Eugénio de Andrade
As M. e os F.
Os A. s. D.
As P.I.
A. A.
C. do D.
M. de S.
O. R.
O. D.
V. da A.
E. da T.
L. dos P.
M. d. R.
Mat. S.
O P. da S.
B. no B.
V. do O.
O O. N. da T.
Os A. do .S.
R. P.
|
POESIA
As Mãos e os Frutos (1948)
Os Amantes sem Dinheiro (1950)
As Palavras Interditas
(1951)
Até Amanha (1956)
Coração do Dia
(1958)
Mar de Setembro
(1961)
Ostinato Rigore (1964)
Obscuro Domínio
(1972)
Véspera da Água
(1973)
Escrita da Terra
(1974)
Limiar dos Pássaros
(1976)
Memória doutro Rio
(1978)
Matéria Solar
(1980)
O Peso da Sombra (1982)
Branco no Branco
(1984)
Vertentes do Olhar
(1987)
O Outro
Nome da terra
(1988)
PROSA
Os Afluentes
do Silêncio (1968)
Rosto Precário
(1979)
|
TEMAS E MOTIVOS POÉTICOS
- importância
da linguagem enquanto
instrumento de trabalho: poesia
musica verbal; a melodia metafórica; o ritmo; regularidades de ordem
silábica, prosódia, de rima, frásica e
intonacional
- incidência
nas ligações corpo-escrita-terra (ou outros elementos primordiais
da natureza);
- os quatro
elementos míticos (fogo,
água, ar,
terra) metamorfoseados; a natureza,
as flores; busca da pureza
essencial.
Os
elementos primordiais
|
A poesia
de Eugénio de Andrade é marcada por um lirismo puro, carregado
de metáforas luminosas que harmonizam o amor
e os quatro elementos
primordiais: .
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Fogo:
verão
|
Água:
fonte, rio, mar.
|
Ar:
vento, música, poesia.
|
Terra:
ruralidade, casa, mãe, corpo, criança,
pastor; reino
vegetal (frutos,
rosa...); reino
animal.
|
|
A metáfora em Eugénio de Andrade
Casa – lugar
da mãe e do corpo.
A
habitabilidade prediz o preenchimento, a totalidade.
A casa desabitada
(porta fechada, casa
na chuva...), sinal
da ausência da mãe,
é lugar de desprotecção e abandono, e, portanto,
metáfora do vazio.
Poesia do Corpo:
«na minha
poesia o corpo
insurge-se, diz coisas despropositadas,
põe-se a blasfemar, chegando a pretender-se metáfora do universo»
(R.P.)
Na poesia de E. de A. a importância
do corpo tornou-se um
dos mais divulgados lugares
comuns do ponto
de vista
da recepção da sua obra.
Mãe
A mãe surge como
mediadora face ao desejo
(a mãe deseja
o desejo para
o filho) e à poesia,
ao acesso à poesia.
Repare-se
também na presença
de certos aspectos
da mitologia cristã ligados à mãe, nomeadamente na sua
«sacralização» – essa «fabulosa figura do sacrifício»,
nas palavras do poeta,
que lhe
deu o conhecimento da poesia. Encontram-se diversas marcas
que podem convalidar
esta leitura (das rosas
brancas – enquanto metáfora
da pureza, à ressurreição
e à intercessão) e que
nos podem levar
a falar de uma revisitação mítica da «Imaculada Conceição» – veja-se, por
exemplo, os ecos
da «salve-rainha» naquele verso de C. do D. onde
se lê: «ó cheia
de doçura».
O
tempo:
Essencialmente há três
linhas segundo
a metáfora vitalista: a infância, a idade
madura (onde
se instaura a coincidência estrutural que faz representar a idade como verão) e por fim o declínio.
Setembro, mês
de passagem, o.m.q. outono,
com o sentido
de melancolia.
Inverno: tempo
de ausências e um
dos tempos de travessia.
São sobretudo
as formas verbais
(crescer, chegar, aproximar, atravessar) que evidenciam o alcance metafórico da etapa.
É o corpo o lugar
que mais
sofre a travessia.
«dezembro traz em
si a primavera»
(As M. e os F., IV) – a presença de dezembro neste verso
mais do que
afirmar ou expandir propriedades
que em
si figurariam a metaforização de um universo de desolação, desertificação
ou esterilidade,
reenvia para os sentidos
de um inverno
fecundante pretextando a primavera.
«Diremos
prado bosque
/ primavera, / e tudo
o que dissermos / é só
para dizermos / que
fomos jovens» (M. de S.). Visão global da
metáfora: desejo,
exaltação, claridade,
juventude. A primavera
como tempo
(metáfora) de transição
anunciando outra estação
que será outra,
mais acabada,
metáfora do desejo
enquanto plenitude:
o verão. Portanto,
são «impacientes
e amargos» os dias
de abril (O. R.) e as luzes de março
aparecem adjectivadas de «inquietas», «loucas», «despidas». Talvez, afinal,
só o verão
(metáfora) conduza à coroa do lume:
«Esse gosto
a sangue / que
trazia a primavera, se primavera havia, / não
conduz à coroa do lume»
(B. no B., XVIII).
