Ilustração
do poema “As pessoas sensíveis”, por Sónia Oliveira. (in Letras & Companhia 9, C. Marques e I. Silva. Lisboa, Edições Asa, 2013) |
As pessoas sensíveis não são capazes
LIVRO
SEXTO, 1.ª ed., 1962, Lisboa, Livraria Morais Editora; 2.ª ed., 1964, Lisboa,
Livraria Morais Editora; 3.ª ed., 1966, Lisboa, Livraria Morais Editora; 4.ª
ed., 1972, Lisboa, Livraria Morais Editora; 5.ª ed., 1976, Lisboa, Moraes
Editores; 6.ª ed., 1985, Lisboa, Edições Salamandra; 7.ª ed., revista, 2003,
Lisboa, Editorial Caminho; 8.ª ed., revista, 2006, Lisboa, Editorial Caminho. 1.ª
edição na Assírio & Alvim (9.ª ed.), Lisboa, 2014, prefácio de Gustavo
Rubim.
Comentário da ilustração que Sónia Oliveira (2013) fez do poema “As pessoas sensíveis”
A aguarela de Sónia Oliveira que
acompanha o poema “As pessoas sensíveis” representa em plano aproximado o
tronco de uma árvore, pintado em tonalidades acastanhadas ou castanho-avermelhadas. À sua frente, em
primeiro plano, folhas verdes e sementes ou frutos amarelos (amarelo dourado) caem
sobre uma bandeja que está a ser segurada num galho.
Embora as pinceladas da aguarela desenhem um tronco, a sua coloração vermelha escura assemelha-se a uma mancha de sangue. Por sua vez, o pequeno galho parece-se com um braço e uma mão ressequidos e as folhas e os
frutos se parecem com dinheiro em forma de notas e de moedas de ouro.
A representação do conjunto, uma espécie de
árvore das patacas, remete para uma leitura metafórica, ainda mais sendo
a pintura uma ilustração de um texto cuja temática é de empenhamento social,
característica da literatura comprometida da segunda metade do século XX, em
Portugal.
Efetivamente, a ilustração de Sónia Oliveira é uma alegoria da exploração do Homem pelo Homem (denunciada também por Sophia), por encenar, com elementos da natureza, a submissão dos fracos e miseráveis que dão de bandeja o fruto do seu trabalho aos poderosos exploradores que acumulam riqueza à custa do desgaste e "suor dos outros" .
JOSÉ CARREIRO
Proposta de escrita de texto expositivo-argumentativo:
Elabore um texto expositivo-argumentativo sobre o tema da pobreza, em que comentes as frases abaixo citadas.
"É ou não é?", debate na RTP 1, 2022-10-25 - Perfil poético e estilístico de Sophia de Mello Breyner Andresen - apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da lírica de Sophia de Mello Breyner Andresen, por José Carreiro. Folha de Poesia, 2020-07-17.
- O Nome das Coisas, Sophia de Mello Breyner Andresen. Documentário da Panavideo para a RTP, 2007:
- Crónica de Frederico Lourenço: Crença em Jesus – e a crença de Jesus
O primeiro cristão cujo pensamento e crença conhecemos é São Paulo. Ora, não há a mínima dúvida de que Paulo acreditava profundamente em Jesus Cristo. Mas, apesar do fervor ardente com que Paulo nos fala da sua fé em Cristo, os seus escritos ignoram a vida e os ensinamentos de Jesus.
A parte fácil do cristianismo (a crença) está presente em Paulo. Mas a parte difícil – seguir o exemplo que Jesus deu de entrega aos pobres e aos desesperados; de perdão para com todo o tipo de pecador; de não-violência; de rejeição do dinheiro – essa parte está ausente do testemunho paulino do cristianismo.
Na realidade, parece claro que, desde há dois mil anos, acreditar em Jesus sempre se afigurou mais cómodo (sobretudo a imperadores, reis, papas, bilionários e a ditadores que reinaram com o beneplácito de bilionários e de papas) do que acreditar naquilo em que o próprio Jesus acreditou.
Ora, Jesus acreditou que era sua obrigação fazer com que pobres e doentes recebessem cuidado, dando-nos assim o exemplo no sentido de nós próprios fazermos o mesmo. Na parte inicial do Evangelho de Marcos, Jesus cura um doente perante a atitude escandalizada de quem só conseguia ver que se tratava de um sábado e que era proibido dar assistência a um necessitado em dia de sábado. Para estas pessoas, a religião era uma realidade autónoma e superior à necessidade de dar ajuda a um desesperado. Sabemos que a reacção de Jesus, depois de curar o doente, não foi branda: olhou-os «com cólera e entristecido com a dureza dos seus corações» (Marcos 3:5).
Acreditar naquilo em que Jesus acreditava é incómodo? Sem dúvida. Quem é que quer ouvir «Não acumuleis para vós tesouros na terra» (Mateus 6:19)? Ou «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Marcos 6:24)? Ou «Se tiverdes dinheiro, não o empresteis a juros; mas dai-o a alguém do qual o não recebereis de volta» (Tomé 95)?
Quem é que quer ouvir que é imoral termos mais do que precisamos – enquanto outros não têm o mínimo de que precisam?
Vejamos o que Jesus diz em Lucas 10:7: «Guardai-vos de toda a excedência [em grego “pleonexía”] porque não há vida no ter em excesso» (Lucas 12:15).
Vivemos num mundo em que a riqueza excedentária de uns coexiste com a fome de outros.
«Condoo-me desta multidão», diz Jesus em Marcos 8:2: «não têm o que comer».
Todos sabemos que, nos Evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas, Jesus diz para darmos a César o que é de César; e a Deus o que é de Deus.
Porém, no Evangelho de Tomé (100) estas palavras apresentam uma diferença fascinante: «Dai a César o que é de César. Dai a Deus o que é de Deus. E DAI-ME A MIM O QUE É MEU.»
Mas o que haveria para «dar a Jesus» que pudesse ser diferente do que é para darmos a Deus? Estamos perante outra realidade que se sobrepõe à própria religião (notem a estrutura retórica ascendente: César, Deus, Jesus)?
A resposta está, talvez, em duas palavras registadas por Mateus (8:22) e Lucas (9:59):
«Segue-me».
Seguir Jesus é seguir o exemplo de Jesus; e para seguirmos o exemplo dele, temos de acreditar naquilo em que ele acreditava.
A melhor forma, afinal, de acreditarmos nele.
Frederico Lourenço, “Crença em Jesus – e a crença de Jesus”, https://www.facebook.com/professor.frederico.lourenco, 2022-10-30
Jesus junto do doente de Betzatá, por Murillo
CARREIRO, José. “As pessoas sensíveis, Sophia Andresen”.
Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 06-11-2016 (última atualização:
30-10-2022). Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2016/11/6-de-novembro-de-1919-dia-do-nascimento.html
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