quarta-feira, 19 de março de 2014

AEROPORTO (Natália Correia)


    


    

    

    

    

    

    

    

    

    

    

    

    

    

  

    

    

    

    

    



    

    

    


AEROPORTO

De franqueforte franquefurta-me a placa giratória
No centro o minotauro do livro e do dinheiro
Bolsa do desespero! o aeroporto cunha
a moeda do trânsito, da urgência joalheiro

Os diapositivos da espera me dissecam
nesta de mármore mesa da minha anatomia
e gelam as pestanas que velam o cadáver
da pressa escarnecida pela meteorologia

Os pés involuntários por tapetes rolantes
vão sendo massajados para as finais do juízo
Para a leda flor de pinho dos nervos lusitanos
franqueforte é farmácia que não está de serviço

Ε de erres arrastados o ofício das ground-hostesses
que escrevem sim e não com a ponta do nariz
Emudecem as águas do batismo de Goethe
nos químicos arredores deste alemão a giz

De franqueforte franquefarta-me o ninguém coletivo
este frio da morgue que abandona o cenário
às unhas dos relâmpagos e às pombas pluviosas
que pausas desdenhosas dejetam no horário

Aeroporto humano apenas na retrete
Na mansa paranoia da pista de absinto
pousa ariadna fio 727
gargalhando a saída do lerdo labirinto
Natália Correia, O anjo do ocidente à entrada do ferro1973
          
            
 “Minotaur”, Nemo Gould
                                                   “Minotaur”, Nemo Gould
           
           
Natália Correia aplica o tema do labirinto e do Minotauro à complexidade e emaranhado do aeroporto internacional de Frankfurt no poema "Aeroporto", nascido da junção de dois que ao tema eram dedicados na primeira edição de O anjo do ocidente à entrada do ferro (pp. 49 e 50) (A edição seguida é a da poesia completa, com o título O sol nas noites e o luar nos dias editada em 2 volumes pelo Círculo de Leitores. Lisboa, 1993, vol. 2, pp. 30-31). O aeroporto é um labirinto, em cujo centro se encontra «o minotauro do livro e do dinheiro» (v. 2). O sujeito poético tem antipatia por esse movimentado aeroporto que obriga a longas esperas e a apressadas mudanças de avião para avião: ou, como diz a autora de forma metafórica, «cunha/ a moeda do trânsito, da urgência joalheiro» (vv. 3-4). Dois neologismos, formados a partir do nome da cidade, traduzem de uma maneira impressiva e irónica a ideia de cansaço e saturação: «Defranqueforte franquefurta-me a placa giratória» (v. 1), ou franquefarta-me (verso 17). O cansaço da espera é sublinhado na segunda estrofe por aliterações em d e m (vv. 5 e 6) (Vide ainda outras aliterações nos vv. 12, 19, 20, 22, 24) e por duas metáforas, uma tirada do ato médico de dissecar um corpo e a outra inspirada no velório fúnebre de um morto (vv. 5-8):
Os diapositivos da espera me dissecam
nesta de mármore mesa da minha anatomia
e gelam as pestanas que velam o cadáver
da pressa escarnecida pela meteorologia.
        
A imagética relacionada com morte e morgue volta a estar presente na quinta estrofe (v. 18).
O tamanho do aeroporto obriga a deslocações de um lado para o outro e de porta para porta, durante as quais só se ouvem os «erres arrastados» das hospedeiras (v. 13) e «os pés involuntários por tapetes rolantes/ vão sendo massajados para as finais do juízo» (vv. 9-10) — uma bela metáfora inspirada nas competições desportivas. Mas aqui essas competições são «as finais do juízo», por darem cabo dele. Mas também não é de excluir que haja na expressão uma alusão ao Juízo Final. Daí que lhe desagrade e lhe destempere os nervos (vv.l 1-12):
Para a leda flor de pinho dos nervos lusitanos
franqueforte é farmácia que não está de serviço.
    