O verão
|
A luz, o sol, o
calor, o incêndio,
o sul, a brancura, as águas,
as dunas, a animalidade,
a habitabilidade...
|
O
verão aparece como lugar do desejo
e da plenitude amorosa,
metáfora feliz
de sedução, conectando-se intimamente com as referências
ao corpo: lábios,
peito, flancos.
Justamente o poema
26 de M. de S. intitula-se «Eros» e em O. R.
o poema «Anunciação
da Alegria» é paradigmático ao nível de uma anunciação
positiva:
Devia ser verão, devia ser jovem.
ao encontro
do dia caminhava
como quem
entra na água.
Um corpo
nu brilhava nas areias
– corpo
ou pedra?,
pedra ou
flor?
Verde era
a luz, e a espuma
do vento
rolava nas dunas.
Aproximei-me desse corpo
nu,
o coração
latino de alegria.
De repente
vi o mar subir
o prumo,
Desatar inteiro
nos meus
ombros.
Sem muros
era a terra,
e tudo ardia.
Dentre as histórias
de verão, declaradas histórias de desejo,
releva-se a presença do animal,
do cavalo. «Fábula»
é uma história exemplar
que mostra
a contemplação da cena
fundadora, olhar de criança
que descobre a realização
plena do desejo:
sobreleva a imagem do homem, «Um cavalo ofegante, olhos cerrados,
o suor escorrendo da raiz dos cabelos,
espalhando-se pelas costas, pelos flancos,
pelas pernas, quase
todas descobertas. Um
cavalo cego
mordendo o céu branco
de agosto, mas
a terra chamou-o, e um
relincho prolongado encheu o leito do ribeiro,
morreu no alto dos amieiros. Por fim a paz desceu ao mundo».
«Esta
noite preciso
de outro verão
sobre a boca
crescendo nem
que seja de rastos»;
«O verão é branco
e sempre ficam sinais»
(V. da A.) – sinais do desejo.
Por vezes,
o verão (o desejo)
atravessa-se também de dor e disforia, pois desejo não
implica necessariamente a plenitude vivida: «o frio,
/ implacável, /azul
do verão»; «um
verão difícil
em altas
camas de areia»
(O. D.). A referência ao verão, a partir de O O.
N. da T. (1988), passa a ser progressivamente
assumida como despedida:
«Despeço-me do verão junto às águas
/ frias do norte»;
«o ardor / do verão
caiu ao rio, /a tão
amada voz
perdeu / o seu rebanho.
/ Quando junho
voltar quem
sabe onde fará casa?»
Genericamente,
o verão é sempre
um tempo
anterior, tempo
do desejo – momento
onde se passou a luz
ou o fulgor
da manhã – rememorado, agora, no silêncio
de um hoje
magoado (tempo de enunciação);
tempo corroído ou,
simplesmente, envelhecido. Ou então
enternecidamente lembrado em harmoniosa nostalgia.
A
sexualização do fogo como manifestação
simbólica ou metafórica da força masculina:
versos há em
Eugénio de Andrade que traduzem essa manifestação. Fale-se de um
ardor fálico metaforizado: «A terra.
( inocente / abre-se ao ardor
/ de oiro de uma flauta» (O. R.), ou ainda no mesmo livro: «Amo como as espadas brilham / no ardor
indizível do dia».
Em louvor
do fogo
Um dia
chega
de extrema
doçura:
tudo arde
Arde a luz
nos vidros
da ternura.
As aves
no branco
labirinto da cal.
As palavras
ardem,
a púrpura
das naves.
O vento,
onde tenho casa
à beira
do outono.
O limoeiro,
as colinas.
Tudo arde
na extrema
e lenta
doçura da tarde. (O. D.)
É
pela mediação do corpo
que o modo
erótico se manifesta;
manifestação de desejo
que tende à totalidade,
à união com o
universo envolvente («tudo arde»). Num verso
apenas se deixa
entrever, na explicitude da marca
enunciativa (o verbo na primeira pessoa do singular), o sinal
da presença do corpo
– o próprio sujeito
poético no interior do microcosmos erotizado (casa):
«onde tenho casa».
É sobretudo na exterioridade
que se revelam as marcas
dum eu lírico
implícito, ser
desejante atravessando-se, espalhando-se nas coisas
(que ardem). Nessa exterioridade
se encontram os elementos-chave do universo
poético do autor. Os elementos primordiais:
o fogo, enquanto
princípio da relacionação metafórica, o ar («luz», «vento»), a água
(implicada em «naves»),
a terra («colinas»)
e, na terra, as referências
ao vegetal («limoeiro»)
e ao animal («ave»).
