O Mostrengo
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O mostrengo que está no fim do mar |
10 |
«De quem são as velas onde me roço? |
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Três vezes do leme as mãos ergueu, |
9-9-1918
Fernando Pessoa, Mensagem
e Outros Poemas sobre Portugal, edição de Fernando Cabral Martins e Richard
Zenith, Porto, Assírio & Alvim, 2014, pp. 89-90.
NOTAS
1 breu – escuridão.
2 quilhas – peças do fundo das embarcações.
Textos de apoio
O Mostrengo
O Mostrengo, presente na Mensagem de Fernando Pessoa, corresponde à figura do Adamastor de Os Lusíadas, de Camões. Como este, é o guardião do Mar Tenebroso, no Cabo das Tormentas, mais tarde denominado da Boa Esperança.
O Mostrengo é a personificação do medo e
do receio. Como monstro é uma criatura contrária à natureza, à lei e à ordem
estabelecida, mas, ao mesmo tempo, derivando etimologicamente do
latim monstrum significa aquele que mostra, que revela.
O Mostrengo, ao ser vencido, permitiu a revelação de um
novo mundo aos Portugueses.
Tal como o Adamastor, surge como símbolo dos perigos e das
dificuldades que se apresentam ao ser humano que quer conhecer novos mundos. É,
também, símbolo das histórias fantásticas marítimas que amedrontavam.
Ambos são não só o símbolo dos problemas a enfrentar quando se pretende
explorar o desconhecido, mas também quando o homem deseja descer ao interior de
si próprio.
A figura do Mostrengo mantém toda a simbologia do fantástico
que se contava e que amedrontava mesmo os mais corajosos. O poema de Fernando Pessoa simboliza as dificuldades sentidas pelos
portugueses na conquista do mar, contrapondo o medo com a coragem que permite que
o homem ultrapasse os limites. Ao mesmo tempo, mostra a atitude de coragem do
marinheiro português perante aquele ser imundo e grosso,
vencendo os seus medos. O homem do leme torna-se
o símbolo do Portugal que
não tem medo e é representante de um povo de coragem que quer dominar os mares.
Porto Editora – O Mostrengo na Infopédia [em linha]. Porto: Porto
Editora. [consult. 2022-12-07]. Disponível em
***
Adamastor
É um dos gigantes mitológicos filhos da
Terra, que se rebelaram contra Júpiter e foram vencidos.
N'Os Lusíadas (Canto
V, 37-60), Camões apresenta-o metamorfoseado no Cabo das
Tormentas, chamado depois da Boa Esperança, ameaçando os Portugueses com "naufrágios, perdições de toda a sorte/Que o menor mal de todos
seja a morte ". Espera suma vingança de quem o descobriu (Bartolomeu
Dias), de D. Francisco de Almeida, primeiro vice-rei da Índia e de
Manuel de Sousa Sepúlveda, sua mulher e companheiros. Todos encontraram naquele
local a morte, sendo tristemente famoso o naufrágio de Manuel de Sousa
Sepúlveda. Todas as profecias já faziam parte da nossa História Trágico-Marítima.
O episódio estrutura-se, basicamente, em
dois momentos: a narrativa das ameaças e profecias da desgraça (V, 37-49) e a
narrativa compungida da infelicidade amorosa do gigante (V, 50-60). Situado no
momento central do Poema e no meio do Canto a que pertence, funciona
como centro onde confluem as grandes linhas da epopeia: o real-maravilhoso (dificuldades
e perigos da navegação do mar, sobretudo na passagem do Cabo), o lirismo
amoroso (história de Amor fracassado) e a existência de profecias (histórias de Portugal).
A partir destas linhas, podemos descortinar
o simbolismo do Adamastor. Em primeiro lugar, é o símbolo das forças cósmicas
que o homem terá de vencer para alcançar a meta desejada; em segundo lugar, a
sua destruição completa simboliza o domínio total dos mares pelos portugueses;
em terceiro lugar, é o símbolo do anti-herói que desaparece para dar lugar aos
verdadeiros heróis; finalmente, o seu drama amoroso simboliza e evidencia que o
amor possessivo, o erotismo forçado, só pode levar à destruição.
