque o pior de tudo é que a leitura pega-se! Cuidado com os leitores! Afastai-os de vós! Protegei os vossos filhos!

Morra a leitura, morra! EPim!

Uma geração que lê é uma geração que pensa!
Uma geração que lê é uma geração que duvida!
Uma geração que lê é uma geração que questiona!
Uma geração que lê é uma geração que critica!
Uma geração que pensa e duvida e questiona e critica não engole qualquer patranha que lhe queiram enfiar! Não obedece! Não se baixa! Não se cala! Uma geração que lê e pensa é um perigo para a civilização ocidental e para o país!

Abaixo os leitores! Morra a literatura! Morra! Pum!

Esta gentinha põe-se a ler em vez de trabalhar, de verter o seu suor a bem da nação, de aceitar paciente e responsavelmente que lhe retirem a assistência médica, o subsídio de doença, a reforma, o teatro, a música! As cuecas, se for preciso!
Esta gentinha que lê perde-se a interrogar as medidas necessárias e urgentes para o bem do mercado, dos bancos, dos acionistas que são quem faz andar o país!
Quem lê ainda por cima diverte-se! Entretém-se!
A ler, os leitores viajam! E aprendem! E refletem! E riem! Choram! E sonham!

Morra a leitura, pim! Pam! Pum!

A leitura faz conhecer personagens imorais como o débil Carlos da Maia e a desavergonhada Eduarda da Maia,
e bruxas repelentes como a Dama de Pé de Cabra do Alexandre Herculano ou a Blimunda do “Memorial do Convento”

Seres inúteis e irreais como o Gato Zorbas da “Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”.
Criaturas atrevidas, desobedientes e revolucionárias como o João-Sem-Medo, o Pinóquio, o Tom Sawyer, o Oliver Twist!

E loucos como o cigano Melquíades e o coronel Buendía dos “Cem anos de Solidão”.

A leitura faz-nos viajar por lugares mal frequentados como a Ilha do Tesouro, o Beco das Sardinheiras do Mário de Carvalho, os Mares do “Mobby Dick”, a Buenos Aires de Borges, a Paris de Marcel Proust, a Londres de Oscar Wilde, a Moscovo de Tolstoi!

A leitura faz-nos rir de pessoas sérias como o Conde de Abranhos, o Sancho Pança ou o Escriturário Barthleby.

Já para não falar dos autores, meu Deus! Esses seres abjetos! Os escritores que escrevem livros e livros sem um pingo de vergonha! Deviam ser presos! Encerrados num jardim zoológico! Condenados aos trabalhos forçados! À morte! À cadeira elétrica!

Camões, por exemplo, era um marginal que andava sempre à espadeirada. E se fosse só isso, ainda podíamos perdoar. A luta, a pancadaria, a guerra não são reprováveis. Podem até ter uma função muito positiva na nossa sociedade!
Mas esse tal Camões escrevia entre espadeiradas!!! Escrevia estrofes e mais estrofes! Sonetos que enchem livros e que continuam a gastar papel que podia ser poupado para fazer pacotes de castanhas ou relatórios anuais da administração das empresas.
E o Bocage? Dizia impropérios! Palavrões! E até na poesia deixava a marca da sua pouca vergonha! Se escrevesse pornografia nós aceitávamos esses palavrões! Tinham uma função social! Mas poesia…!
E não esqueçamos essa histérica e louca Florbela Espanca, essa desavergonhada, essa grande doida, que queria amar! Deixai-nos rir! Se amasse o seu marido uma vez por semana cumpria a sua obrigação! Se fosse amante do chefe lá do escritório, estava a contribuir para uma gestão equilibrada do produto interno bruto! Mas não! Ela vertia nos versos o seu desejo de amar este, aquele, e mais o outro!
E lembremos Álvaro de Campos que é uma invenção torpe, um sujeito que nunca existiu de facto! Puro delírio! Personagem frágil e contraditória! E Ricardo Reis que também não existia! Nem Alberto Caeiro! Nem Bernardo Soares!
O Sr. Fernando Pessoa que escrevia cartas de amor devia ter tido vergonha e dedicar-se à sua profissão pobre mas honrada de escriturário! E de muitos mais escritores poderíamos falar! Gente horrível, que só gosta de mexer na miséria e na lama, gente carregada de maldade que nos fala da Queda dos Anjos e de Amores de Perdição, de Barrancos de Cegos, de Lobos que Uivam, de Versículos Satânicos!
E até quando escrevem sobre gente feliz, tem de ser gente feliz com lágrimas!

