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A fermosura
desta fresca serra |
Luís de Camões, Líricas, Lisboa, Sá da Costa, 1981
Elabore um comentário o poema de Camões
que integre o tratamento dos seguintes tópicos:
-
partes lógicas constitutivas do texto;
-
processos usados na descrição da natureza;
-
relação entre a representação da paisagem e o estado emocional do sujeito;
-
marcas da estética renascentista.
Explicitação de cenários de resposta:
Partes
lógicas constitutivas do texto
O poema divide-se em duas partes, correspondendo
a primeira às quadras e a segunda aos tercetos. O elo entre ambas é o advérbio “enfim”
usado com valor conclusivo.
A primeira parte é constituída por uma
descrição dos elementos da natureza, a que se opõe a descrição do estado
emocional do sujeito, assinalada na segunda parte pela introdução do eu lírico (“me
está, se não te vejo, magoando”). A enumeração analítica dos elementos
paisagísticos, desenvolvida nas quadras, dá lugar, no primeiro terceto, à
síntese (“tudo”, “Natureza”), seguida, no segundo terceto, pela conclusão que
desvaloriza a beleza do cenário na ausência da mulher amada (“Sem ti, tudo me enoja
e me aborrece”).
Processos
usados na descrição da natureza
O processo de descrição da paisagem
consiste essencialmente na enumeração dos elementos que a compõem (“serra”, “castanheiros”,
“ribeiros”, “mar”, “ sol”, “ outeiros”, “gados”, “nuvens”), justapostos por
acumulação assindética (exceto no verso 2) em frases do tipo nominal (“o manso
caminhar destes ribeiros”, “o esconder do sol pelos outeiros”…). A harmonia do
cenário resulta quer da beleza cada um dos seus elementos - caracterizados por
adjetivos (“fresca”, “manso”, “branda”…) ou por nomes (“fermosura”, “sombra”…)
-, quer da sua profusão (“variedade”) e da excelência do conjunto (“rara Natureza”).
Após a enumeração realizada nas quadras, surge a síntese operada no primeiro terceto,
que contém, resumindo-os (“tudo”), os elementos antes especificados.
Relação
entre a representação da paisagem e o estado emocional do sujeito
A natureza é descrita como locus amoenus,
um ambiente bucólico em que todos os elementos se combinam harmoniosamente de
modo a criar um cenário propício ao deleite. Mas a euforia da paisagem, “donde
toda a tristeza se desterra”, opõe-se a disforia do sujeito, expressa pelo
paradoxo final: “estou passando, / nas mores alegrias, mor tristeza”. Em
consequência dos efeitos criados por esse contraste, a representação da
paisagem, viva e alegre, confere maior intensidade ao estado emocional do
sujeito, triste e magoado pela privação da mulher amada, cuja ausência (sublinhada
pela anáfora “Sem ti”, “sem ti”) transforma as dádivas da natureza em fonte de
dor. Daí a predominância, nos últimos versos, de vocábulos relacionados com
sentimentos e a conotação negativa de todos eles (“magoando”, “enoja”, “tristeza”…).
Marcas da
estética renascentista
Temáticas
-
locus amoenus
-
idealização da mulher
-
…
Formais
-
soneto
-
medida nova (decassílabo)
-
personificação dos elementos da natureza
-
…
CARREIRO, José. “A fermosura desta fresca serra, Camões”. Portugal, Folha de Poesia: artes, ideias e o sentimento de si, 24-03-2023. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2023/03/a-fermosura-desta-fresca-serra-camoes.html
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