Por isso o sujeito poético sente-se saturado por aquele movimentado aeroporto sem calor humano (vv. 17-18):
De franqueforte franquefarta-me o ninguém coletivo
este frio da morgue
    
e que, no corre-corre acotovelante de lado para lado que elimina e devora a individualidade, é «humano apenas na retrete» (v. 21). Por isso, a saída do avião para a pista e o levantar voo aparece como fio de Ariadne que possibilita a alegria da fuga («gargalhando a saída») do labirinto (vv. 22-24).
*
Seis poetas portugueses da atualidade — Miguel Torga, Natália Correia, David Mourão Ferreira, Fernando Guimarães, José Augusto Seabra e Sophia de Mello Breyner Andresen — em que o tema do Labirinto e do Minotauro adquire certo relevo. Em todos eles predomina o carácter disfórico: o labirinto é o local ou situação complexa e sem saída, quer seja interior, quer exterior à própria pessoa. Pode ser a poesia em que o poeta se perde e de onde só consegue sair pelo fio das palavras; pode ser uma casa ou um aeroporto.
O Minotauro é o monstro que cada homem arrasta consigo e enfrenta, que o domina: seja ele o tempo que tudo devora; o poder económico; um simples homem; as paixões e desejos com que cada um se debate; o que há de sombrio, negativo e irracional no homem. Como refere David Mourão Ferreira, o monstro a que damos a «sombra do nosso ódio» e no qual buscamos «os nossos próprios remorsos».
         
HVMANITAS — Vol. XLVIII, 1996, pp. 312-313, 332-333.
        
           
PODERÁ TAMBÉM GOSTAR DE:
        
 Labirinto e Minotauro - Mito de Ontem e de HojeJosé Ribeiro Ferreira. Faculdade de Letras – Universidade de Coimbra, Fluir Perene, 2008.

 Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de textos de Natália Correia, por José Carreiro. In: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo. Disponível em: https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/europa-galiza-e-portugal-continental-e-ilhas/Lit-Acoriana/Natalia_Correia, 2021 (3.ª edição).

          



[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/03/19/aeroporto.aspx]

terça-feira, 18 de março de 2014

AS VOZES DE LÍDIA


"Horacio y Lidia (estudio)", óelo sobre lienzo de Albert Edelfelt (Finland, 1854-1905)
     


Lídia é um nome feminino que surge nas Odes de Horácio. Na Literatura Portuguesa, o mesmo nome tem sido utilizado por vários escritores.    

Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
              Oferecendo a flor
              Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite
              Não existe piedade
              Para aquele que hesita.

Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
              Longo indelével rasto
              Que o não-vivido deixa.

Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
              Vai sempre mais à frente
              Do que o teu próprio passo
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         
         

Com a essência das flores mais coniventes
Na formosura, prepara o banho, Lídia.
Os anos murcham e só no corpo sentes
Quente e fagueira a passagem da vida.

Não digas, cética, que a carne é vã e passa
Desfeita em sombra, o negro rio. O Orco
Perséfone raptou rendido à graça.
Talvez no além precises do teu corpo.

Estima-o; e à beleza mais demora
Darão os fados na vida passageira.
Tépida a água, rescenda a musgo e a rosa.
De Paros seja o mármore da banheira.

Nua e rosada imerge na carícia
Emoliente da água perfumada,
E as folhas lassas dos membros espreguiça
Como uma humanizada flor aquática.

Não te esqueças porém de no amavio
Da água verter um brando óleo de malvas
Que te aveluda as coxas e mais brilho
Te dá ao polimento das espáduas.

E saindo do banho como a deusa
Sai, das macias ondas, nacarada,
Ergue-te para o amor, estátua de seda
Toda coberta com pérolas de água.

Por fim veste a camisa mais picante;
Com pó de ouro empoa o teu cabelo.
E vai para a alcova onde o teu amante
Te espera radioso e fiel como um espelho.
         
