POEMA 18
Sombra, leva mais longe a tua linha,
Que a tarde vai-se e levanta
A sua roupa de horas,
‑ Tudo o que a tarde tinha.
Quando a água do tanque é mais profunda,
Olhar ‑ e ser mais velho!
Como num mar, no tempo entramos;
Ele é que nos inunda
A casa até ao espelho.
Já tudo retira as tendas
Para outra água e verde;
Os camelos vão sem unhas;
Só diante de nós o que se perde,
Alma, já não é vida.
Tu, nem a morte supunhas.
Sombra, leva mais longe a tua linha,
Que a tarde vai-se e levanta
A sua roupa de horas,
‑ Tudo o que a tarde tinha.
Quando a água do tanque é mais profunda,
Olhar ‑ e ser mais velho!
Como num mar, no tempo entramos;
Ele é que nos inunda
A casa até ao espelho.
Já tudo retira as tendas
Para outra água e verde;
Os camelos vão sem unhas;
Só diante de nós o que se perde,
Alma, já não é vida.
Tu, nem a morte supunhas.
Vitorino Nemésio, Eu, Comovido a Oeste (1940)
LINHAS DE LEITURA
Procure, no poema, linhas de significado, considerando:
• o apelo à sombra, o apelo à distância;
• a água do tanque da infância tornada espelho da velhice;
• a caminhada, os signos da errância: «tendas, camelos»;
• o tempo: o sentimento de perda;
• o tempo: a morte.
Plural 12, E. Costa, V. Baptista, A. Gomes, Lisboa Editora, 1999.
SUGESTÕES DE LEITURA
[Post original: http://comunidade.sol.pt/blogs/josecarreiro/archive/2012/08/26/poema18.aspx]
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