Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless, me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night,
rage, rage against the dying of the light.
Dylan Thomas
Não entres docilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.
No fim, ainda que os sábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram docilmente nessa noite serena.
Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis ações ter dançado na baia verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E os loucos que colheram e cantaram o vôo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram docilmente nessa noite serena.
Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quanto os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.
E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entres docilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.
Dylan Thomas
Tradução: Fernando Guimarães
Na segunda parte de Ser & Tempo, no capítulo 53,
Heidegger diz: "Como possibilidade, a morte não propicia ao ser-aí nada
para ser realizado e nada em que, em si mesmo, possa ser real. É a
possibilidade de toda relação com..., de todo existir. Na antecipação, a
possibilidade 'será sempre maior', ou seja, se desentranha como aquela que
desconhece toda medida, todo mais ou menos, significando a possibilidade da
impossibilidade, sem medida, da existência." (Ser & Tempo, cap. 53).
Algumas poucas pessoas conseguiram
captar tão bem esta possibilidade da impossibilidade. Esta certeza-incerta que
a tudo permeia. Estes dias, assistindo Nat. Geo, vi que alguns cientistas estão
enlouquecidos procurando explicar com que velocidade caminha nosso universo
para seu fim. Falam em uma força escura que faz as todos os objetos do mundo se
afastarem um dos outros em direção ao isolamento. Mas os poetas já perceberam
tudo isto neste micro cosmos de segundos e minutos de nossas vidas. Não
precisam seguir numa contagem de bilhões de anos, mas codificam toda esta maravilha
que é estar morrendo em uma dizer radical. Um desses poetas chama-se Dylan
Thomas (1914-1953).
O Peso da Sombra foi
publicado pela primeira vez em 1982 e é porventura o livro, no universo da obra
de Eugénio de Andrade, onde mais notoriamente se manifesta a melancolia e a
aguda consciência da passagem do tempo, com os seus efeitos sobre o corpo.
No poema «Não ouças essas vozes que não param» ecoa a exortação de Dylan
Thomas para não desistirmos da vida, quando a velhice nos toca («Não entres
docilmente nessa noite serena»). Deveríamos, destarte, lutar contra a decadência
do corpo e perceber a importância de nos mantermos vivos.
A obra Não Entres Tão
Depressa Nessa Noite Escura (2000) de António Lobo Antunes, apresenta
uma certa hibridez na sua composição: é classificada como sendo um poema apesar
das suas densas 500 páginas e é construída através de uma multiplicidade de
vozes narrativas, de perceções e de pensamentos que se entrelaçam, se repetem e
se misturam.
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