Natália Correia, O Armistício, 1985



Em Dual, é convocado o poeta dos heterónimos no poema “Em Hydra, evocando Fernando Pessoa”, e é igualmente particularizada a memória de Ricardo Reis num conjunto de textos subordinados ao título geral “Homenagem a Ricardo Reis”.
Curiosamente, o interlocutor intratextual – quando existe de forma explícita – não é o homenageado mas as “suas criaturas”, nomeadamente Neera e Lídia. Cabe precisamente a Lídia a ode que abre o ciclo, e Sophia de Mello Breyner Andresen “fala” com Lídia num tom que só aparentemente é afim do de Ricardo Reis. Todo o vocabulário do poema – bem como a sua arquitetura estrófica – é devedor do léxico idiossincrásico de Ricardo Reis, não havendo, portanto, nenhum estranhamento vocabular; há, no entanto, uma espécie de “tom” particular que distingue radicalmente a voz de Sophia da do modelo que pretende homenagear. Dirigindo-se a Lídia, a poetisa não faz um convite amoroso – verdadeiro ou falacioso – mas alerta uma mulher para os perigos de um discurso que amolece a vontade de agir. No fundo, os conselhos de Sophia tentam contrariar os propósitos de ataraxia voluntarista procurados por Ricardo Reis; por isso, o poema abre com um imperativo negativo que pretende atingir Lídia, o próprio sujeito lírico e, de forma pedagógica, o leitor.
Repare-se na beleza e na força dramática da terceira estrofe: não pode haver momentos de hesitação, porque o presente da demora não existe; existe o passado, mas, ficando à beira do rio, como propõe Ricardo Reis, apenas se consegue carregar a memória com esse «Longo, indelével rasto/Que o não-vivido deixa». «Longo» e «indelével» são palavras serpentiformes e castigadoras; o rasto do não-vivido é o sinal que transforma o futuro num tempo duplamente amargo e confere à morte uma vitória impiedosa. Por isso, Sophia dirige-se a Lídia exortando-a a fazer do carpe diem não um projeto de vida lenificado pelo temor, mas uma imersão na corrente do rio. Reside aqui, creio, o centro do diálogo que Sophia de Mello Breyner estabelece com Lídia, com Ricardo Reis e com Pessoa, pois como diz Anna Klobucka, ao comentar outros textos, «o apelo à boda coroa o diálogo intertextual, oferecendo-se como uma solução para a viuvez, pessoana, e não só» (cf. "Sophia «escreve» Pessoa", Revista Colóquio/Letras. Ensaio, n.º 140/141, abril de 1996, p. 168.)



O convite à boda, isto é, à festa do corpo e à alegria dos sentidos, constitui também a essência da mensagem que Natália Correia dirige a Lídia. Em O Armistício, um livro extraordinário publicado em 1985, Natália Correia revisita a poesia de Ricardo Reis, sobretudo em dois momentos essenciais: quando, ao propor a descrucificação de Cristo, recorre a um vocabulário que, por vezes, se aproxima das odes em que Ricardo Reis considera Cristo apenas mais um deus, nem maior nem menor do que os que já existiam no panteão – apenas é mais novo e mais triste (Vd. as odes seguintes: “Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero”; “Não a ti, Cristo, odeio ou menos prezo”; “Não a ti, mas aos teus odeio, Cristo”) -, e quando, nos poemas que constituem o capítulo “Sete Motivos do Corpo”, invoca Lídia. O poema de Natália transforma completamente o intertexto nuclear e oferece a Lídia um cenário cultural e estético que a liberta das amarras filosofantes de Reis e lhe devolve a plenitude solar do corpo. O tema da morte - que obsidia Ricardo Reis, impedindo-o de fruir os breves prazeres da vida, e que, por outros modos, também constitui para Horácio um motivo de indisfarçável pavor – está presente no texto de Natália Correia; mas, ao contrário dos poetas que a antecedem, a voz da poetisa tem o encanto das feiticeiras e a destreza das pitonisas. O Orco, diz Natália, raptou Perséfone «rendido à graça», por isso, o corpo não deve ser negado, deve, sim, ser motivo de júbilo e de festa. Lídia, à semelhança de Vénus, a deusa que «sai, das macias ondas, nacarada», deverá perceber que são falsas e enganadoras as doutrinas que desprezam o corpo e transformam o amor num deus receoso, incorpóreo e punitivo. O belíssimo quadro, pintado com as palavras firmes e suaves de Natália Correia, é um convite e uma lição: convida-nos a participar na festa dos sentidos, e ensina-nos uma moral de gratidão.
                     
