Mar Me Quer
O Mar me quer, eu sou feliz só por preguiça
deixei escapar a maré, adormecido
Zeca Perpétuo, sou reformado do mar
tenho juízo de mamba pelo seu olhar
Mar me quer, bem me quer
Canto chão de luarmina
o coração é uma praia
diz Celestiano à menina
Mar me quer, bem me quer
com olhos de tubarão
meu avô falava certo
quem demora tem razão
Todas as noites despetalou flores a mulata
Dona Luarmina, minha vizinha
logo de manhã passa sonhos pelo rosto
atrasa a ruga, impede o tempo
Letra e música de João Afonso
João Afonso Lima (Beira,
1965) é um cantor português. Viveu em Moçambique até 1978, com seus pais e
irmãos. Colheu influências da música urbana africana e da música popular
portuguesa, esta última pela influência de Zeca Afonso, seu tio materno. A sua
colaboração em Maio Maduro Maio (1994), em parceria com José Mário Branco e
Amélia Muge, valeu-lhe a atribuição do Prémio José Afonso.
Cristina Mielczarski Santos, A ponte entre a palavra da alma e a palavra do
papel: epistolário ficcional miacoutiano. Universidade Federal
do Rio Grande do Sul. Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras,
2013. http://hdl.handle.net/10183/77153
***
O poema "Mar Me
Quer" de João Afonso é uma adaptação musical da novela Mar Me Quer,
do escritor moçambicano Mia Couto, cuja leitura se encontra orientada na nossa página
da Lusofonia.
Na novela Mar Me Quer, «Mulata Luarmina e Zeca Perpétuo partilham território de vizinhança, chão de terra tão mais velho que eles, olhando o mar que é sempre quem mais viaja.
Luarmina ensombreada de um qualquer
silêncio, que de tão longo parece segredo, entardece todos os dias na companhia
de Zeca, ouvindo as histórias que vão povoando a paisagem.
Zeca Perpétuo sonha sempre o mesmo: se
embrulhar com ela, arrastá-la numa grande onda que os faça inexistir.
Luarmina foi aprendendo mil defesas para
as insistências namoradeiras de Zeca, mas um dia resolve negociar falas e
outras proximidades, não em troca de aventuras sonhiscadas de Zeca, mas de suas
exatas memórias.
E como diz o avô Celestiano "o
coração é uma praia", em que o mar, porque nos quer, acaricia memórias e
apazigua ausências.
Avô Celestiano é a sabedoria do tempo.
Mas também é o fabricador de sonhos. Por via dos sonhos, ele visita os vivos e
conduz, na sombra dos aléns, os destinos e os amores de Zeca e Luarmina.
"O que faz andar a estrada? … o
sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. … para isso que
servem os caminhos. Para nos fazerem parentes do futuro." (Mia Couto, Mar Me Quer)»
Natália
Luiza, Mar me quer, Coimbra, Cena Lusófona, 2002(Adaptação
dramatúrgica da novela homónima de Mia Couto, encomendada pela Cena Lusófona, e
colocada em palco pela companhia Teatro Meridional, num espetáculo estreado em
maio de 2001, no Teatro Taborda em Lisboa.)
LER MAIS EM:
Mar me quer (1998) - leitura orientada
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