Além dos elementos
primordiais, uma referência
nuclear: a palavra
(«as palavras ardem»). E o tempo, círculo onde tudo se
sustém; a temporalidade sublinha a arquitectura do poema:
«Um dia
chega de extrema
doçura: / tudo
arde // [...] tudo
arde // na extrema e lenta /doçura da tarde». Dois tempos balizam estruturalmente a composição
desenhando o arco donde resulta, em grande medida, o sentido
do equilíbrio. Mas
é também, e acima
de tudo, no modo
como o dia
chega e no modo
como a tarde
se suspende que radica a percepção harmónica desse universo
ardente. Modo
que aparece substantivado no termo «doçura». A
adjectivação contribui, por seu turno, para criar um
efeito de alastramento:
toda a atmosfera
se contamina do fulgor dulcificado. Donde resulta a leitura
de um arder lento. Metáfora
que traduz, em
larga medida,
a expressão mais
justa da categoria
erótica na mundividência poética deste autor.
Onde em
última instância
se pode ler a interposição materna
(«dás-me a beber / um
tempo assim
ardente»).
Assim se recupera, na análise, uma constelação
dinâmica de imagens,
interligando-se sob o signo do ardor: para além do tempo e da terra, o vegetal, a flor,
o animal, a ave,
as águas, a luz.
Sublinhe-se,
ainda no poema,
a ideia esboçada de um equilíbrio tensivo,
entre a irrupção
de incandescências (figuração de energias libidinais, excesso
em permanente
expansão no cosmos)
e a sua concentração,
que a regularidade e os limites formais
do próprio texto
assinalam. Pode intentar ver-se neste movimento dialectizante (expansão/condensação de energias)
que analogicamente diz o próprio
modo lírico,
um dos modos
essenciais da poética
eugeniana, enquanto construção
e visão do mundo.
O dizer da totalidade (ou do desejo
dessa totalidade; nostalgia
do uno) aparece como
reflexo da idealização do mundo erotizado que
esta poética, em
grande medida,
subsume. Um puro
dizer alusivo
da carga energética
do(s) corpo(s); suspensão
em imagens
e metáforas que
a composição, delicada,
elegante e parcimoniosamente,
contém. Poesia de um
ardor contido, numa palavra.
Luz
O
poema «Frente
a Frente» do livro
Até Amanhã
proclama o lugar
exorcizador da luz, manifestação
de um projecto ontológico:
Nada podeis contra
o amor.
Contra a cor
da folhagem,
contra a carícia
da espuma,
contra a luz,
nada podeis.
Podeis dar-nos a morte,
a mais
vil, isso
podeis
– e é tão
pouco.
O
corpo iluminado: luz e corpo
(boca, mãos,
cintura, nádegas,
flancos) configuram um
lugar harmonizador, a um nível ontológico: «viver é iluminar // de luz rasante a espessura
do corpo» (B. no B., XVIII).
A
poesia de E. de A. não
é apenas luz,
não é apenas
claridade, não
é apenas manhã,
talvez, mesmo
assim, se possa concluir
sobre uma poesia
diurna. Como
diz o próprio poeta: «esse ser sedento
de ser, que é
o poeta, tem a nostalgia
da unidade, e o que
procura é a reconciliação, uma suprema harmonia
entre luz
e sombra, presença
e ausência, plenitude
e carência». Não
passando por cima
da face sombria,
da inquietante e incontornável presença da noite e da morte, o poeta sempre pode recomeçar tornando a dizer os princípios soberanos
de uma declaração de comprometimento: «E
o princípio são
meia dúzia
de palavras e uma paixão
pelas coisas limpas
da terra, inexoravelmente soberanas. Essa, onde a luz se
refugia, melindrosa. Só elas abrem as portas
aos sortilégios, e os sortilégios são
diurnos, mesmo
quando invocam a noite,
e as águas do silêncio,
e o indelével tempo
sem tempo»
(«Soberania», V. do O.). De um princípio diurno, viver a palavra na luz,
à afirmação ontológica de mais fundas consequências: de um
viver na luz,
incondicionalmente: «porque sou um homem que não abdica da luz,
/ que não
abdica, que não
/ abdica» («Na estrada de San Lorenzo
del Escorial» in E. da T.).
O ar
|
O mundo aéreo encontra harmonia
através da conjugação
de três vectores:
a leveza, a diafaneidade e a musicalidade.
|
Eis uns versos
onde se nota
a idealizada celebração do canto – poética
da pura figura
– onde a exortação
da futurante existência poética se deseja
essência aglutinadora, totalizadora: música, corpo, palavra. «Um dia serei eu esse cantar, / o corpo desatado e semelhante
/ à música que
nas cordas se desprende» (O P. da S.).
Termina o poema com
a incisão de um
verso assim:
«o ar é o meu
elemento, o ar».
O vento
A expressão mais acabada da participação cósmica do vento,
como seria de esperar,
surge na conjunção que
relaciona o vento com
o corpo. Em O.