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        
                        

António Manuel Ferreira, As Vozes de Lídia” 
Ágora.  Estudos Clássicos em Debate 3, 2001, pp. 263-267  

 

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  • SOPHIA, A «FREIRA», E NATÁLIA, A «CORTESû

Sophia de Mello Breyner Andresen (1919 – 2004) não era uma pessoa com quem fosse fácil lidar. E quando detestava alguém, detestava a sério. Era capaz da maior secura no trato. Agustina Bessa-Luís, com quem Sophia tinha uma relação também nada fácil, cúmplice, mas muito ambivalente, de admiração, mas também de picardia, desculpou-a dizendo: «Há mulheres que têm virtudes de rainha e por isso são mal compreendidas».

Natália Correia (1923 – 1993) era um dos seus ódios de estimação. A aristocrata não tolerava a agitadora militante, chocava com ela, não a queria nem por perto.

Acontece que essa antipatia era mútua. Natália embirrava igualmente com Sophia, não a suportava. Oriunda da Ilha de São Miguel, nos Açores, de estatuto social muito mais baixo (era filha de uma professora primária e de um comerciante que emigrou para o Brasil quando esta tinha seis anos), estava sempre de pé atrás relativamente ao facto de Sophia, vinda da alta burguesia do Porto e católica, ter uma posição oposicionista ao fascismo e ser de esquerda.

«Para Sophia, Natália era uma “cortesã”. Para Natália, Sophia era uma “freira”», comenta Isabel Nery na biografia que escreveu da poetisa Sophia.

Sophia, de humores, com uma ironia muito difícil de entender, com muito medo das doenças, obcecada com a limpeza e a desinfeção (tinha pavor de micróbios), e Natália, com um sentido de humor muito especial, polémica, irascível, cheia de excentricidades, tão extraordinária quão assustadora, eram duas mulheres grandiosas, porém, nada fáceis.

Sempre que se cruzavam em atividade literárias ou políticas, se davam de caras uma com a outra, era de fugir. Dialogavam o mínimo e indispensável e sempre com palavras cortantes. Todavia, tinham de se cruzar várias vezes, já que viviam na mesma cidade, Lisboa, tinham muitos amigos em comum e percursos muito semelhantes: duas destacadas poetisas; duas escritoras com papel social, posicionando-se como artistas intervenientes e não isoladas nas suas torres de marfim; duas grandes figuras da cultura portuguesa; duas intelectuais para quem a escrita, a leitura e a vida eram inseparáveis; duas mulheres que se bateram toda a vida pela liberdade e pela democracia; duas mulheres defensoras da cultura ao serviço do Homem e não do poder, Sophia argumentando: «A política é que é um capítulo da cultura e não o contrário», Natália, que chegou a ser consultora para os Assuntos Culturais da Secretaria de Estado da Cultura e, mais tarde, deputada, dizendo: «Fui deputada porque me pediram para introduzir o discurso cultural no Parlamento»; duas oposicionistas ao Estado Novo, ambas apoiantes, em 1969, da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), que estaria na génese do Partido Socialista; duas mulheres ativistas que passaram pela política, com presença na Assembleia da República (Sophia pelo PS de Mário Soares e Natália pelo PPD de Sá Carneiro e, mais tarde, pelo PRD do general Ramalho Eanes)...

