A moda começou no Porto mas em Lisboa também já se pode sair à noite para ir ouvir poesia. São cada vez mais os bares que oferecem esta nova forma de saborear a vida noturna da cidade.
As noites de poesia no bar Irreal, organizadas pelo poeta e editor Nuno Moura, têm sempre convidados para as leituras.
MIGUEL SOARES/OBSERVADOR
Se para si o sinónimo de uma saída à noite cultural é ir ouvir fado numa tasca, está a perder um dos fenómenos emergentes mais instigantes da vida noturna das cidades: as noites de poesia.
Pior: se pensa que a poesia é uma coisa chata dita por gente demasiado monótona ou demasiado exaltada, é porque ainda não descobriu como ela pode ser divertida, comovente, e que as suas melodias escondidas são o melhor acompanhamento que há para um copo de vinho tinto.
No Porto, as noites de poesia já se fazem há mais de 20 anos e já têm os seus lugares icónicos como o Pinguim, o Piolho ou as Quintas de Leitura no Teatro do Campo Alegre. Em Lisboa, começaram no bar do teatro A Barraca, animadas pelo poeta Miguel Martins, mas nos últimos dois anos têm nascido como cogumelos. Neste momento há pelo menos sete noites de poesia espalhadas pela capital, uma para cada dia da semana. Nada de pretensioso: um bar, boa poesia, bom vinho, às vezes musica a acompanhar. Vale a pena percorrer estas capelinhas onde nasce uma nova forma de “estar na noite”para gente de todas as idades.
Bar do teatro A Barraca (Santos)
Ao poeta Miguel Martins e ao bar do teatro A Barraca devemos o início deste movimento das noites de poesia em Lisboa. Ali,
todas as quintas-feiras, pelas 22h00, há uma sessão de leituras de poesia: é a
Poesia às Quintas. Miguel Martins é o anfitrião mas há sempre um convidado e, por vezes, um músico. Aqui a poesia de culto é a portuguesa (como se compreende) mas podem ouvir-se líricas de outras línguas. Desde poetas
mainstream aos clássicos, dos rebeldes às estrelas pop/rock.
Quintas de poesia do bar A Barraca. Fotografia retirada do Facebook Bar A Barraca
Povo (Cais do Sodré)
A semana no Cais do Sodré não começa sem uma noite de poesia.
Todas as segundas-feiras às 22h00, mais coisa menos coisa, há uma sessão temática de poesia. As noites que ganharam o nome de
Poetas do Povo são organizadas pelo músico Alex Cortez (ex-Rádio Macau) e têm como anfitrião o jornalista Nuno Miguel Guedes. Acontecem há mais de dois anos, passam por lá famosos e desconhecidos, e há espaço para todo o tipo de poesia a acompanhar com bons vinhos e bons queijos. Vá cedo porque a casa enche, e prepare a garganta, se quiser — estas noites de poesia têm uma segunda parte de “microfone aberto” onde cada um pode ir ler alguns poemas da sua autoria, ou simplesmente algum poeta de que goste. Na próxima segunda-feira, dia 21 de dezembro, vai haver poesia de Leonard Cohen. Podemos pedir mais?
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Manuel João Vieira foi um dos convidados recentes para ler poesia no Povo. Fotografia retirada do Facebook Poetas do Povo |
Sagrada Família (Alfama)
As sessões de poesia na
Sagrada Família começaram quando este espaço estava na avenida Duque de Loulé e continuaram quando se mudou para a Rua dos Remédios, em Alfama. A conduzir estas noites por onde passam sobretudo poetas portugueses, como Mário Henrique Leiria, Cesariny e Alexandre O’Neill, está o músico e poeta Tiago Gomes. Estas
spoken words acontecem
duas vezes por mês, sempre à terça-feira. A partir de janeiro passam a acontecer às quartas e ganham o nome de “Quartas da Palavra”. Na Sagrada Família
também se pode jantar ao som de poesia, pelas 21h00.
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Tiago Gomes, o poeta das palavras ditas na Sagrada Família. DR |
Pratinho Feio (Bairro Alto)
Tiago Gomes assegura também as novas noites de poesia no Bairro Alto. Acontecem uma vez por mês no restaurante
Pratinho Feio, pelas 21.30. Assim, tal como na Sagrada Família, pode jantar a ouvir poesia. Aqui faz-se cozinha portuguesa, confecionada de forma criativa. Às palavras dos poetas junta-se a música.
Irreal (Poço dos Negros)
Descendo a Calçada do Combro e entrando no Poço dos Negros vai ter ao
Irreal, um bar muito palpável. Pequeno, charmoso, parece feito à medida para sessões de poesia ao fim da tarde. O poeta e editor Nuno Moura, que parece ter nascido para ler poesia e fazer do verbo carne, movimento e dança, costuma ter sempre um convidado. Na passada quinta-feira houve poesia acompanhada por Carlos Paredes tocado em cravo por Joana Bagulho. As sessões com Nuno Moura &
guestsacontecem
duas vezes por mês, sempre às quintas. O poeta António Poppe assegura a poesia
duas quartas-feiras por mês. O espaço é pequeno e tem um público fidelizado, por isso vá cedo para saborear um vinho, uma cerveja e arranjar uma cadeira.
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Joana Bagulho a tocar cravo numa das sessões de poesia do bar Irreal. Foto: MIGUEL SOARES/OBSERVADOR |
Primeiro Andar (Portas de Santo Antão)
A arca de Babel abre-se uma vez por mês no bar Primeiro Andar, no edifício do Ateneu Comercial, nas Portas de Santo Antão. Chama-se
Babel’s Curse-poetry Sessions e é organizada pelo jovem poeta Vasco Macedo. Vasco é do Porto, cresceu a ir às sessões do Piolho e do Pinguim e quis fazer as noites de poesia mais marginais de Lisboa. Começou com as “Terças da Poesia Clandestina” no bar da Universidade Nova de Lisboa. Agora tem o Babel’s Curse que acontece
uma vez por mês. Estas noites são sempre dedicadas à poesia de uma das línguas do mundo e têm um anfitrião convidado. O próximo curso é no dia 30 de dezembro e vai ouvir-se poesia cubana do século XX. Apesar do nome, não espere encontrar aqui uma “coisa académica”. Sem capas, batinas nem tunas, no Primeiro Andar ouve-se também boa música e pratica-se poesia como valor universal.
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As noites de poesia do mundo no Primeiro Andar acontecem uma vez por mês. Fotografia retirada do Facebook Babel’s Curse Poetry Session |
Taberna Galegas (Cais do Sodré)
É um dos mais recentes spots para ouvir poesia: a tasca Galegas (no nº 7 da travessa da Ribeira Nova), acolhe o projeto Galegas 7 da autoria do escritor Valério Romão e de Marta Raquel Fonseca. Aqui leem-se textos em prosa de poetas e de não poetas. Podem ouvir-se também romancistas, dramaturgos entre outros. Nestas noites “galegas” já se ouviu Sarah Kane, Manuel de Castro, Fernando Assis Pacheco. Cada sessão tem um ou mais convidados para fazer as leituras. Pelas 19h00, duas terças-feiras por mês.
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Na tasca Galegas leem-se textos de poetas e não poetas. |
http://observador.pt/2015/12/22/beber-um-copo-vinho-ouvir-poesia-nova-forma-sair-noite/
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