terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Love’s philosophy, segundo Percy Bysshe Shelley



LOVE’S PHILOSOPHY

The fountains mingle with the river
And the rivers with the ocean,
The winds of heaven mix for ever
With a sweet emotion;
Nothing in the world is single;
All things by a law divine
In one spirit meet and mingle.
Why not I with thine?—

See the mountains kiss high heaven
And the waves clasp one another;
No sister-flower would be forgiven
If it disdained its brother;
And the sunlight clasps the earth
And the moonbeams kiss the sea:
What is all this sweet work worth
If thou kiss not me?

Percy Bysshe Shelley, 1819


O poeta romântico Percy B. Shelley (4-08-1792 / 8-07-1822) nasceu em Field Place, na cidade de Horsham, condado de West Sussex, na Inglaterra.



Filosofia do amor

Todas as fontes com o rio se fundem
E os rios com o oceano;
Os ventos, pelos ares, uns aos outros se unem
Com fragrante emoção;
Nada fica sozinho neste mundo;
Tudo, por fado antigo,
Entre si se mistura e se confunde:—
Porque não eu consigo?

Olha! As montanhas beijam o firmamento,

A onda, a onda enlaça;
Nenhuma flor-irmã tem valimento
Se o irmão não abraça;
A luz do Sol envolve a terra à roda,
Raios do luar beijam os mares: —
Mas toda esta ternura que me importa
Se tu não me beijares?

Tradução de Herculano de Carvalho
Filosofia do amor

Correm as fontes ao rio
os rios correm ao mar;
num enlace fugidio
prendem-se as brisas no ar…
Nada no mundo é sozinho:
por sublime lei do Céu,
tudo frui outro carinho…
Não hei de alcançá-lo eu?

Olha os montes adorando
o vasto azul, olha as vagas
uma a outra se osculando
todas abraçando as fragas…
Vivos, rútilos desejos,
no sol ardente os verás:
– Que me fazem tantos beijos,
se tu a mim mos não dás?

Tradução de Luiz Cardim (in Horas de Fuga. Traduções de Poesias Inglesas e Outras Línguas. Porto, 1952)

      Linhas de leitura (da versão de Luiz Cardim): 
  • Na primeira estrofe, três caminhos são referidos: «as fontes» que se vão encontrar com o rio; «os rios» que vão desaguar ao «mar»; «as brisas» que se misturam umas com as outras no «ar». Estes carinhos associam-se ao contacto.
  • Assim, como se demonstrou com os vários contactos apresentados, «Nada no mundo é sozinho» (v. 5).
  • Através da frase interrogativa, no último verso da primeira estrofe, o sujeito poético admira-se por não poder usufruir da lei universal que diz que «Nada no mundo é sozinho», pois por decreto divino («sublime lei do Céu») «tudo frui outro carinho». Ele não, como se depreende dos dois últimos versos do poema.
  • No poema, o sujeito poético queixa-se ao seu destinatário por dele não receber os beijos – que por toda a Natureza se observam, como se pode ver nas personificações da segunda estrofe: «olha as vagas/ uma a outra se osculando», vv. 10 e 11; outras personificações ocorrem em «os montes adorando», v. 9, ou em «todas abraçando as fragas…», v. 12. 

(Adaptado de Entre Palavras 7, António Vilas-Boas e Manuel Vieira. Editora Sebenta, 2013.)





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