Quem foi?
Quem urdiu e enganou
o mundo
à minha volta?
Cravou o punhal
no meu coração?
Desencadeou em mim
a dor gelada
a envenenar-me a vida
com a sua mão?
Quem matou
me apagou a felicidade?
Ao despertar
o deserto
na maior solidão?
“IV – Solidão”, in Paixão.
Maria Teresa Horta. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2021
«É um
livro de poesia. O meu marido morreu repentinamente há um ano, foi uma
violência muito grande para mim. Ele é a minha paixão, ao final de 56 anos
juntos. No dia seguinte ao funeral, disse para mim “vou escrever um livro e o
título vai ser Paixão”. Este livro é para ele, como todos os outros que
escrevi. É um livro de poesia de amor dividido em seis partes. Nunca pensei ser
capaz de fazer isto. Inicialmente, a escrita deste livro ajudou-me muito. Todos
os dias escrevia, escrevia e escrevia… a poesia salva. A poesia salva-me.
Salvou-me várias vezes na minha vida. Mais uma vez. Nesta fase, o processo
tornou-se muito mais difícil, porque eu escrevo à mão e estou a ter dificuldade
em passar para a máquina porque é o tema que é… É perturbante.
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| Luís de Barros e Maria Teresa Horta |
Foi um
livro que me deixou viver e sobreviver à morte e que agora, neste momento,
faz-me reviver diversos aspetos da minha vida e da perda. Não estou a reagir
mal ao livro, estou a reagir mal ao assunto. Tenho hesitado muito. Sinto-me
desassossegada com este livro. Escrever o livro fez-me aguentar, mas agora ter
de olhar para este espelho inquieta-me.»
Maria
Teresa Horta, https://ami.org.pt/blog/entrevista-a-maria-teresa-horta/, 02-12-2020



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