Miguel Torga, por Isolino Vaz. Retrato a carvão, 1961 |
DEPOIMENTO
Foi
na vida real como nos sonhos:
Nunca
pisei um chão de segurança.
Procuro
na lembrança
Um
sólido caminho percorrido,
E
vejo sempre um barco sacudido
Pelas
ondas raivosas do destino.
Um
barco inconsciente de menino,
Um
barco temerário de rapaz,
E
um barco de homem, que já não domino
Entre
os rochedos onde se desfaz.
Mas
o céu era belo
Quando
à noite o seu dono o acendia;
E
era belo o sorriso da poesia,
E
belo o amor, dragão insatisfeito;
E
era belo não ter dentro do peito
Nem
medo, nem remorsos, nem vaidade.
Por
isso digo que valeu a pena
A
dura realidade
Desta
viagem trágico-terrena
Sempre
batida pela tempestade.
Miguel Torga, Orfeu Rebelde, 1958.
Antologia Poética, 2.ª edição, Coimbra, 1985
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VOCABULÁRIO:
Depoimento
– ato ou efeito de depor; testemunho.
Temerário
– ousado perante um perigo quase certo; imprudente, aventureiro.
I – Questionário sobre a leitura do poema
“Depoimento”, de Miguel Torga.
1.
O sujeito poético, ao fazer um balanço da sua vida, conclui: "Nunca pisei
um chão de segurança” (v. 2). Este verso significa que ele
a) nunca se mostrou firme no andar.
b) nunca teve uma vida fácil.
c) nunca se integrou na Natureza.
d) nunca foi aceite pelos outros.
2.
A primeira estrofe constrói-se com base na metáfora. Explicita o significado de
"um barco sacudido pelas ondas raivosas do destino" (vv. 5 e 6)
3.
Caracteriza as etapas fundamentais da vida do sujeito poético, partindo das
expressões “barco inconsciente de menino", "barco temerário de
rapaz", "barco de homem".
4.
Relê atentamente a segunda estrofe. Aponta os aspetos positivos que preencheram
a vida do poeta.
5.
Explicita o balanço que o sujeito poético faz da sua vida no final do poema.
Fonte: Teste de Língua Portuguesa
– 8.º ano de escolaridade. Professora Sónia Pinto, Externato João Alberto Faria
Arruda dos Vinhos, abril de 2010. Disponível em: https://zdocx.com.br/doc/pg8ano-201112-reparado-r8p53wqv2x6q
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II - Elabore um comentário global do poema
“Depoimento”, de Miguel Torga, tendo em conta os níveis formal, fónico, morfossintático
e semântico, de modo a evidenciar, entre outros, os seguintes aspetos:
- assunto e estrutura lógica da sua composição;
- valor do título e sua relação com o tom do
discurso apresentado;
- jogo metafórico e o seu processo de
desenvolvimento;
- sua relação com o universo temático fundamental
de Miguel Torga.
Fonte: Exame Nacional do Ensino
Secundário. 12.º Ano de Escolaridade - Via de Ensino (4.º curso). Prova Escrita
de Literatura Portuguesa n.º 134, 1997, 1.ª fase, 1.ª chamada.
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- “Miguel Torga”, https://folhadepoesia.blogspot.com/search/label/Miguel%20Torga, José Carreiro
- “A poética torguiana”, Apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise literária da poesia de Miguel Torga, por José Carreiro. In Folha de Poesia, 09-08-2013
- “A Criação do Mundo (1937-1981), Miguel Torga”, José Carreiro. In Lusofonia - Plataforma de apoio ao estudo da língua portuguesa no mundo, 2021 (3.ª ed.).
CARREIRO,
José. “Depoimento: Nunca pisei um chão de segurança, Miguel Torga”. Portugal,
Folha de Poesia, 20-09-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/depoimento-nunca-pisei-um-chao-de.html
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