D. no poema
intitulado «Plenamente»: «a boca // espera (que pode uma boca
/ esperar / senão
outra boca?)
// espera o ardor do vento / para ser
ave, // e cantar».
O vento
personifica a entidade que se apropria da linguagem
e o sujeito do desejo:
«Assim se morre dizias tu. // Assim se
morre dizia o vento acariciando-te a cintura» (V. da A.).
|
"A Serenata", Félix Frédéric d'Eon, 05-05-2020
|
A metáfora
da música
Há
a perspectivação da música entendida como metáfora da poesia.
A essência de uma poesia/música provém de um
obsessivo labor
em relação
ao qual o poeta,
implícita ou
explicitamente, convoca o modelo analógico de ordem
musical. «Reescrevo os textos obsessivamente. Em
mim o ataque
do poema é da ordem
musical. Uma palavra é como a nota que procura
outras para o acorde
perfeito» (R.P.). «O poema é um texto que aguarda o leitor
– o que deveria procurar-se ao lê-lo é um equilíbrio entre música e discurso» (Jornal
de Letras, nº 15, 15/9/1981). Expressão máxima da
idealidade perseguida, um pretender recuperar plenamente a magia e o fascínio dos primeiros
sons (voz
da mãe/ som
do harmónio) na harmonia do verso.
A
metáfora da música
revela a dimensão ontológica
e a idealidade de um mundo ordenado por uma harmonia
e equilíbrio essenciais,
de profundas ressonâncias maternas. O poema, que
congrega todos os elementos,
aspira ao ideal de perfeição;
como música
verdadeiramente elemental. A música, no dizer a ordem do mundo (nostálgica «de uma antiga
unidade»), reenvia a uma outra metáfora que lhe subjaz:
a metáfora arquitectural (no sentido de um modelo de construção). Construção, simetria,
equilíbrio são
regras de composição,
princípios arquitectónicos a que o poeta recorre no que toca a uma rigorosamente premeditada orquestração/
ideação da obra (do livro,
do poema, do verso
– «não sou um
poeta inspirado, o poema
é em mim
conquistado sílaba a sílaba»; «Sublinho este
fazer, pois o poema tem sempre
qualquer coisa
de artesanal» (R.P.). O poeta reivindicará para este aprumo uma
fundamentação que
enraíza na limpidez do mundo elemental da infância:
«As minhas raízes mergulham desde a infância
no mundo mais
elemental. Guardo desse tempo o gosto por uma
arquitectura extremamente clara e despida,
que os meus
poemas tanto
se têm empenhado em reflectir» (R.P.).
A harmonia perseguida, pode, assim, ser interpretada como procura da
recuperação da unidade
originária (materna);
a recondução ao uno.
A terra
|
Este elemento
integra alguns componentes
metafóricos: dunas, areias, mundo
vegetal (ervas,
juncos, árvores,
ramos, folhas
verdes, espigas,
palha, urtigas,
silvas, cardos), flor (rosa branca),
fruto, animal,
ave.
|
Diz
Óscar Lopes
que a «terra
reúne dois semas distintos:
o da maternidade e o da
ruralidade» num «enredo de comunicação
entre corpos,
pelo desejo e
pela ternura».
Em Ostinato Rigore há uma terra que
arde ou a «terra
toda nas minhas
mãos acesa»,
ou então,
por redução metonímica, as dunas e as areias
onde um
corpo brilha
e onde a luz
dança a pique.
Clara manifestação
do desejo, do qual,
por conseguinte,
terra, dunas
e areias se afirmarão como metáfora. Não convirá, contudo,
à partida, opor,
separar rigorosamente
o desejo da outra
categoria-chave: a maternidade, ou mais
especificamente, a fecundidade. No fundo, será nessa confluência
que se representará a mais idealizada visão
da terra. Versos
há onde se poderá antever
o cruzamento; por
ex., no poema 5: «A terra
inocente/abre-se ao ardor/de
oiro de uma flauta». O abrir-se a terra,
se na interpretação co-textual aparece essencialmente como
metáfora do desejo,
poderá, por meio
de uma contextualização mais alargada, funcionar igualmente como anúncio da
face materna
da terra. Os versos
que se seguem (aos citados) interrogam o
sentido da exaltação:
se o despertar é do pastor,
ou, se é a primavera
que desperta. Se, por
um lado,
o pastor se vai evidenciar
como uma das mais
distintas metáforas ligadas
ao desejo, (a uma espécie
de iniciação do desejo),
por outro
lado, na primavera,
os semas do desejo e da fecundidade
confluem significativamente, em potência, à espera de deflagração.