Porto Editora – Adamastor na Infopédia [em linha]. Porto: Porto
Editora. [consult. 2022-12-07]. Disponível em
Propostas de exploração do texto
I – Questionário sobre o poema “O Mostrengo”, de
Fernando Pessoa:
1. Relê a
primeira estrofe do poema.
O que sente o homem do leme perante o mostrengo? Relaciona esse
sentimento com três dos comportamentos do mostrengo.
2. Relê as falas
do mostrengo.
Refere por palavras tuas em que consiste a ousadia do homem do leme.
3. Seleciona, nos
itens 3.1. e 3.2., a opção que completa cada
frase, de acordo com o texto.
3.1. O ritmo do
poema é assegurado, entre outros aspetos, pelo uso de frases interrogativas e
exclamativas, bem como pelo recurso a aliterações e a
A apóstrofes.
B anáforas.
C metáforas.
D versos em redondilha menor.
3.2. Na segunda
estrofe, as interrogações presentes no discurso do mostrengo revelam, entre
outros aspetos,
A indignação e inquietação.
B coragem e determinação.
C tranquilidade e autoridade.
D tristeza e desilusão.
4. Assinala todas as afirmações verdadeiras, de acordo
com a globalidade do poema.
A O domínio do mostrengo é destacado pelo uso de
possessivos.
B O homem do leme assume-se como personagem coletiva.
C A atitude dos protagonistas nunca se altera: um
ameaça e o outro treme.
D O homem do leme, no confronto com o mostrengo,
acaba por vencer o medo.
E O mostrengo é, para o homem do leme, um obstáculo
inultrapassável.
5. O título, «O
Mostrengo», destaca uma das personagens do poema.
Explica em que medida este destaque dado ao mostrengo contribui para
reforçar o heroísmo do homem do leme.
6. Lê a estância
56 do Canto V de Os Lusíadas e a nota.
«Oh que não sei de nojo1 como o conte!
Que, crendo ter nos braços quem amava,
Abraçado me achei cum duro monte
De áspero mato e de espessura brava.
Estando cum penedo fronte a fronte,
Qu' eu polo rosto angélico apertava,
Não fiquei homem, não; mas mudo e quedo
E, junto dum penedo, outro penedo!»
Luís de Camões, Os
Lusíadas, edição de A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed.,
Lisboa, IC-MNE, 2003, p. 137.
NOTA
1 de nojo – de vergonha.
6.1. Escreve um
texto breve em que:
– identifiques a personagem que profere o discurso;
– refiras a causa da transformação dessa personagem num penedo;
– explicites a diferença entre o comportamento inicial do mostrengo no
poema de Fernando Pessoa (vv. 1-16) e a atitude da personagem que profere o
discurso na estância 56 do Canto V de Os Lusíadas.
Explicitação de cenários
de resposta:
1.
Na resposta, deve referir-se:
– o que sente o homem do leme: medo;
– três comportamentos do mostrengo que
desencadeiam o sentimento do homem do leme:
- voar;
- chiar;
- rodar à volta da nau;
- interpelar os tripulantes de forma assustadora;
- surgir na noite «de breu».
Explicita, de forma completa,
o que sente o homem do leme perante o mostrengo e relaciona esse sentimento com
três dos comportamentos do mostrengo.
Exemplo:
O homem do leme ficou muito assustado, porque o mostrengo voava
e chiava à volta da nau e falou de forma assustadora.
2. Na
resposta, deve referir-se:
– o facto de o
homem do leme ter ousado invadir o território do mostrengo;
– o facto de
ninguém ter entrado antes nesse território.
Refere por
palavras suas, de forma completa, em que consiste a ousadia do homem do leme.
Exemplo:
O homem do
leme ousou invadir o território do mostrengo, onde ninguém tinha entrado.
