quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Merina, Cesário Verde

Teresa David, 2021-11-12

 

Leia o Texto A. Se necessário, consulte as notas.

 

TEXTO A

 

Merina(1)

 

Rosto comprido, airosa, angelical, macia,

Por vezes, a alemã que eu sigo e que me agrada,

Mais alva(2) que o luar de inverno que me esfria,

Nas ruas a que o gás dá noites de balada;

 

Sob os abafos bons que o Norte escolheria,

Com seu passinho curto e em suas lãs forrada,

Recorda-me a elegância, a graça, a galhardia

De uma ovelhinha branca, ingénua e delicada.

 

Cesário Verde, Obra Completa, edição de Joel Serrão, Lisboa, Livros Horizonte, 1988, p. 122.

 

Notas

(1) Merina – raça de carneiros que produz uma lã fina e de qualidade superior.

(2) alva – que tem cor branca.

 

1. Refira o valor expressivo da comparação presente no verso 3.

2. Caracterize o espaço em que se movimenta o sujeito poético.


Teresa David, Da luz e da sombra, 2022-07-26



Leia o Texto B.

TEXTO B

 

Rapariga descalça

 

Chove. Uma rapariga desce a rua.

Os seus pés descalços são formosos.

São formosos e leves: o corpo alto

parte dali, e nunca se desprende.

 

A chuva em abril tem o sabor do sol:

cada gota recente canta na folhagem.

O dia é um jogo inocente de luzes,

de crianças ou beijos, de fragatas.

 

Uma gaivota passa nos meus olhos.

E a rapariga – os seus formosos pés –

canta, corre, voa, é brisa, ao ver

o mar tão próximo e tão branco.

 

Eugénio de Andrade, Poesia, Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 2000, p. 79.

 

3. Analise dois dos efeitos de sentido criados, na segunda estrofe do poema, pelas referências ao tempo.

4. Releia os dois textos.

Explicite de que modo a «ovelhinha» (Texto A, verso 8) e a «gaivota» (Texto B, verso 9) contribuem para a caracterização das respetivas figuras femininas.

 

Teresa David, 2022-02-28



EXPLICITAÇÃO DE CENÁRIOS DE RESPOSTA

1. A comparação presente no verso 3:

- realça a brancura da figura feminina («Mais alva que o luar»);

- sugere sensações visuais («luar de inverno») e tácteis («que me esfria»);

- sublinha o efeito que a figura feminina provoca no sujeito poético.

 

2. O sujeito poético movimenta-se:

- em ruas iluminadas por candeeiros a gás;

- numa atmosfera noturna, ao luar;

- num espaço citadino.

 

3. Na segunda estrofe do poema, as referências ao tempo:

- sugerem o vigor da primavera («A chuva em abril tem o sabor do sol» – v. 5);

- remetem para um ambiente diurno e luminoso («O dia é um jogo inocente de luzes» – v. 7);

- associam, metaforicamente, o ambiente descrito pelo sujeito poético a traços característicos da figura feminina, como a inocência e a alegria (vv. 7-8).

 

4. Os aspetos que permitem explicitar o modo como a «ovelhinha» (Texto A, v. 8) e a «gaivota» (Texto B, v. 9) contribuem para a caracterização das respetivas figuras femininas são os seguintes:

- no Texto A, o sujeito poético compara explicitamente a figura feminina com uma «ovelhinha» (v. 8), enunciando características que lhes são comuns e que realçam, ou complementam, a descrição da «alemã» (v. 2): «Com seu passinho curto e em suas lãs forrada» (v. 6); «a elegância, a graça, a galhardia» (v. 7);

- no Texto B, a referência à «gaivota» (v. 9) reforça as características da figura feminina, nomeadamente a leveza, por associação com a ave e com o efeito provocado pelo mar: «voa, é brisa, ao ver / o mar tão próximo e tão branco» (vv. 11-12).

 

Exame Final Nacional de Literatura Portuguesa. Prova 734 e respetivos critérios de classificação | 1.ª Fase | Ensino Secundário | 2020. 11.º Ano de Escolaridade. Decreto-Lei n.º 55/2018, de 6 de julho

 

Teresa David, 2011-09-11


 

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CARREIRO, José. “Merina, Cesário Verde”. Portugal, Folha de Poesia, 14-09-2022. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2022/09/merina-cesario-verde.html



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