A
poesia de Eugénio de Andrade sendo das mais depuradas é , simultaneamente, das mais autoconcentradas mostrando um
sujeito lírico
numa esfera de identificações
intercambiáveis. Nela se pressente uma história
subterrânea
com cujas figuras
principais esse
sujeito se (con)funde. Figuras
reunidas num tríptico cujo centro,
nas palavras do poeta,
seria «ocupado tutelarmente pela Mãe,
tendo à sua direita
a Criança e à esquerda o Pastor»
(«Elegia com Pastores ao fundo»).
Há na poesia
de Eugénio de Andrade uma estreita aproximação entre o antigo chão grego e a originária
paisagem da Beira
Interior donde provém a fundamental figura
do pastor. Comparecendo a partir
de Ostinato Rigore, este vai
ganhando, nos últimos
textos, cada
vez maior
nitidez como
figuração da iniciação sexual e de uma, quase
sempre muito
implícita, expressão
homoerótica do desejo.
Num dos breves
poemas de Escrita
da Terra, «dois homens», como
se fossem dois pastores,
poder-se-á subentender, «dormem à sombra da tarde
e da memória»; a sugestão,
que na leitura
do poema, advirá do seu
extraordinário pendor
elíptico, pode, no quadro
paisagístico e na situação
recortada, convocar o diálogo
com um
horizonte interpretativo
que assimila tópicos
recorrentes de um
dos mais fecundos
veios da tradição
poética ocidental.
O plátano
E o estrídulo
sol a prumo
das cigarras.
O
rio quase à mão.
E
um
rumor,
não de ninfas:
de palavras.
O
azul é branco,
duro.
Os
dois homens
dormem
agora
à
sombra da tarde.
E
da memória.
Este pequeno
poema ganha
extraordinária ressonância
se lido na lembrança da paisagem de Fedro de Platão. É o título, «Arredores
de Atenas», que começa
por nos
conduzir ao cenário
descrito no texto do filósofo quando Fedro e Sócrates, sob
o sol quente
do meio dia,
ao som das cigarras,
se estendem à sombra do plátano na margem
do Ilisso, para falarem sobre
o amor. É pelo
plátano que
Fedro jura para
que o amigo
pronuncie o seu discurso.
Na sua extrema
concisão, os versos
da última parte
do poema, podendo convocar
a figura do pastor,
abrem simultaneamente para a sugestão
do amor entre
dois homens.
A
metáfora vegetal:
Os
cardos, a palha, as urtigas,
as silvas são exemplos da
presença do outono
que faz acentuar
o espaço de aridez,
secura e o despir dos sinais de fertilidade:
«É no ardor dos cardos / que
o vento faz a casa»
(O. R.) – aqui ainda o cruzamento
de uma metaforização eufórica, rasante ao desejo
(ardor); «E a sede
dos cardos rastejava pelo chão»
(O P. da S.); «Os cardos e os lábios
da sede» (B. n. B., IX).
O
verde das folhas (ervas,
juncos, árvores,
ramos) é metáfora
da atmosfera de fecundidade
e frescura.
|
Joaquim Passini |
A
rosa (branca), em
particular, e a flor
(hiperónimo), em geral,
constituem metáfora do mito materno. Um deslumbrante modo de afirmar a vida e o despertar de alegria («é urgente
descobrir rosas
e rios»; «rumor
abrindo, luz molhada,
/ rosa branca»;
«rosa de alegria
/ aberta nas minhas
mãos» – A. A.; «Era o dia / acabado de nascer? // Que rosa
abria?» – M. de S.), sendo que a perda das rosas
simbolizará, naturalmente, a tristeza.
Há
ainda a associação
entre o florir
e a própria criação
poética (vd. Poema
XXIII de As M. e os F. – «dar versos ou florir desta maneira»)
e também a sugestão
desejante intrincando-se, insinuando-se na acepção
materna. É aliás
o desejo, o termo
metaforizado que na flor
melhor se revela: a flor aberta
ou por abrir, o ser flor ou o estar em flor, o florir ou a floração, eis
alguns dos modos
por que,
textualmente, se traduz esse termo
metaforizado.
Em relação
ao ser amado
atente-se na associação entre rosas e anjos: «Aceito os anjos
nos beijos
que me
dás, / Pondo rosas nos
teus dedos
descuidados». É no contexto
do cenário paradisíaco
que devemos ler
os laivos românticos desse erotismo «angelizado». Mesmo
a visão do próprio
desejo sexualizado é mediatizada pela sublimidade na visão
desse abril «coroado de rosas e de cio» (Os A.
s. D.). A coroa de rosas brancas pode emblematizar a representação
estética implicada nessa afirmação da vida que a metáfora configura: «Se pudesse, coroava-te de rosas / neste dia
– / de rosas brancas e de folhas verdes,
/ tão jovens
como tu,
minha alegria»
(As M. e os F., XXI).
Os frutos
Há
três estados
associados à presença
dos frutos: o amadurecer,
o cair e o colher.
