Georges! anda ver meu país de romarias
E procissões!
Olha estas moças, olha estas Marias!
Caramba! dá-lhes beliscões!
Os corpos delas, vê! são ourivesarias,
Gula e luxúria dos Manéis!
Têm orelhas grossas arrecadas,
Nas mãos (com luvas) trinta moedas, em anéis,
Ao pescoço serpentes de cordões,
E sobre os seios entre cruzes, como espadas,
Além dos seus, mais trinta corações!
Vá! Georges, faz-te Manel! viola ao peito,
Toca a bailar!
Dá-lhes beijos, aperta-as contra o peito.
Que hão de gostar!
Tira o chapéu, silêncio!
Passa a procissão
In “Lusitânia no bairro latino”, António Nobre
Os ouros no peito da minhota não são
apenas um enfeite ou uma vaidade - são o seu melhor símbolo de riqueza. É um
esplendor, porque “o peito da minhota é um céu estrelado”. De tal modo assim é
que D. António da Costa, em “No Minho”, afirma: “Pode falar-se em inscrições,
em ações de bancos, em emprestar dinheiro a juros, em enterrá-lo no quintal,
que tudo isso é falar-lhe grego. O coração da minhota adora o seu namorado; a
imaginação da minhota, sonha com o seu ouro.”
Ir ao notário a fim de legalizar um
determinado negócio, muito especialmente na venda duma propriedade, obriga a
que as mulheres das partes se apresentem ouradas com um certo exagero - não
muito. Isto para demonstrarem à sociedade que, se vendem, não é por necessidade
financeira - mas sim porque surgiu uma ótima oportunidade de venda; assim
mostram também que quem comprou não foi obrigado a desfazer-se do seu ouro. Ir
à feira transacionar os produtos da sua lavra – uns ovos, umas aves, um quarto
de feijão (repartido por duas sacas, em meios quartos, para maior facilidade de
venda) meia raza ou uma raza de batatas, uma talha de unto ou toucinho, uns
chouriços e sei lá que mais! – não se pode deixar de se ter isso como trabalho,
mas trabalho diferente e em que a boa aparência é importante , inclusive para
melhor “correntio” do negócio.
Não duvidem: a “boa área” que a distingue
da “cabaneira” (pobretona) concorre para melhor aceitação do que se vende...
Não se ouve tantas vezes? – “comprei porque, pelo ar da lavradeira, vi que era
coisa de confiança!” O “ar” de quem vendia avaliava-se pelas roupas e sua
limpeza, bem como pelo ouro que ostentava. Se pouco, dava aspeto de
“pobretona”; se exagerado, poderia ela ser tida como “alevantada”. Tudo na sua
medida certa.
TRADITIONAL PORTUGUESE FILIGREE - FILIGREE HEARTS.
Filigree Hearts that
nowadays appear quite often on the Viana do Castelo, Portugal, women chest were
not very used in ancient times – in part because of the large amount of
workmanship hand, and because they were usually made of golden silver, a metal
that is now used in almost all of the ones currently made.
António Nobre poem
“Georges! Come and see my
country of pilgrimages
And processions!
Look ate those girls, look at
these Marias*!
Wow! Pinch them!
Their body, see! They’re
goldsmitheries,
Greed and lust of the Manéis*!
They have in their ears thick
‘arrecadas’,
In their hands (with gloves),
thirty coins in rings,
Round their necks, serpents of
strings,
And on their chests, among
crosses, as swords,
Beyond their own, thirty
hearts more!
Come on Georges, turn yourself
into a Manel! Take your guitar!
Let’s dance.”
* The popular names for the woman and man from Viana do Castelo are
Maria and Manel respectively. N.T.
The
gold in the Minho’s woman’s chest is not only an ornament but or a symbol of
vanity – it is her best symbol of wealth. It’s a splendour, because, “the
Minho’s woman’s chest is a sky full of stars”. It is so in such a way that D.
António Costa, in No Minho, states: ‘One can speak about registrations, bank
shares, interests from lending money, burying it in the backyard, all of that
is like talking Greek to her. The heart of the woman from Minho loves her
boyfriend; her imagination dreams about her gold.”
To
go to the Notary in order to formalize a certain business, specially as far as
the selling of property is concerned, forces the women of the two parts to
present themselves ‘ouradas’ (=covered with gold) with some exaggeration (not
much), to show the society that: if they sell, it’s not of financial need; if
they buy, they didn’t have to let go of their gold.
To
go to the fair to negotiate the products of their farm work – some eggs, a
couple of hens, a quarter of beans (divided into two bags, in half-quarters, to
make it easy to sell), half a ‘raza’ (ancient measure/weight unit) or a ‘raza’
of potatoes, a ‘talha’ (ancient measure/weight unit) of grease or bacon , some
sausages, who knows what else! – one has to consider that as work, but a
different one, in which good appearance is important, also to the best
development of the business trades. Don’t forget it: the ‘good area’ that
differentiates her from the ‘cabaneira’ (=poor woman) is important for a good
acceptation of the goods she’s selling. Don’t you hear it so often – “I’ve
bought it because of the good air of the ‘lavradeira’ (= woman farmer). I saw
that it was something trustworthy!” the ‘air’ of who was selling could be
evaluated by the clothes and their clean appearance, as well as by the gold she
was wearing – if little, it would give an exaggerated appearance of poverty; if
much, she could be called ‘alevantada’ (=wanting to appear wealthier than she
really was). All in the
right measure.
HAVEMOS DE IR A VIANA
Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las.
Se o meu sangue não me
engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento.
Se o meu sangue não me
engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana.
Ciganos, verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta.
Música:
Alain Oulman
Letra:
Pedro Homem de Melo
Intérprete:
Amália Rodrigues
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