domingo, 16 de junho de 2024

Depus a máscara e vi-me ao espelho, Álvaro de Campos


 

Depus a máscara e vi-me ao espelho...
Era a criança de há quantos anos...
Não tinha mudado nada...

É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que fica,
A criança.

Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor.
Assim sou a máscara.

E volto à normalidade como a um términus de linha.

 

Álvaro de Campos, Poesia, edição de Teresa Rita Lopes,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2002, p. 514.

 

QUESTIONÁRIO

1. Explique a importância da máscara na construção da dualidade do sujeito poético, tal como é apresentada ao longo do poema.

2. Depois de tirar a máscara, o sujeito poético opta por tornar a pô-la.

Justifique essa opção, com base em dois aspetos significativos.

3. Considere as afirmações seguintes sobre o poema.

I. O ato de se ver ao espelho sugere o desejo de autoconhecimento por parte do sujeito poético.

II. O sujeito poético anseia voltar a viver o seu tempo de infância.

III. A coexistência de versos longos e de versos curtos contribui para o ritmo do poema.

IV. O recurso às reticências, no verso 3, indicia a frustração sentida pelo sujeito poético.

V. No texto, evidenciam-se características da linguagem poética de Álvaro de Campos, como a liberdade formal e o uso de anáforas.

Identifique as três afirmações verdadeiras.

 

CRITÉRIOS DE CORREÇÃO

1. Explica a importância da máscara na construção da dualidade do sujeito poético, abordando, adequadamente, os dois tópicos de resposta.

- a máscara esconde o Eu associado à infância, num jogo entre ser e parecer/passado e presente, no qual a permanência do Eu passado surge quando a máscara é retirada;

- a duplicidade permite que o sujeito poético mantenha o seu ser autêntico e, simultaneamente, que desempenhe o papel social associado à máscara (optando pela identidade adquirida pela máscara).

 

2. Justifica a opção do sujeito poético por tornar a pôr a máscara, abordando, adequadamente, dois dos tópicos de resposta.

 

- a criança que a máscara oculta representa a vulnerabilidade do sujeito poético associada à infância;

- o Eu sente-se mais confortável quando coloca a máscara, na medida em que a imagem que dá a ver aos outros é a de alguém normal («E volto à normalidade» v. 11);

- a normalidade (o «términus de linha» v. 11) é construída através do recurso à máscara na viagem de autoconhecimento que o sujeito poético realiza, o que implica viver o presente, aceitando as convenções sociais.

 

3. I, III e V.


Fonte: Exame Final Nacional de Português | Prova 639 | 1.ª Fase | Ensino Secundário - 12.º Ano de Escolaridade | República Portuguesa – Educação, Ciência e Inovação / Instituto de Avaliação Educativa, I. P. (IAVE), 2024 (Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho; Decreto-Lei n.º 62/2023, de 25 de julho) – VERSÃO 1


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A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL AO SERVIÇO DA EDUCAÇÃO: explicação sistematizada do poema de Álvaro de Campos que saiu no exame 12.º ano.

1. **Tirar a máscara**

- O autor tira a máscara.

- Olha-se ao espelho.

- Vê-se como era em criança.

- A essência dele não mudou.

2. **Vantagem de tirar a máscara**

- Ao tirar a máscara, redescobre-se a criança interior.

- A verdadeira identidade, pura e intocada, permanece.

3. **Voltar a pôr a máscara**

- O autor decide voltar a pôr a máscara.

- Sente-se mais confortável e seguro assim.

- A máscara torna-se a sua personalidade.

4. **Aceitação**

- Aceita que vai continuar a usar a máscara.

- É assim que consegue viver e funcionar na sociedade.

 

Partilhado por Lúcia Vaz Pedro, in Pulsações Escritas - Facebook, 22/06/2024

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