A metáfora do amadurecimento liga-se à ordem natural
cíclica («o dia amadurece», As M. e
os F.,XV), articula-se com a palavra («bago
a bago podes colher
/ a noite está madura:
/ podes levar à boca
a preguiçosa espuma
das palavras», V. da A.), ou com o homem em sua expressão
erotizada, desejante, ou propriamente materna («Oh tempo tempo tempo, / tempo
de colher / o que
temos maduro: / o lume
dos olhos / a luzir
no escuro», O.R.; «pelos meus braços caíam / frutos
maduros de outono»,
Os A. s. D.).
As
maçãs reflectem o brilho e a doçura do tempo, a face matinal do tempo
(«a manhã cheia
de brilhos e doçura
/ debruça o rosto puro
na maçã», O.R.).
Destacam-se
ainda a solaridade das laranjas («Na laranja
o sol e a lua
/ dormem de mãos dadas», O.R..),
o ardor da romã
(«O ardor quase
animal / de uma romã
aberta», O P. da S) e a memória iluminada nos
frutos miúdos
(nas cerejas, framboesas,
figos e em
particular nos
abrunhos e nas amoras, o que se destaca é o transporte
que nos
mostra o reenvio a um
tempo passado;
nesse reenvio emerge a memória a enfatizar o universo rural, a infância
e aí o forte
apelo sexual.
Exemplo de L. dos P. – «entre as pernas
um rumor
de saliva uma áspera
doçura pois era o tempo dos
medronhos»).
Os
frutos consagram a figuração da
idealidade, o primado de uma ordem que
subsume a perfeição, a totalidade
e a harmonia do interior
iluminado: «Eu andava dentro de ti / como
um pequeno
rio de sol / dentro da semente,
/ porque nós
– é preciso dizê-lo / tínhamos nascido um dentro do outro/ naquela noite»
(As P. I.); «Dormíamos nus / no interior dos frutos»
(M. S.).
A
metáfora animal:
figuração da líbido sexual.
O
ardor dos animais
(cavalos,
cães, cabras)
O
cavalo enquanto
jovem (o potro,
o baio) representa o instinto, o vigor e a força, configurando o desejo
sexualizado: «e como um potro na planície nua em ti
entrei» (O. D.); o verão «chega de súbito, / com seus potros fulvos»
(O. R.); «era o verão escuta os
seus cavalos»
(L. dos P.); «o baiozinho que então namorava» (B. no B., VI) – no poema donde este
verso é extraído, surge o reenvio à infância; a ligação
à criança, tornada
visível, acentua precisamente
a confluência das componentes
sexual e afectiva deste animal: «Só o cavalo, só aqueles / olhos
grandes de criança,
aquela / profusão da seda me fazem falta»
(X); «amanhecer de risos
infantis e trote de cavalos»
(XXXIII).
No
sonho e no devaneio
da criança o imaginário
dos cães conforma um esquema pejorativo simbolizando a agressividade e a crueldade («corria à pedrada
/ os cães de que
tinhas medo,
/e fugia de ti para afagar
// em segredo
/ o baiozinho que então
namorava», B. no B., VI).
As
cabras, para
além de integrarem a representação (materna)
do rosto da terra
que secou, surgem noutros contextos, no activar do desejo.
No poema «as cabras»
(M. d. R.) interpenetram-se para lá de subtis ressonâncias
maternas («odres fartos,
mornos» por
onde o sujeito
poético bebe o leite), as mais explícitas referências
sexuais («vulvazinha cheirosa», «minha
primeira mulher»)
e afectivas (onde, curiosamente,
podemos também descortinar
a associação ao cavalo
– «foi o meu cavalo»).
A
matéria das aves
ou a matéria
poética
«Um pássaro e um navio são a mesma coisa / quando te procuro de tosto cravado na luz»
(As P.I.) – a procura do ser amado, busca iluminante, desencadeia a equivalência
metafórica.
O
voo e o canto são
eixos preferenciais
de significados metafóricos, podendo
estender-se a outras entidades: «[a boca] espera o ardor do vento / para
ser ave // e cantar» (O. D.); «a tarde
a querer voar» (Os A.
s. D.); a rapariga que voa (A. A.); a casa
que «não
resiste: também voa» (O. R.).
Particularizando
uma dessas zonas, eis
a figuração do encontro amoroso: «Podíamos cantar /
ou voar,
podíamos morrer».
Na
poesia de E. de A. uma das mais visíveis manifestações da metáfora
tem a ver com
o desejo («e tudo
começa a ser ave / ou lábios, e quer voar», O. R.), o que
não quer
dizer que a
ideia de voo, e de altura, não apareça associada
a um certo
sentido de pureza,
de angelismo («as aves voltam / são nos ramos altos / a
matéria mais
próxima dos anjos»,
O. P. da S.).
O
voar vai conjugar-se dominantemente
com o ser ave ou com o canto.
Diz-se em B. no B.: «é dentro de ti que
toda a música
é ave» e em
C. do D. no primeiro poema,
intitulado «Introdução ao Canto»: «Ao menos
tu sê ave
/ primavera excessiva.