As duas eram incompatíveis. Provavelmente por terem tanta coisa em comum... Duas mulheres destemidas, corajosas, rebeldes, insubmissas, inconformistas; de personalidade muito forte, carismáticas; ambas vaidosas e orgulhosas; ambas muito egocentradas; ambas com o invulgar dom da palavra; ambas nada vocacionadas para a lida da casa; ambas com uma sensibilidade e imaginação invulgares; tiveram ambas mães muito presentes, com forte influência na sua personalidade, que zelaram para que tivessem uma educação acima do comum e uma cultura privilegiada.


Sophia, princesa da Ética e da Estética, uma diva distante e fria, muito contida, avessa ao contacto físico, distraída, de cabeça nas nuvens, etérea, fumando o seu cigarro fino e longo entre os dedos esguios, Natália, uma Madona de sensualidade, desafiadora, fogosa, de pose deslumbrante, enigmática, fumando um cigarro na sua icónica boquilha segura com a mão papuda.

Tão diferentes e tão iguais, tão iguais e tão diferentes...

(Paulo Marques, Facebook, 01-04-2023)



CARREIRO, José. “As vozes de Lídia”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 10-03-2014 (última atualização: 02-04-2023). Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2014/03/as-vozes-de-lidia.html


segunda-feira, 17 de março de 2014

RICOCHETE (Natália Correia)

    
 NATÁLIA CORREIA
         
         
RICOCHETE

Que margens têm os rios?
para além das suas margens?
Que viagens são navios?
Que navios são viagens?

Que contrário é uma estrela?
Que estrela é este contrário
de imaginarmos por vê-la
tudo à volta imaginário?

Que paralelas partidas
nos articulam os braços
em formas interrompidas
para encarnar um espaço?

Que rua vai dar ao tempo?
Que tempo vai dar à rua
onde o relógio do vento
pára na hora da lua?

Que palavra é o silêncio?
Que silêncio é esta voz
que num soluço suspenso
chora cá dentro por nós?
         
Natália Correia, Passaporte, 1958
         
         
         
Se em “De perfil” a anamorfose* realiza-se semanticamente, em “Ricochete” (1993, v. 1, p. 202-203), da obra Passaporte (1958), ela se revela no discurso, em sua circum-axilidade construída pelos questionamentos duplos colocados em avesso entre si.
O poema é desenvolvido sob a forma de um eixo, o dos referidos questionamentos, tal como cresce uma árvore em torno do caule, sem apresentar um lado frontal. As repetições de questionamentos seguem a estética surrealista de rutura com a lógica e constroem uma obscuridade alimentada pelas rimas finais em alternância. O título corresponde à ação ou ao acontecimento reflexo que responde a outra ação ou acontecimento; quer dizer: resposta. Trata-se de uma circum-axilidade não meramente semântica, mas principalmente formal. Se fosse semântica, seria simplesmente circularidade, mas ocorre algo a mais, na dimensão da escrita. Por isso, chama-se de circum-axilidade, que é o desenvolvimento ao redor de um eixo da escrita.
    
São José do Rio Preto, Universidade Estadual Paulista 
Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas, 2006, pp. 175-176
        
_________________
(*) Anamorfose, um termo advindo das artes plásticas e que significa desvio em relação à parte frontal, uma espécie de obliquidade. Adaptando o conceito à literatura, para Natália, tal como ela mesma escreve no prefácio de O surrealismo na poesia portuguesa(1973, p. 11), a anamorfose almeja a “depravação da perspetiva lógica”.
           
       
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Audição de “Ricochete” (excerto adaptado).
Música: Popular ("Não se Me Dá Que Vindimem" e "Meninas, Vamos à Murta" – Beira Baixa).
Intérprete: Ana Laíns (in CD Quatro Caminhos, Difference, 2010).
   

Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária de textos de Natália Correia, por José Carreiro. In: Lusofonia – plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo. Disponível em: https://sites.google.com/site/ciberlusofonia/europa-galiza-e-portugal-continental-e-ilhas/Lit-Acoriana/Natalia_Correia, 2021 (3.ª edição).

          


  
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2014/03/17/ricochete.aspx]