quinta-feira, 18 de julho de 2024

O papagaio, Sebastião da Gama


 

O PAPAGAIO

Deixem-no lá, deixem-no lá, o papagaio!
Deixem-no lá, bem preso à terra,
vibrando!

Aos arranques,
a fazer tremer a terra,
a querer voar
pelo ar
até pertinho do Céu...

Deixem-no lá, deixem-no lá, o papagaio!
Deixem-no lá viver a sua inquietação
e ser verdade aquela ânsia
de fugir.
Não lhe cortem o cordel!
Poupem o papagaio à dor enorme
de cair,
papel inútil roto, pelo chão.

Não lhe ensinem,
ao pobre papagaio de papel,
que a sua inquietação
é a única força que ele tem.

Deixem-no lá,
naquela ânsia de fuga,
no sonho (a que uma navalha
pode dar o triste fim)
de fazer ninho no Céu:
Sempre anda longe da terra, assim,
o comprimento do cordel...

Deixem-no lá, deixem-no lá,
o papagaio de papel!...

 

Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo. Lisboa, Edições Ática, 1967

 

I - Esquema interpretativo do poema “O papagaio”, de Sebastião da Gama






Fonte: Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 48 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "O papagaio", de Sebastião da Gama, e "As minhas asas", de Almeida Garrett, 2021-05-07.

 Assistir à aula da Professora Tereza Cadete Sampainho, em https://www.rtp.pt/play/estudoemcasa/p7828/e542348/portugues-7-e-8-anos

 

***

II - Questionário sobre o poema “O papagaio”, de Sebastião da Gama

1. Indica a quem se dirige o sujeito poético.

2. Explicita o(s) apelo(s) que faz.

2.1. Regista os versos em que surge(m) esse(s) apelo(s).

2.2. Identifica o tipo de frase presente nesses versos.

2.3. Identifica o tempo e o modo utilizados.

3. Descreve o comportamento do papagaio que o sujeito poético quer proteger.

3.1. Explica o que esse comportamento simboliza.

 

Fonte: Projeto #EstudoEmCasa – Aula n.º 48 de Português dos 7.º e 8.º anos sobre os poemas "O papagaio", de Sebastião da Gama, e "As minhas asas", de Almeida Garrett, 2021-05-07. Disponível em: https://estudoemcasa.dge.mec.pt/2020-2021/7o-e-8o/portugues/48

 

Sugestão de respostas:

1. O sujeito poético dirige-se ao leitor ou a quem possa interferir com o papagaio, pedindo-lhes que não o perturbem.

2. O apelo principal que o sujeito poético faz é para que deixem o papagaio em paz, sem cortar o cordel que o liga à terra, permitindo-lhe viver a sua inquietação e sonho de voar alto.

2.1. Os apelos surgem nos seguintes versos:

«Deixem-no lá, deixem-no lá, o papagaio!» (v. 1)

«Deixem-no lá viver a sua inquietação» (v. 10)

«Não lhe cortem o cordel!» (v. 13)

«Deixem-no lá, deixem-no lá, / o papagaio de papel!...» (vv. 28-29)

2.2. O tipo de frase presente nesses versos é imperativa.

2.3. O tempo e modo utilizados são o presente do modo conjuntivo (com valor imperativo).

3. O comportamento do papagaio que o sujeito poético quer proteger é o de vibrar, tentar voar, tremer a terra, viver na ânsia de fuga, e manter o sonho de alcançar o céu, mesmo estando preso à terra pelo cordel.

3.1. Esse comportamento simboliza a aspiração humana, a busca de liberdade, o desejo de alcançar objetivos elevados e de sonhar, mesmo diante das limitações e restrições impostas pela realidade. Enquanto o cordel representa as restrições e as amarras que todos enfrentamos na vida, o papagaio de papel representa a força do sonho e da inquietação como motivadores para tentar superar as limitações. Assim, o poema convida-nos a valorizar a inquietação e a busca por algo mais, mesmo que isso signifique permanecer distante do chão seguro e conhecido.



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