E há quem os leia! Quem sofra com eles! Quem os desfolhe carinhosamente sem saber que o veneno entra pelos olhos que leem e pelos dedos que folheiam! E depois da leitura de uma página, por vezes depois da leitura de um só parágrafo já não há remédio! Eles já são leitores! Estão apanhados irremediavelmente pelo canto de sereia da leitura! A possibilidade de salvação é extremamente diminuta!
Os livros deviam ser reciclados e transformados em lenços de papel! Em solas de sapatos! Em bolas de futebol! Mas livrai-vos de os ler! Ou melhor! Queimem-nos! Lembrem-se daqueles que ao longo da história tentaram salvar-nos queimando pilhas e pilhas de livros!

Abaixo os livros! Morra a leitura! Morra, E pim!

Os livros fazem-nos afastar da realidade, da economia! Do mercado! Do futuro!
Uma ponte é feita com ferro e cimento e não com livros!
No tribunal, o advogado não defende um criminoso com poesia!
Na sala de operações o cirurgião não abre os órgãos de um doente com um romance!
Ninguém se deixa corromper por um soneto!

Abaixo a prosa! E a poesia! E o ensaio!

Morra a leitura, morra! E Pim!

E temos de falar das bibliotecas, essas casas sombrias onde o vício é permitido! Pais! Protegei os vossos filhos! As bibliotecas são autênticas salas de chuto de porta aberta ao público! E estão carregadas e alto abaixo de livros! E os livros estão à vista! Pior ainda, os livros estão à mão de qualquer criança ingénua! E alguns até têm ilustrações, bonecos que tornam a leitura mais fácil e a perdição mais próxima! E o pior é que podem ser requisitados e levados para a casa, para o seio da família onde vão espalhar a sua ação desagregadora e malfazeja!

Morra a leitura! Abaixo as bibliotecas! Pum!

Mas há esperanças para o futuro!

Por alguma razão muitos dos nossos melhores e mais impolutos dirigentes só leem resumos! Ou extratos da conta bancária! Quanto ao resto, nada! Nem uma palavra! Nem uma linha!
E quando lhes perguntam o que andam a ler, muito perspicazmente, eles inventam títulos de livros que não existem para lançar o engano e, quiçá, salvar alguém dos terríveis vícios da leitura!

Sigamos o exemplo que muitos dos nossos dirigentes e gerentes e gestores nos apontam! Há que ter a coragem de dizer bem alto:

A leitura prejudica gravemente a ignorância!

E sem ignorância o país não progride! Não crescem os juros! Não se investe nas offshores! O estado não vende empresas abaixo do preço aos particulares! O preço da gasolina não sobe!

Acabemos de vez com a leitura! Abaixo a leitura! E Pim!

Se puserem um livro à vossa frente, caros amigos, cuidado! Desviem o olhar! Não abram nem uma página! Pode bastar um verso para vos contaminar! Um homem que lê pode desejar viver num mundo melhor! Pode de repente sentir as lágrimas correrem-lhe pela cara abaixo! Pode querer subitamente ajudar os aflitos! Pode abraçar estupidamente um amigo ou beijar os lábios de uma rapariga bela como um raio de sol a iluminar a mais bela rosa do jardim!

Por isso é preciso fechar as portas aos antros de leitura! Sabemos que pode parecer doloroso mas é fundamental arrancar de vez os livros das mãos dos viciados e impedi-los de ler uma linha sequer! Se for preciso tapai-lhes os olhos! É preciso preparar o futuro dos nossos filhos! Não lhes dar ilusões, nem sonhos, nem alegrias! Nem dúvidas, nem sabedoria, nem nada!

Abaixo as bibliotecas! Abaixo os livros! Morra a leitura! Morra!
Fim!
José Fanha
Poeta do séc. XXI
e
tudo










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CARREIRO, José. “Manifesto Anti-Leitura, de José Fanha”. Portugal, Folha de Poesia, 05-02-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/02/manifesto-anti-leitura-de-jose-fanha.html


 

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Catarina Eufémia


Grandes Portugueses: Catarina Eufémia, símbolo da revolução

Ver, na íntegra, o programa apresentando na RTP, em 1974-05-18, por João Martins, comemorativo do vigésimo aniversário da morte da trabalhadora rural Catarina Eufémia, símbolo da resistência antifascista, a 19 de maio de 1954, em Baleizão, no Alentejo:



  
      Versos em homenagem a Catarina Eufémia (1928-1954)

      CANTAR ALENTEJANO | Vicente Campina




Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer

Ceifeiras na manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que então brotou

Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem matou

Aquela pomba tão branca
Todos a querem p’ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti

Aquela andorinha negra
Bate as asas p’ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar

Vicente Campina
Este poema foi musicado por José Afonso, no álbum «Cantigas de Maio», editado no Natal de 1971
Disponível em: http://www.pcp.pt/actpol/temas/pcp/catarina/index.htm

Gravura de José Dias Coelho, sobre o assassinato de Catarina Eufémia, em Baleizão, em 1954,
quando lutava com os operário agrícolas por melhores salários.


LAIVOS DE AQUENTEJO  |  Luísa Vilão Palma


O panal era branco em rendas de suor, como a cal que a Ti Liberta fervia no azado, ao fundo da rua do monte. O ervaçal no empedrado. O monte era o rumo dos dias nas tardes calmosas. Deixava a tarimba ao luzir do buraco, enquanto o cão ansiava a bôla de farelo, impaciente. A cauda do animal agitava-se na cadência dos passos da mulher.
O patrão podia aparecer a qualquer hora. O cereal amassado a crescer. O forno em labaredas de coração apaixonado na metáfora do escritor.

— Bom dia, Ti Liberta, já soube da desgraça?
-Oh! home, o que dizes tu?

O olhar da mulher fraquejou, começou a toldar-se, fundindo-se na sombra da azinheira solitária que o artista empresta à tela camponesa as tuas mãos em gesto ritmado no movimento da foice as paveias soam a queixume de quem implora o pão

..hás de fazer do teu lenço vermelho a única bandeira viva sobre a terra...

Sim, a desgraça, ti Liberta. Ela caiu. Ali mesmo.

Entre a terra e o céu. Lá. Pelo Maio calmoso das aceifas escureceu o sol tardiamente, beijando-lhe a face pela última vez. Lá. Onde a imensidão. Vagueiam gestos ousados em lágrimas de sangue da mulher.
O cereal amassado a crescer. O forno em labaredas de ódio no retrato da tirania.

Ti Liberta, abra os olhos.

Já faz tempo que a ceifeira, na voz de todas as ceifeiras, deixou rolar a foice entre o trigal, desesperada. Foi por mor do acrescento de uns tostões à jorna.
Ficou tamanho eco no infinito da gente que lutou até à exaustão.
A tua foice, Catarina.
Alentejo, vestimos os teus panos. Tu matas-nos a sede

Luísa Vilão Palma


RETRATO DE CATARINA EUFÉMIA  |  Ary dos Santos

Retrato de Catarina Eufémia. Edição [Lisboa : s.n., s.d.]
Texto do cartaz: [Poema] "Retrato de Catarina Eufémia" de José C. Ary dos Santos
URL http://sinbad.ua.pt/cartazes/CT-ML-II-887


Da medonha saudade da medusa
que medeia entre nós e o passado
dessa palavra polvo da recusa
de um povo desgraçado.

Da palavra saudade a mais bonita
a mais prenha de pranto a mais novelo
da língua portuguesa fiz a fita encarnada
que ponho no cabelo.

Trança de trigo roxo
Catarina morrendo alpendurada
do alto de uma foice.
Soror Saudade Viva assassinada
pelas balas do sol
na culatra da noite.

Meu amor. Minha espiga. Meu herói
Meu homem. Meu rapaz. Minha mulher
de corpo inteiro como ninguém foi
de pedra e alma como ninguém quer.

José Carlos Ary dos Santos


AO RETRATO DE CATARINA | Carlos Aboim Inglez

Esses teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lábios resolutos
Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos enluta

Ceifou-te ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido

Tanta seara continhas
Visível já nas entranhas
Em teu ventre a vida tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura

Teus destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto

Carlos Aboim Inglez


CATARINA EUFÉMIA | Francisco Miguel

Na vasta planície os trigos não ceifados.
Ao longe oliveiras batidas pelo sol.
Tu serena caminhas para os soldados
com a ideia, para todos um farol.

A brisa não se levantara.
Ias armada apenas da razão.
Contigo os milhões que têm, fome
contigo o povo que não come e que ali cultiva o nosso pão.

