Adolescentes
repentinos, não sabem, apenas o tormento de um excesso
giratório.
Com as cabeças zoológicas.
Os
anéis nas patas.
Oprime-os
para dentro um clarão dançante.
Aquilo
que são fora.
A
cegueira dos chifres que levantam
como
uma enorme estrela
desabraçada.
A sua ligeireza busca o peso
da
pedra. E o peso que têm
de
pura luz sem peso, o movimento sinistro
no
chão,
o
terror, uma
riqueza
violenta — buscam alguém que os toque.
Na
boca.
Que
os torne transparentes, circulatórios.
E
quando as turquesas se cruzam de mão a mão, deixando-as
em
brasa,
vê-se
que são anjos tocados pelas víboras, anjos
anatómicos
e atrozes.
Expostos
à lua como animais. Que são escuros
nas
espáduas.
Devastam
o mundo só de olhá-lo com força.
O
sono que os ataca mostra-os
cheios
de artérias. E então a delicadeza pesa-lhes
como
a morte. Basta tocá-los na cara para que fiquem
brancos.
Atravessá-los com o sangue venoso
da
insónia, da nossa matéria.
E
então a sua carne é uma estrela suada.
Herberto Helder, Flash. Abril 1980.
*
Os “[a]dolescentes repentinos”, mesmo que pessoas, são animais, e saliento que a única logia deste fragmento de Flash é a que se lê em “zoológicos”. Animalizados, portanto, os “adolescentes” não sabem, como Patrícia, “nada, nada, nada!”, “apenas o tormento de um excesso/ giratório”, ou seja, apenas a condição debruçada de sua própria condição excessiva, portanto dionisíaca, fundida à natureza.
Luís Maffei, Do mundo de Herberto Helder. Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, UFRJ, 2007.
[Publicação simultânea em: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/12/27/adolescentes-repentinos.aspx]
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