3.1. Chave: (B)
3.2. Chave: (A)
4. Seleciona apenas as três opções corretas: A;
B; D.
5. Na
resposta, deve referir-se:
– o
destaque dado pelo título: a grandeza do obstáculo a ultrapassar;
– o
heroísmo do homem do leme: ser capaz de enfrentar um obstáculo tão difícil.
Explicita, de
forma completa, em que medida o destaque dado ao mostrengo no título contribui
para reforçar o heroísmo do homem do leme.
Exemplo:
O título
reforça o heroísmo do homem do leme, porque destaca a grandeza do obstáculo que
este teve de ultrapassar.
6.1. Na
resposta, deve constar:
– a
identificação da personagem que profere o discurso: o Adamastor;
– a causa
da transformação do gigante Adamastor num penedo: o engano de amor / a ilusão de
amor / pensar que estava a abraçar a amada;
– a
diferença entre o comportamento inicial do mostrengo e a atitude do Adamastor: o
mostrengo comporta-se de forma aterradora e o Adamastor assume uma atitude
queixosa.
Aborda adequadamente os três
tópicos.
Exemplo:
Podemos estabelecer uma
relação de oposição entre o comportamento envergonhado do Adamastor e a atitude
do mostrengo, já que este se revela muito agressivo e amedrontador.
Fonte: Prova Final de Português n.º 91 - 3.º Ciclo do Ensino
Básico (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). Portugal, IAVE-Instituto de Avaliação Educativa, I.P., 2019, 2.ª
Fase
II – Texto
expositivo sobre o Mostrengo e o Adamastor
Redige um texto expositivo, com um mínimo
de 70 e um máximo de 100 palavras, em que apresentes linhas fundamentais de
leitura do poema de Fernando Pessoa e em que relaciones este poema com o
episódio «O Adamastor», de Os Lusíadas.
O teu texto deve incluir:
• uma parte
introdutória, na qual identifiques as figuras que dialogam e o espaço onde se encontram;
• um
desenvolvimento, no qual explicites as atitudes e os comportamentos das figuras
que interagem e a forma como vão evoluindo ao longo do poema;
• uma parte
final, em que relaciones o poema com o episódio «O Adamastor», de Os
Lusíadas, apontando duas semelhanças entre ambos.
Cenário de resposta
Identifica as figuras que dialogam:
(a) Mostrengo e homem do leme.
Identifica o espaço em que se
encontram:
(b) mar / «fim do mar» / Cabo da Boa Esperança / Cabo das Tormentas.
OU
nau (para o homem do leme) e «à roda da nau» (para o Mostrengo).
Explicita a atitude do Mostrengo:
(c) manifesta indignação pela afronta que representa a ousadia da
invasão dos seus domínios.
Explicita a atitude inicial do homem do
leme:
(d) manifesta medo ao tremer enquanto responde ao Mostrengo.
Explicita a evolução das atitudes e dos
comportamentos das figuras:
(e) o homem do leme manifesta coragem e determinação, quando, vencido
o medo, enfrenta o Mostrengo / o desconhecido;
(f) o Mostrengo mantém a sua atitude.
OU
o Mostrengo mantém a sua atitude, embora, na terceira estrofe, se
registe o seu silêncio e apenas o
homem do leme intervenha.
Relaciona o poema com o episódio «O
Adamastor», apontando duas semelhanças entre o poema e o episódio.
Por exemplo:
(g), (h) as figuras Mostrengo e Adamastor / o espaço / a interação
entre a figura mitológica e a figura humana / a determinação face ao
desconhecido.
Fonte: Exame Nacional do Ensino Básico n.º 22 (Decreto-Lei n.º
6/2001, de 18 de janeiro). Prova Escrita de Língua Portuguesa - 3.º Ciclo do
Ensino Básico. Portugal, GAVE - Gabinete de Avaliação Educacional, 2009, 2.ª Chamada
Proposta
de exercício expositivo sobre o Adamastor
Lê as estrofes 41 e 42 do Canto V de Os
Lusíadas, a seguir transcritas, e responde, de forma completa e bem
estruturada, ao item. Em caso de necessidade, consulta as notas e o vocabulário
apresentados.
