“Que é, pois o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei.”
Santo
Agostinho de Hipona (354-430), Tradução de J. Oliveira Santos, S.J., e A.
Ambrósio de Pina. S.J., Confissões, Editora Nova Cultural Ltda., São Paulo,
Brasil, 1999. Livro XI, XIV.17
ORAÇÃO
AO TEMPO
És
um senhor tão bonito
Quanto
a cara do meu filho
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Vou
te fazer um pedido
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Compositor
de destinos
Tambor
de todos os ritmos
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Entro
num acordo contigo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Por
seres tão inventivo
E
pareceres contínuo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
És
um dos deuses mais lindos
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Que
sejas ainda mais vivo
No
som do meu estribilho
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Ouve
bem o que te digo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Peço-te
o prazer legítimo
E
o movimento preciso
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Quando
o tempo for propício
Tempo,
tempo, tempo, tempo
De
modo que o meu espírito
Ganhe
um brilho definido
Tempo,
tempo, tempo, tempo
E
eu espalhe benefícios
Tempo,
tempo, tempo, tempo
O
que usaremos pra isso
Fica
guardado em sigilo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Apenas
contigo e comigo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
E
quando eu tiver saído
Para
fora do teu círculo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Não
serei nem terás sido
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Ainda
assim acredito
Ser
possível reunirmo-nos
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Num
outro nível de vínculo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Portanto,
peço-te aquilo
E
te ofereço elogios
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Nas
rimas do meu estilo
Tempo,
tempo, tempo, tempo
Caetano Veloso, 1979
Versão audio de Caetano Veloso
A
preocupação com os ensinamentos que o tempo deve necessariamente trazer à vida
é estampada também em “Oração ao tempo”, de 1979. Nela, o compositor reconhece
um caráter sagrado no tempo e dirige-se a ele em atitude suplicante,
reproduzindo a tradicional forma eucológica das orações: elogios à divindade,
desejo de comunhão espiritual, súplicas por suas bênçãos e afirmação da união
eterna. […]
O
artista roga pela sabedoria de experimentar o “prazer legítimo” e o “movimento
preciso” que só o tempo proporciona, a fim de que a sua vida espiritual “ganhe
um brilho definido” e ele espalhe benefícios:
Peço-te o prazer legítimo e o movimento
preciso
Tempo, tempo, tempo, tempo, quando o
tempo for propício
De modo que o meu espírito ganhe um
brilho definido
Tempo, tempo, tempo, tempo, e eu espalhe
benefícios
Nota: Eucologia é um ramo
da ciência teológica que estuda as orações e as leis que governam sua
formulação.
Carlos Eduardo Brandão Calvani, Teologia e MPB. São Paulo, UMESP-Edições Loyola, 1998
Versão de Maria Bethânia
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- Viagem na família | “Finitude”, José Carreiro
- "A Medida da Humanidade", Raquel Ribeiro. Super Interessante 14-10-1999: "O tempo só existe para os seres humanos. É filho da nossa consciência. Os outros animais simplesmente vivem – para eles não há ontem nem amanhã."
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