O monstro empunhava as armas de aço.
Tu pedindo a paz serena caminhavas
levando um filho no colo outro no regaço.

As armas dispararam, tu tombaste.
Com teu sangue a terra foi regada.

E ali à luz do sol que tudo ardia
dava mais um passo a nossa caminhada.
Na boca da mulher assassinada
certeza da vitória nos sorria.

o sol que o teu sangue viu correr
que teus camaradas viu ali aflitos
ouvirá amanhã os nossos gritos
quando o novo dia amanhecer

Que nessa terra heróica - Baleizão -
onde se recolhe o trigo branco e loiro
teu nome gravado em letras de oiro
tem já cada um no coração

Francisco Miguel

QUANDO A FLOR DE TRIGO FOR DE PAZ, BELA CATARINA | Eduardo Fonseca







Eduardo Valente da Fonseca


CATARINA EUFÉMIA | Sophia Andresen

O primeiro tema da reflexão grega é a justiça
E eu penso nesse instante em que ficaste exposta
Estavas grávida porém não recuaste
Porque a tua lição é esta: fazer frente

Pois não deste homem por ti
E não ficaste em casa a cozinhar intrigas
Segundo o antiquíssimo método oblíquo das mulheres
Nem usaste de manobra ou de calúnia
E não serviste apenas para chorar os mortos

Tinha chegado o tempo
Em que era preciso que alguém não recuasse
E a terra bebeu um sangue duas vezes puro

Porque eras a mulher e não somente a fêmea
Eras a inocência frontal que não recua
Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste
E a busca da justiça continua

Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual, 1972



ANTÍGONA E CATARINA EUFÉMIA: FIGURAÇÕES DA JUSTIÇA EM SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
[…]
Se observarmos o poema “Carta aos amigos mortos” encontraremos, por sinal, uma imagem que é notável síntese do enfrentamento realizado nessa poética, a de fazer frente: “Aqui me resta apenas fazer frente/ Ao rosto sujo de ódio e de injustiça” (Andresen, 2003 [1962]: 46). O mesmo sintagma, fazer frente, também está mencionado precisamente no poema “Catarina Eufémia”, que integra a última parte, intitulada “Em memória”, do volume dual. Trata -se de uma conhecida personagem histórica que, após ter sido morta em 19 de maio de 1954 por um membro da Guarda Nacional Republicana, foi consagrada como símbolo de luta do proletariado rural português durante o regime salazarista. Podemos, inicialmente, dizer que seu fazer frente resulta em um dos poemas mais explicitamente políticos do conjunto da obra poética andreseniana. Mas não somente. As noções de justiça que ali são articuladas talvez sejam as que mais esclarecem que tipos de reivindicações e protestos Sophia Andresen faz quando demanda justiça em seus poemas. Primeiramente, podemos apontar, sim, o cunho político, potencializado pela personagem identificada com uma vítima factual, além da inclusão de várias informações sobre aquele crime, detalhes perceptivelmente retirados da imprensa. Devemos apontar também a literal busca de justiça que o último verso preconiza: “E a busca da justiça continua” (Andresen, 2004 [1972]:74).
Alguns exemplos confirmam-nos que tal episódio do assassinato daquela trabalhadora transformou-se numa alegoria da luta desigual e da conduta ilibada por parte do lado mais fraco. Isso é encontrado nos versos de Francisco Miguel, de um poema intitulado “Catarina Eufémia”, que relata uma exemplaridade em desvantagem: “Tu serena caminhas para os soldados/com a ideia, para todos um farol” (Miguel, apud PCP). Nos versos de vicente Campinas, em “Cantar alentejano”, depois musicado por José Afonso, é sublinhada uma busca de justiça semelhante à referida por Sophia, mas claramente transferida às mãos de outros trabalhadores, que, por terem testemunhado o crime, mantêm a mesma luta: “Acalma o furor campina/Que o teu pranto não findou/Quem viu morrer Catarina/Não perdoa a quem matou” (Campinas, apud PCP).