/ Ergue-te de mim: / canta, delira, arde». Torna-se evidente
que essa música
interior, ou
esse canto
invocado, é a mais
pura metáfora
do próprio poético. Daqui se pode derivar
para uma breve
reflexão sobre
o sentido atribuído à pureza do canto,
da poesia. Numa entrevista
lembra E. de A. que «pureza, de que
tanto se tem falado
a propósito da minha
poesia é simplesmente
paixão, paixão
pelas coisas da terra,
na sua forma mais ardente e ainda não consumada» (R.P.).
Eduardo
Lourenço afirma que «através da fonte, da
flor, da ave
o seu poetar
atribui-se como um
excesso ao paraíso
dos homens» («A poesia
de E. de A.» in 21 Ensaios sobres E. de A., Porto,
Inova, s/d) – portanto vertentes angelista e paradisíaca
da poesia de E. de A.. Neste sentido os anjos
equivalem-se às palavras. Eles são da palavra poética,
a metáfora.
O
traço simbólico dos pássaros
aproxima-os dos anjos: a pureza; diáfana
matéria transformada em ideal de transparência poética.
Assim lemos a «matéria
das aves» num poema
de B. no B. nessa mesma equivalência (matéria
poética).
Água (fonte,
rio, mar)
|
O fluir da água
simboliza o fluir do tempo
e supõe uma ideia de percurso («alcanço a linha
da água»; «um
percurso de água era
o meu corpo»;
«perco-me então por
caminhos de água»
– V. da A., poemas 1, 8, 32).
|
Um procurado universo
de água equivalente de um universo do desejo (a idealização da imagem
do corpo erotizado enquanto
corpo navegável),
do materno (na 1.ª versão
do poema «Das águas»
lê-se: «pressinto as nascentes», a fonte onde o sujeito desejante, eterno
narcisista materno, se mira, mesmo quando se inclina sobre
o corpo desejado) e da poética.
O
chamamento do mar (o ir e vir das marés)
é materno.
O mar.
O mar novamente
à minha porta.
Vi-o pela
primeira vez
nos olhos
de minha
mãe, onda
após onda,
perfeito e calmo,
depois,
contra falésias,
já sem
bridas.
Com ele
nos braços,
quanta,
quanta noite
dormira,
ou ficara acordado ouvindo
seu coração
de vidro bater
no escuro,
até a estrela
do pastor
atravessar a noite
talhada a pique
sobre o meu
peito.
Este mar,
que de tão
longe me
chama,
que levou na ressaca,
além dos meus
navios?
(B. no B., XXIV)
Bipolaridades
do mar: mar
habitáculo fechado, mar perfeito (veja-se a ideia de fechamento
e perfeição no poema
«Adeus» de As P.I.: «Como se houvesse nuvens
sobre nuvens,
/ e sobre nuvens
o mar perfeito»),
mar dócil
de pequena vaga
e de movimentos regulares
de vai vem, mar liberto
que não
deixa enclausurar
e que se abre à chegada
da estrela do pastor.
Bipolaridades cuja configuração
semântica obedece a esquemas
de expansão e contensão,
esquemas que
traduzem um permanente
diálogo tensivo
entre o imaginário
materno («perfeito
e calmo», «com
ele nos
braços», «seu
coração de vidro»)
e o imaginário desejante («sem bridas», «estrela do pastor», «sobre o meu peito»).
Dos
pescadores se diz que
«devem ter herdado das vagas
a ondulação» (V. do O.). As vagas, a ondulação
perpetuam a imagem do movimento constante,
visão que
tende a figurar a pulsão errática do desejo («E um sabor a sémen / que
sempre a maresia
traz consigo», B. no B., XVIII).
O corpo se alarga e se espraia no mar (As M. e os F., X), ou
o mar sobe a prumo
e desaba nos ombros
(O. R.), ou o mar que se
avista do peito caindo a prumo (B. no B., XXI). Também
a representação da presença
do desejo na figura
do rapaz ou
dos garotos que
correm em direcção ao mar.
Corpo
Habitado
Corpo num horizonte
de água,
corpo aberto
à lenta
embriaguez dos dedos,
corpo defendido
pelo fulgor
das maçãs,
rendido de colina
em colina,
corpo amorosamente
humedecido
pelo sol
dócil da língua.
Corpo com
gosto a erva
rasa
de secreto
jardim,
corpo onde
me deito
para sugar o silêncio,
ouvir
o rumor
das espigas,
respirar
a doçura
escuríssima das silvas.
Corpo de mil
bocas,
e todas fulvas de alegria,
todas para sorver,
todas para morder até que um grito
irrompa das entranhas,
e suba às torres,
e suplique um
punhal.
Corpo para entregar às lágrimas.
Corpo para morrer.
Corpo para beber até ao fim –
meu oceano
breve
e branco,
minha secreta
embarcação,
meu vento favorável,
minha vária, sempre incerta
navegação. (O.
