domingo, 30 de junho de 2024

O menino da avó, Cecília Meireles

 


 

A AVÓ DO MENINO

A avó
vive só
Na casa da avó
o galo liró
faz “cocorocó!”
A avó bate pão-de-ló
e anda um vento t – o – tó
na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
mas se o neto Ricardó
mas se o neto travessó
vai a casa da avó,
os dois jogam dominó.

 

Cecília Meireles, Isto ou aquilo, 1964

 

No poema “A avó do menino”, de Cecília Meireles, o sujeito poético utiliza a simplicidade e a musicalidade para retratar a relação entre uma avó e o seu neto. A estrutura do poema é marcada pela rima constante, em que cada verso termina com o som do “ó” acentuado, criando um ritmo que remete para as cantigas infantis e para a oralidade da língua portuguesa.

A repetição dos versos “A avó” e “vive só” sugere uma solidão não absoluta, mas pontuada pela presença ocasional do neto. Essa solidão é relativa, pois é interrompida pela visita do neto, que traz vida e movimento à casa da avó, simbolizada pelo jogo de dominó.

A metáfora do vento que “anda” na cortina de filó sugere algo invisível e subtil que, no entanto, tem presença e movimento, assim como a solidão da avó que é palpável mesmo não sendo permanentemente visível.

A escolha de palavras com o som do “ó” acentuado, mesmo quando não é gramaticalmente necessário, enfatiza a sonoridade e a intenção em destacar a musicalidade do poema. Isso também pode ser visto como uma forma de dar ênfase à presença do neto, cuja chegada muda o tom da casa e da vida da avó.

O poema retrata, assim, a realidade afetiva de muitos lares, celebrando a alegria trazida pelo convívio intergeracional.


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