Também nos versos de Ary dos Santos, de “Retrato de Catarina Eufémia”, “Catarina morrendo alpendurada/do alto de uma foice” é uma imagem da integridade, do posicionamento político, da atitude de resistência e da dura punição recebida, “de corpo inteiro como ninguém foi/de pedra e alma como ninguém quer” (Santos, apud PCP). “Ao retrato de Catarina”, de Carlos Aboin Inglez, aponta um embate e a ameaça a uma lei ditada pelo poder, conflitos rigorosamente reprimidos: “Quando o teu altivo porte/Fazia sombra ao patrão/Sua lei ditou-te a sorte/Negra bala foi teu pão” (Inglez, apud PCP). Se essas leis tortuosas, do patrão e da guarda, remetem-nos à peça de Sófocles e aos desmandos de Creonte diante da postura moral de Antígona, percebemos no poema de Sophia uma justiça humana igualmente corrompida. Já que Díkē já foi exilada, vivemos nós o exílio de sua ausência. […]
Temos já na primeira estrofe [do poema de Sophia Andresen] a informação de que Catarina ficou exposta e de que estava grávida. A edição de maio -junho de 1954 do jornal o camponês, “órgão dos Camponeses de Portugal”, portanto, dos próprios trabalhadores e da época daquela ocorrência, com o título “Uma camponesa”, afirma que “o ódio dos fascistas pelos camponeses teve a sua mais infame expressão”, ao que complementa ao relatar que um “grupo de camponeses” foi recebido a “rajada de metralhadora”, quando “à frente iam camponesas com os filhos ao colo”. A reportagem menciona Catarina Eufémia ainda como uma dessas mulheres, das quais se destacou ao dizer “Nós temos fome e queremos é falar com os de Penedo Gordo”, frase que, segundo esse relato, resultou em uma agressão que a derrubou: “grávida, caída no chão e segurando um filho que trazia ao colo, gritou -lhe «nós temos fome e queremos paz»”. De acordo com a publicação, “o tenente assassino metralhou friamente a camponesa dando-lhe morte imediata e ao filho que trazia no ventre” (o camponês, apud PCP).
No Diário do Alentejo, de 21 de maio de 1954, também do mesmo mês do facto ocorrido, é relatado que “a morte foi provocada pela pistola-metralhadora do sr. Tenente Carrajola, que comandava a força da G.N.R” e confirma as informações trazidas no jornal camponês: “No momento em que foi atingida, a infeliz mulher tinha ao colo um filhinho, que ficou ferido, em resultado da queda. A Catarina Efigénia [assim aparece o seu nome naquela publicação] tinha mais dois filhos de tenra idade e estava em vésperas de ser novamente mãe” (Diário do Alentejo, apud PCP).
O jornal Avante!, órgão Central do Partido Comunista Português, de abril de 1955, ano seguinte ao ocorrido, com um subtítulo “Catarina Eufémia não morreu!”, além de mencionar diversas homenagens realizadas àquela camponesa, narra que essa reportagem de o camponês foi lida em voz alta a muitos trabalhadores em reuniões em todo o país, do que podemos deduzir que foi daquele primeiro jornal a versão que a mitificou. No Avante! de 24 de maio de 1974, sob o título de “Grande jornada popular em memória de Catarina”, aparece resumido que “Catarina Eufémia, militante do Partido Comunista Português, caiu, na flor da vida, em Baleizão, à frente de uma greve. Depois, o seu nome tornou -se bandeira e chegou aos confins do mundo, a toda a parte onde o proletariado trava a sua luta pela instauração do socialismo” (Avante!, n. 198, abril de 1955, apud PCP), sublinhando, desse modo, o caráter político e partidário do fato. Dentre os jornais que compõem o dossiê organizado pelo PCP, disponível em rede, o periódico Militante, de 1989, confirma tal versão: “grávida e com o pequenito José Adolfo, de 8 meses, ao colo, esta avança decidida, confiante e sem temor, para o diálogo” (Militante, apud PCP).
