A língua que falas e escreves
é uma árvore de sons
que tem nos ramos as letras,
nas folhas os acentos
e nos frutos o sentido
de cada coisa que dizes.
É uma língua tão antiga
como isto de ser português.
Teve o latim por avô,
que primeiro foi romano,
depois bárbaro,
mais tarde monge medieval
ou copista do Renascimento.
A língua cresceu com o país,
que se alongou até ao sul
e depois chegou às ilhas,
vencendo os tormentos do mar.
O país ganhou a forma
de uma língua de terra
capaz de usar palavras
como “lonjura” e “saudade”.
Foi a língua da viagem,
do assombro e da aventura,
usada para relatar
descobertas e naufrágios,
triunfos e derrotas
nas mais remotas paragens,
enquanto os porões se enchiam
com as raras especiarias
que tanta fortuna fizeram.
É uma língua que se veste
de baiana no brasil,
ganhando feitiços de som
em Angola e Moçambique
e novos significados
lá para as bandas de Timor.
É uma língua que ajudou
a fazer o comércio e a guerra
mas que hoje prefere
usar os verbos da paz.
Esta é a língua dos escritores,
de Eça e de Camilo,
e de muitos outros mais,
dos semeadores de sons,
dos povoadores de versos
de todos os que dizem a quem começa:
Tratem bem a nossa língua,
pois se a tratam mal
nem imaginam o mal que fazem
a este Portugal.
Esta é a língua dos meninos
que brincam com as palavras
e fazem delas brinquedos
para alegrarem o recreio
das histórias mais bonitas
que alguém pode contar.
E o orgulho que temos
nesta língua portuguesa
irá do berço para a escola
e da escola para a rua,
pondo em cada palavra
uma pepita de ouro
e uma centelha de lua,
pois afinal esta língua
será sempre minha e tua.
José Jorge Letria, Esta Língua Portuguesa, Porto,
Ambar, 2007
De acordo com a leitura do poema “A língua que
falas e escreves”, de José Jorge Letria, classifica cada afirmação que se segue
como verdadeira ou falsa. Procede à correção das afirmações falsas.
1.
No
poema utiliza-se a metáfora da árvore para descrever a estrutura e a
complexidade da língua portuguesa, associando letras, acentos e sentidos a
diferentes partes da árvore.
2.
A
língua portuguesa é descrita como uma língua moderna e recente.
3.
A
língua portuguesa tem uma história não muito influente fora de Portugal.
4. A língua portuguesa é apresentada no poema como um meio de
comunicação associado exclusivamente a aspetos negativos, como guerras e
conflitos.
5. A alusão a figuras centrais na tradição literária de Portugal reforça
a ideia de que a língua é um património valioso que deve ser cuidado e
valorizado.
6. O poema faz um apelo para que a língua portuguesa seja
preservada e tratada com cuidado, ligando sua importância à identidade cultural
portuguesa.
7.
No
poema sugere-se que a língua portuguesa é apenas um objeto de estudo e não tem
relação com a infância ou o quotidiano.
8.
No
final do poema, a língua portuguesa é descrita como algo que carrega uma pepita
de ouro e uma centelha de lua, simbolizando seu valor e beleza.
Respostas:
1. Verdadeiro.
2. Falso. O sujeito poético afirma que a língua portuguesa é tão antiga quanto ser português e que teve o latim como ancestral, o que sugere uma longa história e evolução.
3. Falso. A língua portuguesa
tem uma longa história, estando espalhada por diversas regiões do mundo,
incluindo as ex-colónias portuguesas.
4. Falso. O poema menciona que a
língua portuguesa ajudou no comércio e na guerra, mas hoje prefere usar
"verbos da paz", indicando uma valorização da comunicação pacífica.
5. Verdadeiro.
6. Verdadeiro.
7. Falso. N poema refere-se a língua portuguesa como sendo a língua dos meninos que brincam com as palavras
e das histórias que alegram o recreio, mostrando a sua presença no quotidiano e
na infância.
8. Verdadeiro.