E disse: – Ó
gente ousada, mais que quantas
No mundo
cometeram grandes cousas,
Tu, que por
guerras cruas, tais e tantas,
E por
trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os
vedados términos quebrantas1
E navegar meus
longos mares ousas,
Que eu tanto
tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados2
d’ estranho ou próprio lenho3;
Pois vens ver
os segredos escondidos
Da natureza e
do húmido elemento4,
A nenhum
grande humano concedidos
De nobre ou de
imortal merecimento,
Ouve os danos
de mi que apercebidos5
Estão a teu
sobejo6 atrevimento,
Por todo o
largo mar e pola terra
Que inda hás
de sojugar7 com dura guerra.
Luís de Camões, Os
Lusíadas, edição de A. J. da Costa Pimpão, 5.ª ed.,
Lisboa, MNE/IC, 2003
VOCABULÁRIO E NOTAS:
1 quebrantas –
quebras; violas.
2 arados –
sulcados; percorridos.
3 lenho –
barco.
4 húmido
elemento – mar.
5 apercebidos –
preparados.
6 sobejo –
excessivo.
7 sojugar
– subjugar.
Escreve um texto expositivo, com um mínimo de 70 e um máximo de 120
palavras, no qual explicites o conteúdo das estrofes 41 e 42.
O teu texto deve incluir uma parte introdutória, uma parte de
desenvolvimento e uma parte de conclusão.
Organiza a informação da forma que considerares mais pertinente,
tratando os sete tópicos apresentados a seguir. Se não mencionares ou se não
tratares corretamente os dois primeiros tópicos, a tua resposta será
classificada com zero pontos.
- Indicação do episódio a que pertencem as estrofes.
- Identificação da personagem referida através da expressão «gente ousada» (verso 1).
- Explicitação de um aspeto que ilustre o carácter ousado dessa «gente» (verso 1).
- Explicação do sentido da expressão «os danos de mi que apercebidos / Estão a teu sobejo atrevimento» (versos 13 e 14).
- Indicação de um dos «danos» (verso 13) a que se faz referência, com base no teu conhecimento do episódio a que pertencem estas estrofes.
- Justificação da importância dos dois últimos versos na glorificação do
herói de Os Lusíadas.
- Referência a uma semelhança entre estas estrofes e a Proposição de Os Lusíadas, relativamente à caracterização do herói.
Cenário de resposta
Indica o
episódio:
(a) «O Adamastor»...
Identifica a
personagem. Por exemplo:
(b) o povo português.
Explicita um
aspeto. Por exemplo:
(c) trata-se de um povo que se aventurou a navegar em mares desconhecidos.
Explica o sentido
da expressão:
(d) Adamastor refere-se aos castigos que preparou para punir o atrevimento dos portugueses.
Indica um dos
«danos». Por exemplo:
(e) a ocorrência de naufrágios.
Justifica a
importância dos dois últimos versos na glorificação do herói. Por exemplo:
(f) os versos glorificam o herói, uma vez que profetizam o domínio daquela região pelo povo português.
Refere uma
semelhança. Por exemplo:
(g) tanto estas estrofes como a Proposição referem a determinação do herói no cumprimento da missão.
Nota –
A ordem de apresentação da informação proposta no item não é vinculativa.
Fonte: Prova Final de Português n.º 91 - 3.º
Ciclo do Ensino Básico (Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho). Portugal, IAVE-Instituto de
Avaliação Educativa, I.P., 2013, 1.ª Chamada
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- e Folha de Poesia, 17-05-2018. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/05/fernando-pessoa-13061888-30111935.html
“O Mostrengo, Fernando
Pessoa” in Folha de Poesia, José Carreiro. Portugal, 22-12-2022.
Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/12/o-mostrengo-fernando-pessoa.html
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