Desse modo, com base nas informações da imprensa, vemos que os versos de Sophia de Mello Breyner Andresen exaltam esse fazer frente de Catarina, que ao contrário da maioria das mulheres de seu tempo, não ficou “em casa a cozinhar intrigas”, pois “era preciso que alguém não recuasse”, e “Porque eras a mulher e não somente a fêmea” (Andresen, 2004 [1972]: 74). Chamamos a atenção também para o contraste entre a frontalidade e a obliquidade, valores estendidos a uma postura. Fica-nos claro o apoio do poema à posição de reivindicação, à greve, ao pedido de melhorias do pagamento, ao comprometimento partidário e à resistência daquela trabalhadora, assim como à denúncia e condenação daquela morte. Contudo, além de uma leitura político-partidária, encontramos na menção a Antígona um ponto chave, fundamental para que possamos elucidar a proposta de justiça desse poema, uma possibilidade de sanar a caótica injustiça circundante: “Antígona poisou a sua mão sobre o teu ombro no instante em que morreste” (Andresen, 2004 [1972]: 74).
Ora, encontramos na tragédia de antígona a encenação ao extremo do embate entre duas leis, de um lado, a do soberano, promulgada por um humano, que rege as relações interfamiliares da cidade, priorizada pela personagem de Creonte, e, do outro, a lei eterna, de origem divina, prescrições que regem as relações dentro das famílias, o comportamento na casa, os ritos, defendida pela personagem de Antígona. Lembremos que essa filha de édipo foi condenada dentro da lei humana exatamente por ter colocado a lei familiar e sagrada acima dos decretos do soberano e que a thémis que ela optou por respeitar dizia respeito ao funeral de um de seus irmãos, a cumprir essa obrigação sagrada, primeira, ritual. Ao lermos o fim da célebre reportagem de o camponês, n. 44, maio -junho de 1954, sobre a morte de Catarina Eufémia encontramos uma informação relevante sobre o desfecho daquele assassinato: “O corpo da camponesa foi levado para Beja [...]. Depois os fascistas fugiram com o corpo da desventurada camponesa não deixando que os trabalhadores lhe fizessem o funeral” (o camponês, apud PCP). Notemos que somente no dia 21 o Diário do Alentejo noticiava seu enterro: “O funeral realizou -se ontem, saindo do hospital de Beja para o cemitério de Quintos. Centenas de pessoas vieram de Baleizão para acompanharem o préstito” (Diário do Alentejo, apud PCP).
Se o rito funeral de Polinices e o de Catarina Eufémia foram ambos interditados7 por decretos que feriam uma lei primeira e eterna, vemos que Sophia coloca, indiretamente, como irmãos daquela camponesa todos os trabalhadores que a pretenderam enterrar com honras, assim como condiciona o próprio poema na função de uma Antígona, de prestar reverência ritual a um familiar morto, em uma espécie de epitáfio.
Se Antígona é o enfrentamento em torno de uma justiça, nos versos andresenianos percebemos ser essa justiça defendida como prioridade. Portanto, mesmo a justiça que deveria ser a terrestre, de díkē, com seu mostrar com autoridade como deve ser (cf. Benveniste, 1995: 110 -111), jamais poderia sobrepujar a de thémis, um direito fundamental humano. Quando isso ocorre, há um indício de que, de fato, a personificada díkē foi mesmo exilada da cidade dos homens, da sociedade, do país, do mundo, como na Idade de Ferro do poema de Hesíodo, o que nos leva a concordar com Paula Alves (cf. Alves, 2000), com algum acréscimo nosso no que diz respeito à identificação de uma esperança na obra poética de Sophia.
O que sobretudo pretendemos apontar com a leitura desse poema, “Catarina Eufémia”, de maneira central, como uma síntese mesmo do que acontece nessa poesia, é que, ao exigir justiça, em meio a todo um tempo da enunciação referido como caótico, ameaçador, injusto, Sophia de Mello Breyner Andresen, acima da questão política, exige uma ordem hierárquica entre díkē e thémis, de modo que, à lei do direito, da política e jurídica, jamais possa ser dado o privilégio de ferir uma lei primeira, eterna, sagrada, dos laços basilares do homem. Nesse ponto há uma esperança em seus versos.
Virgínia Bazzetti Boechat, “Antígona e Catarina Eufémia: figurações da justiça em Sophia de Mello Breyner Andresen”, artigo baseado na tese de doutorado intitulada Do projeto à forma justa: Sophia de Mello Breyner Andresen, aprovada em 2011, pela USP.
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7 A noção dessa proibição permanece sobretudo se nos lembrarmos que a reportagem de o camponês foi largamente divulgada entre os camponeses e proletariado, assim como entre os membros da esquerda de variadas classes sociais e seus conhecidos, tendo sido, sem dúvida, a que predominou no imaginário da população.