D.)
LINHAS DE LEITURA:
—Veja como duas
das principais linhas de sentido do texto se
condensam no título:
«Corpo»
é um lugar, na lª estrofe percorrido (pelos «dedos» –
v.3, «de colina em colina» – v. 6, v. 8); na
2ª estrofe dito «onde» –vv. 11 e 12, e
«onde entro em casa» – v. 11; na 3ª estrofe lugar das
«mil bocas»; na 4ª estrofe «oceano» – v. 28 e «embarcação» – v.
30.
«Habitação»
define
o lugar do corpo como casa, que, porque habitada,
é um espaço vital, de conforto,
protector, íntimo, privado (cf. vv. 4, 11, 13, 15, 30).
— Note
o animar do «corpo» pelo percurso do Eu que,
começando por estar ausente/presente na lª estrofe,
aparece na 2ª denotado (vv. 11 e 12), se funde
no corpo do outro na 3ª estrofe (no
«grito» comum; no «punhal» fálico, símbolo da fusão erótica;
no «entregar às lágrimas» – água ou esperma?; no
«morrer» do orgasmo), e claramente revela
a posse/dádiva do «corpo»
na última estrofe («meu»/«minha»
inicia quatro versos).
—Note ainda a progressiva presença da água:
na lª estrofe «Corpo num horizonte de água»
– água visível mas longe, porque o corpo está
«defendido», é necessário vencer o obstáculo (as
«colinas»), ainda só «humedecido» (v. 7); na
2ª estrofe a água pressente-se no «jardim», no «sugar»; na
3ª, a água junta-se ao fogo (vv. 18/19 – «bocas fulvas
de alegria») e «irrompe» até às «lágrimas» ou ao
«morrer» orgasmático;
no fim do texto já o corpo é dado como contentor
e continente líquido, como «oceano» que pode
«navegar», mas é-lhe conferido também carácter activador
do Eu (v. 31 – «meu vento favorável»)[10].
Metáfora da navegação:
Há uma
trajectória erótica em que a penúltima estrofe dá conta do momento orgasmático
e a última estrofe corresponde
ao momento de calmaria e
o permanente estado de partida, de viagem (o
errático da pulsão).
Temos assim a metáfora do corpo navegável
(por onde se navega) ao corpo, ele próprio, meio de acesso à viagem. Tanto a via (breve e branca), quanto ao meio (secreto),
demarcam um alinha íntima do horizonte. O metaforismo
pode alargar a interpretação dessa linha a
uma abertura de sentidos – enquanto rota do desejo (vária,
incerta)[11]
Próximo deste poema
encontra-se «Arte de Navegar», cujo
título faz lembrar
a Arte de Amar de
Ovídio.
No
poema há uma metáfora
continuada corpo/água;
viagem/desejo:
Vê como
o verão
subitamente
se faz água
no meu peito,
e a noite
se faz barco,
e a minha
mão marinheiro.
Mais à frente
no livro em
dois poemas ocorre
a chave (desambiguação) da metáfora: o «alto
e navegável /golfo do desejo»
e «amor: mortal e navegável». Metáforas que
aparecem um pouco
por toda
a obra. Dois exemplos; em As P.I., no poema 12 «É a hora
de adormecer na tua boca,
/ como um
marinheiro num barco
naufragado» e em A.A., no poema 18: «o peito
raso, claro,
feito de água;
/ a boca sossegada onde
apetece // navegar ou cantar, ou simplesmente
ser / a cor
dum fruto, o peso
duma flor.»
símbolos cíclicos, segundo Northrop Frye:
Estações do ano
|
Períodos do dia
|
Ciclo da água
|
Períodos da vida
|
Primavera
|
Manhã
|
Chuva
|
Juventude
|
Verão
|
Meio dia
|
Fontes
|
Maturidade
|
Outono
|
Tarde
|
Rios
|
Velhice
|
Inverno
|
Noite
|
Mar ou neve
|
Morte
|
A água
funciona como agregadora, operando a unificação das fragmentações
de um corpo
descentrado e estilhaçado.
Leitura
orientada de poemas de Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade e o universo elemental da
metáfora.
Sugestões bibliográficas.
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poesia de Eugénio de Andrade de Primeiros Poemas a Ostinato Rigore». Textos e
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VV. AA. (s.d). 21 Ensaios sobre Eugénio de
Andrade. Porto: Editorial Inova.
“A metáfora em Eugénio de
Andrade” - apresentação crítica, seleção, notas e sugestões para análise
literária da lírica de Eugénio de Andrade, por José Carreiro. Folha de
Poesia, 2018-04-23. Disponível em: https://folhadepoesia.blogspot.com/2018/04/a-metafora-em-eugenio-de-andrade.html (1.ª edição:
http://lusofonia.com.sapo.pt/literatura_portuguesa/eugenio_de_andrade.pdf,
2009-04-18)
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