POEMAS AOS HOMENS DE NOSSO TEMPO: A POESIA DE GRADES E O ESTADO NOVO PORTUGUÊS

Além da ameaça e da opressão, o tema da justiça é trazido a Grades também pelo seu viés oposto: a injustiça unida à violência. O poema “Catarina Eufémia”, publicado em 1970 na coletânea e posteriormente em Dual, de 1973, tem seu nome em homenagem à mulher cuja morte tornou-se símbolo de resistência e contestação do Estado Novo. Catarina Eufémia Baleizão era uma assalariada rural da cidade de Baleizão, região alentejana, mãe de três filhos. Nascida em 1928, era muito pobre e assim viveu, trabalhando em empregos sazonais nos latifúndios do Alentejo, onde, desde meados da década de 1940, era comum o “clima de agitação social entre os trabalhadores rurais”.274
Em maio de 1954, os trabalhadores de Baleizão organizam uma greve e “Catarina integra uma marcha de resistência até a residência do patrão. Pretendiam aumentar de 16 escudos para 23 escudos a jornada das mulheres na campanha da ceifa”.275 Nesse trajeto, a mulher é morta a tiros pelo Tenente Carranjola, da Guarda Nacional Republicana. Ela tinha o filho de oito meses no colo quando foi atingida. Alguns relatos da época, inclusive a notícia que é dada no periódico Diário do Alentejo, afirmam que a ceifeira estava grávida, mas essa informação não foi confirmada.
Catarina é vista como símbolo da mulher forte, mãe e militante, e sua morte tornou-se tema ligado à justiça, à busca pela igualdade social e ao combate do poder violento do regime do Estado Novo. É por meio dessa temática que Sophia Andresen apresenta Catarina […]
É evidente logo na primeira estrofe que Catarina Eufémia é a mulher que luta pela justiça, “porque tua lição é esta: fazer frente”. O primeiro tema a que a voz poética se refere é a justiça, e podemos pensar na reflexão que influencia a autora, o que a leva a inserir o adjetivo “grega” no poema qualificando a palavra “reflexão” quando o poema é publicado em Dual, aparecendo desta maneira: “O primeiro tema da reflexão grega é a justiça”.277
Catarina, segundo a voz poética, é uma mulher que rompe a condição comum para a época da mulher que fica em casa, que não tem sua autonomia em relação ao marido: “Pois não deste homem por ti / E não ficaste em casa a cozinhar intrigas / [...] E não serviste apenas para chorar os mortos”. Além de ser vista como uma mulher mais independente, a voz poética também a insere como uma pessoa que não hesitou diante da força do poder, como sugere a terceira estrofe: “Tinha chegado o tempo / Em que era preciso que alguém não recuasse”. Mas esse combate teve a morte como preço, e a terra “bebeu um sangue duas vezes puro”, pois ela estava grávida e era inocente, lutava pela igualdade.
A voz poética separa Catarina da condição de fêmea, dizendo “porque eras mulher e não somente a fémea”, isto é, a trabalhadora foi além da sua condição animal e do seu instinto, buscando algo que é fundamental para o humano, sobretudo para as mulheres: sua igualdade. É Importante considerar que a voz poética marca o posicionamento de Catarina como uma mulher que foi além do seu papel feminino instituído por uma sociedade pautada na figura do homem. A busca pela justiça e pela igualdade da ceifeira aproxima-a de Antígona, que não recua diante da decisão de Creonte, o governador de Tebas, de deixar seu irmão morto Polinices sem os ritos de passagem. Na tragédia de Sófocles, a mulher tem uma postura de embate ideológico, pois contesta o valor das ordens terrenas do governador Creonte diante das ordens dos deuses. Ela também morre por suas crenças e por sua ação desafiadora de buscar a todo custo aquilo que seria justo, isto é, sepultar seu irmão sob os ritos da religião.
O poema se encerra com um único verso, “A busca pela justiça continua”, que pode ser lido pela busca de justiça em relação à morte de Catarina e aos abusos de poder em geral cometidos pelo governo que assassina a ceifeira. A morte dessa mulher, para a voz poética, é um símbolo da justiça e do combate contra as mazelas que atingem a todos e por isso dá voz ao imaginário daqueles que se opunham ao regime salazarista.
Grades: uma leitura do projeto po-ético de Sophia de Mello Breyner Andresen, Nathália Nahas. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2015

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274 ROSAS, Fernando; BRITO, J. M. Dicionário de História do Estado Novo. Venda Nova: Bertrand, 1996, vols. I e II, p. 240.
275 Ibidem.
277 ANDRESEN, S., Obra Poética, edição de Carlos Mendes de Sousa, 2.ª ed. Alfragide: Editorial Caminho, 2011, p. 594



 

 

 


CARREIRO, José. “Catarina Eufémia”. Portugal, Folha de Poesia, 14-01-2020. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2020/01/catarina-eufemia.html